muito curiosamente contra o Governo e sempre foram, num país de sistema administrativo como o nosso, os governadores civis da confiança do Governo que representam. Cito o caso de Faro; essa mudança é classificada, mais do que premeditadamente, como saneamento à esquerda.

Eu pergunto se na realidade um governo democrático não pode ter representantes locais da sua confiança.

O Sr. João Gomes (PS): - Muito bem!

O Orador: - Tudo isto e muito mais que alguns jornais que todos pagamos, e bem caro, mas muito poucos lemos, e só os lemos no meu caso por mero dever de ofício, não são actos isolados, mas são peças de uma manobra conjunta, tendente a obter algo que não poderia ser obtido directamente e com o apoio do povo, ou seja, o Governo.

Contesta-se, e esses órgãos disso fazem grande eco, a presença do meu partido no Governo. Um articulista ontem, no Século, brindou-nos com o adjectivo de "aberração histórica". Resta-me a mim perguntar se 27% dos portugueses serão uma aberração em Portugal, resta-me a mim perguntar ao futuro se os números que, se chegar a haver alguma campanha eleitoral neste país, nós obtivermos serão também uma aberração. Vai mal uma revolução que pretende marginalizar uma grande maioria dos portugueses, essa marginalização passa por uma larga campanha, que no tempo coincide com o apoio, cada vez mais manifesto, que o meu partido consegue obter das populações.

São as grandiosas manifestações de apoio popular, que de Norte a Sul do País temos conseguido, que nos põem neste momento como alvo principal de todos os ataques. Por alguma razão o PPD é o primeiro a afastar, segundo os desejos desses senhores, mas estou seguro, e a experiência histórica assim mo indica, não seríamos os únicos, os segundos que estão até bastante bem representados nesta Câmara. Talvez, porventura, fossem confundidos com alguns outros, é o caso, por exemplo, do democrático país chamado Bulgária. Qual é a estratégia que coincide com a extrema esquerda também da direita? Ambas pretendem exactamente o mesmo.

Qualquer governo democrático que governe, que não consiga, nem sequer minimamente, tranquilidade e resolver os problemas candentes deste país, não lhes serve: As estratégias são coincidentes. E não podendo obter o Poder por meios democráticos, pensa obter esse Poder por quaisquer outros meios. Esses outros meios, face à recusa de mais de 80 % da população, não podem ser senão os violentos. Será a altura para esses senhores dizerem que a luta de classes em Portugal passou à fase violenta.

Nós sabemos bem o que significa para o País esta expressão. Tentámos, e tentaremos sempre, que não seja uma realidade. Mas lamentamos constatar que aqueles que pelo seu passado histórico, e até pela soma de sacrifícios que deram pela liberdade deste país, tomem ou uma posição de silêncio ou até uma posição de cumplicidade perante tudo isto.

O povo, nos seus julgamentos, é bastante claro, e o vosso resultado eleitoral é mais do que significativo.

Espero que o próximo resultado eleitoral mais indique, e ainda com mais clareza, em que consideração vos tem. Entrementes, o que é grave, é que se jogue um país desta maneira e que seja possível que a estratégia de um partido com as vossas tradições, e de alguns apêndices que atrás de vocês rolam, coincida com todos aqueles que em Espanha se tiveram de acoitar à legítima fúria do povo português.

Finalmente, os tão tradicionais inimigos do capital monopolista coincidem, em estratégia, com os seus lacaios, porque, como disse com bastante curiosidade esse articulista que já citei, "0 meu secretário-geral seria o advogado de stablishment do monopólio", eu dir-vos-ei que o vosso secretário-geral, também de formação jurídica, é o secretário do stablishment do oligopólio da desordem.

É o que o Partido Popular Democrático diz e dirá.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Estás à rasca!

O Orador: - E, por isso, é incómodo, continuará a sê-lo sempre.

Dir-vos-á a essa bancada, como aos senhores, como aos senhores que tiveram de se ocultar em Espanha, dir-vos-á que se lhes oporá, não só denunciando-os, como de todas as outras maneiras, que um povo que tem direito à liberdade merece que um partido democrático o respeite.

Tenho dito.

(O orador não reviu e fez a sua intervenção na tribuna.)

Aplausos.

Uma voz:- Viva o ELP!

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Estás à rasca!

Uma voz: - Cala-te.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Pinto.