Portugal isso já se verificou até com tendência para o unipartidarismo; existindo como existe já entre nós um amplo sector público, esse perigo reside em que essa classe em vez de desapossar-se do seu poder e privilégios os queira antes ver aumentados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- É que aquela nova classe dominante ou paradominante ou em emersão pode até deixar escapar das suas mãos uma boa parte da mais-valia, mas não deixa escapar o poder.

Conseguindo-lhes a propriedade básica, não será fácil ou, pelo menos, tão fácil como se pensa que a posse útil lhes fuja das mãos.

Se as experiências alheias nos servem para alguma coisa, atente-se que Milovan Djillas não renunciou à sua análise mesmo depois das experiências autogestionárias jugoslavas e, apesar da torrente de preceitos que a Constituição jugoslava contém sobre essa matéria, da autogestão da propriedade estatal.

Repare-se também que, a história mostra-o, as tecnoestruturas entraram em luta contra os apparatchiks, burocratas, na Hungria, na Polónia e na Checoslováquia. Mas na Jugoslávia estão-se socorrendo justamente do poder e do aparelho estatais para não perderem nem o seu status nem os seus privilégios. São factos para meditar.

III.5- Estas questões - que são poucas,

Vozes:- Muito bem! Apoiado!

IV - Socialização e democracia:

Ponto prévio para abreviar questões, deseja-se relembrar que o Partido Popular Democrático nunca se opôs ao contrôle de gestão regulamentado em lei própria, que assim não seria factualmente incompatível com a co-gestão e com a co-propriedade. Fique este assunto para desmentir antecipadamente falsas afirmações.

Posto isto, retomemos a análise de Mandel. É liminar a verificação de que ela assenta no suposto da existência, no mundo contemporâneo, de duas e só duas classes antagónicas: os proletários e os capitalistas que por definição e doutrina não podem convergir.

E tem de ser assim, porque senão abria falência necessariamente a dinâmica dialéctica marxista.

Desta forma é essencial que um dos pólos, o dominado, controle e vigie até à tomada da gestão no momento adequado, sem nunca assumir qualquer corresponsabilidade com o outro pólo, nem sequer por interpostos managers profissionais. Rejeita também necessariamente a ascensão progressiva da responsabilidade e da propriedade, porque nunca haveria, pensa ele, a ruptura, o afrontamento final exigível pela mudança qualitativa. E percebe-se que isso não caiba na escrita ortodoxia marxista em que o autor em questão se filia mesmo como trotskista, porque nessa ortodoxia a sociedade está arrumada em duas classes antagónicas ... e todo o ser humano tem dogmaticamente de fazer a sua opção de classe, ou seja, entre estas duas classes.

Pois bem, aqui diferimos na análise de fundo. Para nós a sociedade não se arruma unicamente em duas classes antagónicas e conflituais. O antagonismo e a luta de classes são hoje reconhecidas como existentes, mesmo nas sociedades ditas socialistas - até mesmo na China.

Aí se formam e reformam classes dominantes, classes dominadas, classes intermédias e mesmo classes intermediantes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para nós a definição de classe e a avaliação do seu antagonismo conflitual não está em terem ou não terem capital, mas em terem ou não terem poder e, comando.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador:- E está provado na história deste século que, mesmo não detendo capital mas detendo o comando do capital, se formam classes e se formam até castas, podem até formar-se castas que se renovam por cooptação, conforme o admite cada vez mais a moderna sociologia, pelo menos a moderna sociologia, a não moscovita.

Também não negamos as lutas e conflitos de classe. Mas acreditamos também, para reeditar uma bela frase de Perrault, que "o progresso social tem lugar através de conflitos sucessivamente superados".

E as formas de superação não têm de ser sumariamente violentas.

A Sr.ª Helena Roseta (PPD): - Muito bem!