A esta Assembleia Constituinte exige-se - exige-o o povo português - que, para além da responsabilidade histórica de fazer uma Constituição que defina as linhas mestras do socialismo português, esse trabalho seja caracterizado por competência e eficiência.

Vozes: - Muito bem!

Gargalhadas.

O Sr. Casimiro Cobra (PPD): - Complexos!

Como disse, a minha finalidade é fazer uma pequena estatística do absentismo dos Srs. Deputados.

E faço-o, pelo menos, com um duplo direito. Em primeiro lugar, porque, nos cinco meses de funcionamento desta Assembleia, apenas faltei a uma sessão; em segundo lugar, porque não me sinto pessoalmente responsável pelo atraso dos trabalhos, já que nunca me deixei arrastar pela tentação de cair em narcisismos verbalistas, nem alimentar discussões estéreis.

Foi, pois, verificando nos Diários a lista das faltas dos Deputados que fiz as constataç5es de que vou dar-vos conta. Mas diga-se desde já que, entre o momento da chamada o final das sessões, à medida que os ponteiros do relógio vão avançando na tarde, vão também arrastando com eles parte dos constituintes.

E de tal modo que, muitas vezes, dos 25O, nem metade fica na sala quando o relógio se aproxima das 20 horas.

Mas, Sr. Presidente e Sra. Deputados, vamos aos números.

Os elementos que recolhi dizem respeita a 65 sessões.

Se todos os Deputados tivessem comparecido sempre, teríamos tido um total de 16 25O presenças. Pelo contrário, nas sessões a que me referi, registaram-se 2374 faltas, o que corresponde a um absentismo médio por sessão de cerca de 15 %. 15to é, faltam em média, a cada sessão, cerca de 4O Deputados.

Vejamos agora, ao longo destes cinco meses, qual é a curva do absentismo.

Verifica-se que, à medida que os meses passam, os Deputados faltam cada vez mais.

Assim, se em Junho faltavam, em média, 14 Deputados por sessão, em Julho já este número tinha duplicado. Em Agosto o número de faltas por sessão subia para 40, em Setembro para 42 e, finalmente, em Outubro, já vamos numa média de 46!

Até aqui tenha dado os números do absentismo apartidário.

Vamos agora ver, em relação a cada partido, como vão as coisas.

Durante os cinco meses de funcionamento desta Assembleia, verifica-se que há partidos cujos Deputados vão faltando cada vez mais e, pelo contrário, outros que já foram menos assíduos do que actualmente.

Uma voz: - Graxa!

O Orador: - Assim, verifica-se que, enquanto o PCP, o MDP/CDE e a UDP atingiram o máximo de absentismo no mês de Agosto, todos os outros, com largo relevo para o PPD, vão faltando cada vez mais.

No caso dos três primeiros partidos que citei, o sem querer daí tirar alguma conclusão, verifica-se que Agosto, mês esse em que esses partidos mais ausentes estiveram desta Assembleia, foi também o mês da ascensão e queda do "gonçalvismo" o do V Governo.

Em relação aos outros, como disse com largo relevo para o PPD, verifica-se, por exemplo, que este partido faltou, em Outubro (que ainda não terminou), cinco meses mais do que em Junho.

Sem querer tirar também qualquer conclusão, verifica-se que, coincidindo com este incremento absentista, o mesmo partido mudou de comandos políticos, pelo menos a nível de secretário-geral, o que, compreensivelmente, é sempre acontecimento crítico no interior de um partido jovem o com pretensões políticas, como aqui foi afirmado por um seu Deputado.

Seria 4aIvez caso para perguntar até que ponto o PPD estará ou não interessado em que esta Constituição, isto é, que esta Constituição socialista, se leve a bom termo antes do prazo.

O Sr. Alfredo Sousa (PPD): - Dá-lhe!

Burburinho.

Uma voz: - Só sabes receber a guita, não!?

O Orador: - Finalmente, Sr. Presidente, Srs. Deputados ...

Burburinho.

Uma voz: - Cala-te!

O Sr. Kalidás Barreto (PS): - A burguesia agita-se!

O Orador: - Se me dessem licença, eu continuo, até porque estamos na hora.