O Sr. Presidente: - Poderá responder, Sr. Deputado, como é do seu direito.

O Sr. Pires Morais (CDS): - Sobre esse ponto, já conversei com a Sr.ª Deputada há duas semanas ou três.

Sem dúvida nenhuma que o erro maior, na minha opinião, está na falta de preparação de professores primários ...

... porque são obrigados, de facto, a um esforço para o qual não estão preparados.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Eu sei a dificuldade que há: primeiro, eu não falei em «espalhar a fé», como a Sr. Deputada disse. Desculpe; na verdade eu falei só de factos, é preciso muito esforço e é preciso uma certa inteligência. Portanto, tem de partir do professor, antes de mais ninguém. Eu sei que há dificuldade, e conheço de facto os meios rurais tão bem, pelo menos, como a senhora. Com certeza, não quero conhecer mais.

Eu sei perfeitamente que, se vamos a Trás-os-Montes e falamos no mar, há uma dificuldade tremenda, até para eles compreenderem.

Eu sei, que eu fui oficial miliciano para Macau, e quando chegámos ao Tejo, os soldados que vinham de Bragança disseram: «Ah! Isto aqui é o mar, do outro lado é o Brasil!»

Portanto, eu compreendo isso, mas aquilo que eu fiz não foi deixar de facto de dizer não, nem lhes expliquei que era rio nem mar. Desisti?

Não, não desisti, minha senhora.

Tentei explicar-lhes o que era o mar e o que era o rio e esses homens que foram para lá, sem a 4.ª classe, vieram todos com a 4.ª classe, com excepção de dois que não tinham capacidade.

Uma voz: - Morreram afogados...

O Orador:- Já tinham perto de 50 anos. Quer dizer, o que nós temos de fazer todos é elevar a educação da infância. Porque não acho, de facto, que seja bem nivelar tudo por baixo, quer dizer, desistir da História, desistir de Geografia. Como é que nós podemos explicar Geografia se eles só conhecem a sua aldeia? Temos de fazer esforço para que eles compreendam a Geografia, fazer esforço para que eles compreendam a História. Dar-lhes comparação, apresentar-lhes tudo em comparações.

É claro que a senhora tem muita razão, mas o problema é este: se nós começarmos a desistir e a nivelar tudo por baixo, dentro em pouco, de facto, seremos um país desgraçado, mais desgraçado do que já somos hoje. Não sei se lhe respondi, se não respondi, faz favor...

O Sr. Presidente: - Ainda restam quatro minutos.

Creio que nenhum dos Srs. Deputados inscrito aceitará este limite, este prazo de tempo. Posso considerar encerrado o período de antes da ordem do dia, e vamos passar, então, à ordem do dia.

Peço desculpa. Tenha a bondade, minha senhora.

A Sr.ª Fernanda Seita (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Já passaram dezoito meses sobre o primeiro dia da nossa revolução, chamada a «revolução dos cravos».

Mas hoje também se poderia dizer que muitos desses cravos têm sido usados e calcados por muitos oportunistas.

Eu vi aparecerem indivíduos que nunca se preocuparam com os trabalhadores, e cuja mira sempre foi a conquista de um «tacho», aparecerem à frente dos trabalhadores, apenas movidos pelo despeito e rivalidade para com aqueles que detinham os lugares por eles ambicionados, manobrando os trabalhadores para chegarem a lugares que não tinham conseguido pelo servilismo antes do 25 de Abril.

Eu vi os trabalhadores serem enganados por estes «falsos revolucionários», pois as suas intenções não eram melhores que as dos anteriores e a competência ainda era inferior.

Eu vi os capatazes e os lacaios da capital com as vestes mais progressistas, com a única intenção de não perderem privilégios anteriores.

E pensei que se de facto fossem tantos os revolucionários, como tinha sido possível quarenta e oito anos de ditadura - não, não podia ser, muitos eram com certeza fingidos.

E quem perdeu?

Foi a Revolução e foi o povo.

As infiltrações, as manobras, têm dividido, confundido e perturbado as massas trabalhadoras, a espírito do l.º de Maio de 1974 foi destruído e com ele a unidade, que era a melhor arma para a conquista do socialismo.

E agora o que observamos?

Que em cada dez ditos revolucionários, nove foram da Mocidade Portuguesa, Legião ou DGS.

Que entre aqueles que proclamam morte ao ELP e a quem o apoiar, existem infiltrações do próprio ELP.

Que entre os que acusam que a Revolução se faz nas costas do povo, existem estrangeiros que em nada lhes interessa o nosso povo.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.