sabemos. Entretanto não deixarei de dar a palavra a alguém que deseje pronunciar-se a respeito desta questão.

Pausa.

Tenciono hoje mesmo efectuar a diligência em causa. Se algum dos Srs. Deputados quer pronunciar-se a esse respeito, faça favor.

Pausa.

Então, vamos dar a palavra aos oradores inscritos.

Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Soares.

Aplausos, enquanto o orador se dirigia para a tribuna.

alimentado ilusões quanto à possibilidade de circunscrever o processo de descolonização no âmbito de uma espécie de Commonwealth Português. Nós, socialistas, nunca tivemos dúvidas a esse respeito e sempre pensámos que a descolonização só poderia ter como consequência final o reconhecimento completo da independência das nossas antigas colónias - e quanto mais rapidamente e mais sinceramente pudesse ser negociado esse reconhecimento melhor seria para a salvaguarda dos legítimos interesses portugueses.

Como se sabe, houve algumas tergiversações nessa linha de orientação, certas travagens e dificuldades de última hora, mas no essencial podemos hoje afirmar que a descolonização se fez num tempo record e com um espírito de fraternidade, compreensão e de respeito mútuo, entre Africanos e Portugueses, que mereceu a admiração de observadores objectivos internacionais de todas as orientações ideológicas. Tanto nas diversas instâncias da ONU como na OUA, isso mesmo foi amplamente reconhecido e está na origem da inegável situação de prestígio que Portugal imediatamente conquistou no Mundo.

Nota-se, porém, que os responsáveis e os negociadores portugueses, ao efectivarem na prática a política de descolonização, não se determinaram por critérios ideológicos. O objectivo era pôr um fim rápido à guerra guerra que estava virtualmente perdida, em Abril de 1974, repito - e para isso era necessário negociar com quem fazia a guerra, e não com organizações mais ou menos marginais criadas à pressa com a intenção de compor a paisagem política de certas colónias. Foi assim que procedemos, tendo como únicos interlocutores o PAIGC e a Frelimo, relativamente à Guiné-Bissau e a Moçambique, e foi pela mesma razão que em Angola tivemos que entrar em linha de conta, para além das nossas preferências ideológicas, que não estavam em causa, com os três movimento que coexistiam militarmente no terreno: o MPLA, a FNLA e a UNITA.

Pode hoje dizer-se - como aqui foi on tem insinuado - que as nossas antigas colónias, com a excepção porventura de S. Tomé e Príncipe, são agora orientadas por regimes de partido único de tipo democracia popular. É exacto. Mas são também regimes de expressão autenticamente africana, bem aceites por toda a África, e em especial pela África progressista. Em 1974, depois dos .crimes e dos erros praticados pelo fascismo, Portugal não tinha outro caminho senão reconhecer os movimentos verdadeiramente representativos, independentemente das suas orientações ideológicas como o fez, a menos que quisesse enveredar por formas neocolonialistas que iriam, aliás, servir interesses de imperialistas estranhos aos interesses portugueses.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.