... por maioria de razão nas dramáticas condições actuais.

(O orador não reviu.)

O Sr. Manuel Gusmão (PCP): - Só essa é que me faria rir...

O Sr. Presidente: - Vamos prosseguir com intervenções marcadas para hoje.

Tem a palavra o Sr. Deputado António Arnaut.

O Sr. António Arnaut (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, colegas e camaradas: Depois das palavras serenas e lúcidas do meu camarada Mário Soares, que, ao assumir o seu lugar nesta Assembleia, assumiu ao mesmo tempo as suas responsabilidades perante o País, que mais vos poderá dizer outro Deputado do Partido Socialista!? Pouco ou nada, mas talvez alguma coisa em que valha a pena meditar.

As forças armadas fizeram o 25 de Abril e restituíram Portugal aos Portugueses. Cumpriram o seu dever e reabilitaram-se de um longo passado de demissão ou cumplicidade.

Não temos que agradecer às forças armadas. terem assumido a sua responsabilidade, depois de cinquenta anos de amarga submissão, pois, como disse há dias o meu camarada Salgado Zenha, a gratidão não existe nos países democráticos».

Povo que são, é dever e honra das forças armadas estarem ao lado do povo, das classes trabalhadoras e oprimidas. Porque a Revolução não pode fazer-se sem o povo e, muito menos, contra párias ...

O símbolo da Revolução tem de continuar a ser o cravo, ,e não o «chaimite» ou a «G-3». Não queremos um socialismo militar ou militarizado. Queremos um socialismo à paisana ...

Não é o povo que tem de fazer continência ao Sr. Major Dinis de Almeida ou apresentar armas ao Sr. General Otelo ou ao Sr. Almirante Rosa Coutinho.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estes senhores é que têm de perfilar-se perante o povo. Se são revolucionários ...

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nenhum militar pode estar à espera de montar o cavalo do Poder. porque o Poder é do povo e o povo não dá cavalaria!

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Dizer que o Povo é reaccionário e não sabe o que lhe convém, é dizer que o povo não merece a Revolução e que o 25 de Abril não foi uma festa, mas um enterro.

Em 25 de Abril de 1974 o povo veio para a rua e foi ele que deu a «alma» à Revolução. Sabia muito bem o que queria e por isso logo gritou, maravilhado e liberto, entre risos e lágrimas: «O povo está com O MFA. » É preciso, imperioso e urgente que esse grito repercuta nesta resposta: «O MFA está com o povo!»

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Assim faremos a revolução socialista e democrática. Quem não compreendeu isto não é revolucionário. Quem, nesta fase da Revolução, depois de largas espontâneas e esmagadoras manifestações populares de apoio ao VI Governo, ainda confessa a sua «angústia» e se interroga sobre os caminhos que o povo quer trilhar, quem, apesar da anarquia e indisciplina de certos sectores das forças armadas, ainda se atreve a manifestar publicamente a sua complacência à desobediência militar e à posse de armas nas mãos de bandos irresponsáveis, que servem, objectivamente, a reacção fascista, ou é inconsciente ou está a mais na Revolução!

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - E se tiver dúvidas, que pergunte ao povo, que percorra os campos, as cidades, vilas e aldeias de Portugal, que o povo lhe dirá o que sente e o que quer! Isso é que era verdadeiramente revolucionário!

Vozes de protesto.

E se o Sr. Deputado que me interrompeu tiver também estas dúvidas, que faça igualmente como eu disse, que percorra este País real, este povo concreto que nós temos, com as suas tradições, a sua alma, a sua vontade, e então fica a saber o que quer o povo, se de alguma coisa lhe importa a vontade do povo.

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Srs. Deputados: A revolução não se faz contra o povo.

O Sr. Manuel Gusmão (PCP): - Qual povo?