O Sr. Presidente: - Calma, Srs. Deputados.

A Oradora: - ... se o Partido Comunista ...

O Sr. Presidente: - Calma.

A Oradora:- ... se o Partido Comunista ...

Manifestações.

... se o Partido Comunista, ou qualquer outra minoria dita de extrema esquerda, perante a passividade das autoridades militares de Lisboa, aproveitar qualquer golpe (real ou inventado) da direita contra-revolucionária para, num contragolpe, tomar o poder em Lisboa, assaltando Ministérios ou de qualquer outro modo, sabemos que o povo de todo o País lhe responderá de imediato, derrubando a pretensa comuna de Lisboa, como derrubou o Governo minoritário de Vasco Gonçalves.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

A Oradora: - Mas as intenções podem não ser as de realizar qualquer golpe ou contragolpe com hora marcada. A táctica seguida até aqui revela antes uma intenção de realizar um golpe em "câmara lenta", pelo desmantelamento progressivo da economia e pela criação de um clima psicológico de desgaste, de terror t de insegurança que leve o povo ao desinteresse, ao descrédito e à passividade, permitindo então sim, por um golpe palaciano e com a cumplicidade de certos militares bem conhecidos, a tomada do Poder.

Uma voz: - Foi o que vocês fizeram.

A Oradora: - Mas não esqueçam os Srs. Deputados que foi essa táctica, seguida pelo Partido Comunista Alemão, em 1930, que abriu as portas ao nazismo.

Burburinho.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Queria ainda referir-me às manifestações deste fim de semana. O Partido Comunista reuniu, segundo aqui afirmou, centenas de milhares de pessoas em Lisboa, servindo-se para isso dos órgãos de informação nacionalizados. Isso pode ser verdade. Mas verdade é também que em todo o País, no sábado e no domingo, muitas mais centenas de milhares de pessoas manifestaram o seu apoio ao VI Governo Provisório.

Vozes: - Onde?

Manifestações.

A Oradora: - A questão não se põe em saber mais milhares para, aqui e mais milhares para ali; não vale a pena fazer estatísticas, porque, nestas ocasiões os únicos números que interesam são os resultados das eleições livres e democráticas.

Manifestações diversas.

Aplausos.

Eu queria reafirmar aqui que os verdadeiros democratas. respeitam e respeitarão sempre a liberdade de cada um se manifestar no sentido que entender, desde que o faça ordeiramente, sem pôr em causa as liberdades de todo o povo. O que é inadmissível é servir-se de trabalhadores que vivem mal para sequestrar a Assembleia Constituinte e o Primeiro-Ministro.

Vozes de protesto.

Sejamos bem claros. Há aqui Deputados que parecem muito preocupados com problemas de viragem à direita do Governo; parece até que às vezes fazem algumas confusões nas suas qualificações; eu chego-me a perguntar se não existem entre eles muitos canhotos ou disléxicos.

De qualquer modo, sejamos bem claros. O problema é o seguinte: é que não há construção do socialismo se um Governo cede a chantagens, venham elas de onde vierem. Não há construção do socialismo se as liberdades democráticas estão ameaçadas.

O Sr. Herculano de Carvalho (PCP): - Vem dos Açores ...

Manifestação na Sala.

O Sr. Presidente: - Sr.ª Deputada tem dois minutos.

Manifestação na Sala.

Calma Srs. Deputados! A Sr.ª Deputada tem dois minutos para falar.

A Oradora: - A questão que eu ponho é a seguinte: pode haver, e há, neste hemiciclo diferentes posições quanto ao caminho a seguir na construção do socialismo. A posição do nosso partido é conhecida, nós defendemos a via social-democrática. Mas uma coisa é corta: é que se a democracia está em perigo, se a guerra civil ou a ditadura são as alternativas, eu penso que todos os democratas, todos os que desejem sinceramente para o nosso país um futuro livre, mais justo e mais humano, devem estar unidos. O nosso povo e a nossa história não perdoarão aos que hoje abrirem brechas na unidade democrática.

O PPD, consciente da sua responsabilidade histórica neste momento ...

Manifestações na Sala.

O Sr. Herculano de Carvalho (PCP): - Unidade de esquerda e não de direita ...

A Oradora: - Olhe, o senhor desse lado tem uma visão de esquerda e direita que é exactamente inversa a que eu tenho deste lado. É melhor estar calado.

O Sr. Presidente: - Calma, Srs. Deputados. Deixem ouvir a oradora.

O Sr. Vital Moreira (PCP): - Para vocês a esquerda é o ELP ...

Manifestação na Sala.