concentrou em frente do Palácio de S. Bento? Aquele que esteve no domingo no Terreiro do Paço? Então não é povo trabalhador aquele que moureja em terras da Beira, de Trás-os-Montes? É povo trabalhador aqueles tantos que abandonando ministérios e repartições, pelo meio da tarde, vêm engrossar as fileiras dos profissionais das manifestações e acabam pelas 4 horas da manhã nas boîtes de Cascais?

Ou é povo trabalhador aquele que, sem domingos nem feriados, sem salário mínimo nem reivindicações, continua a lavrar a terra, a produzir o leite, a construir a casa? É esse povo sacrificado e explorado que me manda aqui perguntar: para quem se fez a Revolução? É o povo do Norte, do Centro e do Sul do País que exige que aqui seja dito que a Revolução impõe-se pelo apoio do povo - das maiorias, e não das minorias.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Senão, Srs. Deputados, chegaremos ao momento em que o povo esteja contra a Revolução e a Revolução contra o povo.

É preciso evitar esse momento.

Para tanto, Srs. Deputados, deixemos de fazer demagogia, aqui dentro ou lá fora, porque é ela que aliena o povo, mesmo quando se pensa captar a sua simpatia ou apoio.

A semana passada foi prova disso.

O que se passou em Lisboa esteve em contraste flagrante com o que se passou no resto do País. Enquanto em Lisboa eram organizadas e orquestradas manifestações, comícios e sequestros, de norte a sul do País assistiu-se à reprovação, à condenação, ao repúdio de tais atitudes.

Na Guarda, por exemplo, terra de características especiais de todos conhecidas, em que os próprios artistas de teatro se queixam da frieza do público, vieram para a rua milhares de pessoas a um simples convite do Partido Socialista e manifestaram-se bem calorosamente, com vibrante entusiasmo no seu repúdio pelo que estava a acontecer em Lisboa. E não foi uma semana que o Partido Socialista levou a organizar a manifestação, nem pôs carros à disposição de ninguém, nem pagou gasolina, nem fez ameaças.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora:-... - a manhã de sábado, com a distribuição de simples panfletos, foi o suficiente para que a população viesse para a rua. Podemos dizer que é do conhecimento da realidade, o conhecimento da vontade do povo, que levou o PS a tomar a iniciativa da manifestação, tais manifestações podemos dizer que são verdadeiramente espontâneas.

Vozes: - Muito bem!

esta sua afirmação: que sairia da Assembleia Constituinte quando saíssem todos os Deputados e funcionários que seria o último a abandonar esta Casa. Quando nos foi dito que poderíamos sair e nos foi pedido, em nome do Sr. Primeiro-Ministro que abandonássemos o Palácio, o Prof. Henrique de Barros foi, naturalmente, o último a sair. Se os Deputados não se preocuparam muito em exigir medidas de segurança para essa saída é porque não têm medo do povo, e saíram pelo meio desse mesmo povo. Mas lá estavam os profissionais da provocação, insultando-os.

E quando o Prof. Henrique de Barros, já no largo, foi vexado, ,no seu passado antifascista, no seu presente de Deputado e Presidente da Assembleia Constituinte, e teve de regressar ao Palácio, eu pergunto: porquê a ele?

Porquê ao Presidente da Assembleia Constituinte se insulta? Que tem o povo contra ele? Ou então, não era o povo, não eram os trabalhadores que ali estavam, seriam as apregoadas vanguardas pseudo-revolucionárias, que conscientemente tinham ordens para desprestigiar o homem que representa o único órgão de Soberania eleito pelo povo.

Vozes: - Muito bem!