O Orador: - Como disse em declaração de voto o proponente, o facto de apresentar uma proposta defendendo para o futuro de Espanha, para esta nação vizinha de Portugal, uma democracia, implica já, directamente, a condenação do regime fascista implantado por uma guerra civil que tanta dor trouxe ao povo espanhol, guerra civil que eu não desejo, de maneira nenhuma, para o. povo português.

Uma voz:- Estás a provocá-la!

Outra voz:- O teu partido está a promovê-la.

O Orador - Porque a conheço, porque sei o que é uma guerra civil ...

Agitação na Sala.

... porque sei a dor que pode trazer a um povo, e de maneira nenhuma eu desejo para o meu país uma guerra como aquela que devastou o povo espanhol.

Agitação na Sala.

O Sr. Presidente: - Pede-se aos Srs. Deputados para não interromperem.

O Orador: - Por que estais preocupados, senhores? Por que se defende a liberdade e a democracia do povo de Espanha? Também nós aqui temos o dever de defender a democracia do povo português ...

Uma voz: - Qual?

O Orador: e fazê-lo-emos, seguramente, se for preciso, com armas na mão!

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E fazemo-lo precisamente para caminhar para uma sociedade socialista sem classes, onde o homem seja absolutamente livre, onde não apareçam nem Soljenitsines nem Sakharovs.

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

Uma voz: - Reaccionário!

O Orador: - Eu não compreendo bem, porque não ouço bem as interrupções dos Deputados comunistas. Mas, seja qual for o sentido que lhes queiram dar, não há dúvida nenhuma de que elas têm um significado para mim. Aquele mesmo significado sobre o qual o velho Babel, o grande socialista alemão, dizia: «Ah! Se manifestações dessas fossem favoráveis àquilo que eu digo, é porque eu tinha, cometido algum crime!»

Não há dúvida, nenhuma, Srs. Deputados, Sr. Presidente, que durante quarenta e dois anos de exílio eu combati ao lado de todos os portugueses que desejaram derrubar a ditadura portuguesa, ao lado dos comunistas, no comité para a defesa das liberdades. Digo bem: para a defesa das liberdades em Portugal.

O Sr. Presidente: Sr. Deputado: Peço desculpa por interromper mas ...

O Orador: - E, depois, deu-se um episódio triste. O Partido Comunista, ou melhor, os elementos do Partido Comunista que se encontravam em Paris puseram-se, ou melhor, destroçaram esse comité unicamente dirigido para a liberdade do povo português.

Esta ,proposta do CDS mereceu, portanto, a nossa aprovação, e o Partido Popular Democrático, em todas as condições e em todos os momentos, aprovará sempre propostas em defesa da liberdade:

(O orador não reviu.)

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Creio que somos multo poucos, nesta Câmara, aqueles que, pela sua idade, viveram, angustiados, as horas cruciais da guerra de Espanha. .A esse número pertenço, e, portanto, é com emoção que assisto a este voto no sentido de que seja restaurada a democracia em Espanha..

Aplausos de pé.

Segue-se, no uso da palavra, o Sr. Deputado Avelino Gonçalves. Estamos .muito próximos do fim do período, de forma que lhe pediria para abreviar a mais que pudesse.

O Sr. Avelino Gonçalves (PCP): - Sr. Presidente: Agradecia o favor de me informar do tempo que poderei dispor, porque, realmente, a intervenção ...

O Sr. Presidente: - O tempo de que dispõe seria de sete minutos, que, eventualmente, poderá prolongar-se um pouco.

O Orador: - Bem, certamente terei de prolongar para além dos sete minutos, mas se V. Ex.ª me dá licença, então ...

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado não precisará de mais do que de dez minutos?

O Orador: - Creio que não, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sm Deputados: A transformação do sistema económico e a resolução dos problemas por ela levantados é essencial ao desenvolvimento e triunfo da Revolução Portuguesa.