não souberam actuar como actuou, com a capacidade e brilho militar e humanidade, o Regimento de Comandos da Amadora.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - É este o mais instante dever das forças armadas e o maior desejo do povo português. Torna-se necessário, assim, rever o pacto assinado entre o MFA e os partidos políticos, de forma a corresponder aos anseios do povo português e a colocar neste País as instituições e organizações no seu verdadeiro lugar. É justo, é necessário, porque nenhum homem é apolítico.

Mas para que os militares façam política partidária terão de despir a farda, passarem à reserva, e vestirem um fato civil como qualquer cidadão.

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Cabe aos partidos políticos ser ou servir de correia de transmissão, de forma de actuação da vontade das diversas camadas populares do povo português. Cabe às nossas gloriosas forças armadas garantir a democracia, defender a democracia, garantir que a vontade do povo português seja efectivamente respeitada e que não mais teremos aventuras.

Assim, saudamos todos os oficiais sargentos e praças, com especiais palavras de respeito para o Regimento de Comandos, a quem, na pessoa do seu comandante, coronel Jaime Neves, apresentamos as nossas mais sinceras condolências pelos que foram assassinados.

Os momentos difíceis que vivemos mostraram que o povo português pretende também viver com paz, na ordem e na tranquilidade. E é justo, é digno, é nobre que assim seja. «Viver perigosamente» é palavra de ordem - slogan concebidamente fascista.

O Sr. Jorge Miranda (PPD): - Muito bem!

O Orador: - São estas as preocupações do nossa partido, que num futuro próximo desejaríamos ver concretizada.

Os dolorosos acontecimentos da passada semana poderiam ter lançado o País numa guerra civil, donde, cimentados em sangue, só sairiam escombros sobre os quais, tão-só, uma feroz ditadura poderia construir algo. Torna-se necessário, é necessário um inquérito que dê ao povo português a verdade, toda a verdade e só a verdade.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado: Lamento insistir, mas tem que concluir a sua intervenção, que já está ultrapassado o seu tempo.

O Orador: - Concluo imediatamente.

O PS, partido dos trabalhadores e, consequentemente, da serenidade e da responsabilidade, está certo de que o povo português não se furtará a assumir as suas responsabilidades com a mesma serena coragem com que o tem feito até aqui. A demagogia pseudo-revolucionária, fascista ou fascizante, não passará.

Portugal é uma causa livre!

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em nome do grupo parlamentar do meu partido, vou submeter a esta Assembleia uma declaração. para ser posta à votação e ser aprovada ou rejeitada.

Declaração

Considerando ter sido jugulada pelas forças armadas, de forma exemplar, a insurreição de 25 de Novembro desencadeada por sectores político militares pseudo-revolucionários;

Considerando o alto significado da vitória das forças democráticas, que, derrotando os adversários da liberdade, restauraram os verdadeiros princípios do 25 de Abril;

Considerando a compreensão manifestada pelo povo português, que, disciplinada e confiadamente, obedeceu às palavras de ordem das autoridades legítimas;

Considerando a coragem, a firmeza e a dignidade das forças armadas, a que se deve não nos encontrarmos perante uma sangrenta tragédia;

A Assembleia Constituinte. declara:

1.º Condenar, nos termos mais veementes, a insurreição de 25 de Novembro, incitando as autoridades a procederem a um claro e inequívoco inquérito que traga à luz toda a verdade;

2.º Lembrar a necessidade de se proceder ao justo julgamento dos culpados em tribunais comuns, extinguindo-se, desde já, todos os tribunais excepcionais, nomeadamente o que visa julgar os implicados no 11 de Março;

3.º Lamentar as mortes verificadas, nomeadamente as do tenente Coimbra e do segundo-furriel Pires, encarregando-se o Exmo. Presidente de expressar às famílias das vítimas, ao seu comandante, coronel Jaime Neves, bem como a todos os seus camaradas, o profundo pesar desta Assembleia;

4.º Saudar as forças armadas portuguesas pelo alto sentido profissional e patriótico com que actuou nas difíceis missões que lhes foram atribuídas;

5.º Saudar o povo português, manifestando a firme intenção de sempre e em qualquer altura ser o fiel intérprete da sua vontade.

(O orador fez a sua intervenção na tribuna.)