análise sob o ponto de vista dos trabalhadores. Era uma análise política sem outra pretensão que a de ser sincera.

E porque não me limitava a falar pêlos trabalhadores ou em seu nome, mas sou trabalhador em carne e sangue, a análise, além de sincera, saiu correcta.

Dizia eu então e perdoem-me recordar: "Esta Revolução, já ninguém duvida, está a ser feita ao sabor de intrigas, com jogos palacianos, com boatos. Desmente-se descaradamente, a verdade, apregoa-se a sete ventos, com ar de autoridade, a mentira.

Políticos responsáveis ou, melhor dizendo, com responsabilidades não hesitam, perante o mundo, afirmar ao mesmo tempo e no mesmo plenário o contrário um do outro, ao referirem-se aos problemas económicos nacionais. Cada um procura superar-se em descaramento, discursos, atitudes e bocas. Campeia o vedetismo! Todos são super-revolucionários!"

E depois: "Chega a parecer que a esquerda portuguesa está atordoada com o clarão do poder!"

E mais adiante: "Afinal o que se quer? Criar a confusão, a discórdia, o caos ou o triunfo da revolução socialista? Continuar a lançar queixas uns sobre os outros e esquecermo-nos do inimigo comum, ou deixar avançar a reacção?

A confusão em que se vive não serve objectivamente os trabalhadores. A luta de classes é uma coisa, a manipulação de trabalhadores contra trabalhadores, do povo contra o povo, de soldados contra soldados, é outra. É utopia, é loucura, se não for descaradamente contra-revolução."Por detrás de um falso progressista está sempre um verdadeiro reaccionário", disse Costa Gomes, e é preciso que os trabalhadores, os soldados e o povo estejam atentos a esta verdade.

O que se quer? Que obscuros desígnios servem certas pessoas?

Os factos recentes vieram dar-me razão.

A forma como estava a decorrer o processo revolucionário teria inevitavelmente que conduzir a uma rotura. E felizmente que ela se deu com as forças armadas coesas e empenhadas nos ideais do 25 de Abril.

As forças da burguesia, a permanente contestação de pseudo-esquerdistas, o infantilismo de alguns leaders, o oportunismo aventureirista de inconscientes, a tendência golpista de sectores militares e civis, a crescente inquietação do nosso povo, a sensação de mal-estar generalizado nas massas trabalhadoras, o equilíbrio e determinação das forças que desejavam uma democracia pluralista, eram peças demasiadamente contraditórias para continuarem ajustadas no mesmo puzzle.

Certos esquerdistas, para fugirem a alguns pecadilhos de consciência (como seria interessante o filme do seu passado político), procuravam colocar-se quanto mais à esquerda melhor; mesmo que fosse um esquerdismo utópico ou infantil; mesmo que se desgarrasse da vontade do povo; mesmo que conduzisse à contra-revolução!

Com pecadilhos ou sem eles, a verdade é que alguns responsáveis (seriam?) militares e civis só se preocupavam em avançar, sem olhar como e quando; sem olhar ao País e ao povo concreto para quem era a Revolução!

Era surpreendente como estes indivíduos se intitulavam muito marxistas, mas não se preocupavam em analisar a relação de forças, o País concreto, em ver que o golpismo e os avanços demasiados e sem bases se convertem em aventuras que podem dar recuos; uma vez que à força de se querer a Revolução se estava a fazer o jogo da contra-revolução!

Vozes: - Muito bem!

Aplausos.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Ferreira Júnior. Tem dez minutos.

O Sr. José Ferreira Júnior (PPD): - Treze minutos?

O Sr. Presidente: - Tivemos azar, mas pode ser.

O Sr. José Ferreira Júnior (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A revolução militar de 25 de Abril