às eleições legislativas como um termo de referência da vontade popular no caminho da construção do socialismo.

Vozes: - Muito bem!

das tendências de orientação partidária.

Pouco a pouco, os vários partidos políticos, as várias correntes de opinião tendem a instrumentalizar sectores mais ou menos amplos do MFA, sob a cobertura política do suprapartidarismo, em benefício das orientações que preconizam. E daqui resultou um conflito interno, crescente, conflito que derivaria necessariamente de se procurar menos o que era denominador comum, e que era o conteúdo da legitimidade revolucionária de que o MFA era portador, e pôr-se acento tónico naquilo que dividia os elementos do MFA, e que eram as diversas orientações partidárias que, pouco a pouco, se iam afirmando por detrás da capa suprapartidária. Esta partidarização, esta parlamentarização do MFA, tanto mais grave quanto o Movimento das Forças Armadas, em várias ocasiões, criticava a parlamentarização da vida civil...

Uma voz: - Muitíssimo bem!

O Orador: - ... essa partidarização e parlamentarização conduziram a que se estabelecesse na vida política portuguesa esta quase anomalia política: é que era difícil estabelecer a fronteira entre as pressões legítimas ou legais exercidas dentro do MFA, relativamente ao exercício do poder, e os golpes de

Estado que porventura também tivessem o seu cabimento. Porque, havendo uma estrutura em que uma entidade, entidade que se pretende extremamente imune a criticas dos sectores civis, como se pretendeu durante algum tempo, internamente é corroída por diferentes orientações partidárias, necessariamente se torna muito difícil saber até que ponto é que as pressões internas, que muitas vezes se prevaleciam de argumentos de força, eram pressões legítimas, e a partir de que ponto é que essas pressões, como foi o caso do 25 de Novembro, se transformavam, efectivamente, em tentativas golpistas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, está na ordem do dia a questão do repensar a missão e a estrutura do MFA.

E, por isso, apareceram necessariamente, pelo menos, duas grandes linhas quanto ao futuro próximo da missão e da estrutura do Movimento.

Uma linha, não direi de orientação, mas, pelo menos, de um sabor terceiro-mundista, que preconiza agora ultrapassadas as tendências de manipulação partidária, o refazer do MFA com um papel que subalterniza o papel dos partidos políticos, para o efeito socorrendo-se dos tecnocratas políticos sempre à espera de uma promoção de cúpula que não obtiveram por uma organização de massas ...

Vozes: - Muito bem!

Aplausos

O Orador: - ... e, por outro lado, a orientação que preconiza que o MFA é necessário durante mais algum tempo na vida política portuguesa, para levar até ao fim a sua missão, que teve, como disse, o signo de ser portadora da legitimidade revolucionária, mas que a grande missão que tem a desenvolver deverá ser desenvolvida sob a linha de um garante da implantação, da consolidação e do funcionamento de estruturas democráticas, com vista à construção de uma sociedade de transformação profunda das estruturas económicas e sociais ...

Vozes: - Muito bem!

sociedade socialista. Pretende-se construir a sociedade socialista à margem da vontade popular, que o mesmo quer dizer recorrendo às estruturas que, pragmaticamente ou teoricamente, se concebam como as mais adequadas para esse efeito, sejam elas vanguardas civis, sejam elas vanguardas militares, ou pretende-se construir uma sociedade socialista com o respeito pêlos mecanismos da democracia pluralista, sabendo-se que se corre o risco, e esse risco é poder haver recuos de quando em vez ou de poder haver paragens, simplesmente, sabendo-se também que não se corre o risco de, para construir mais rapidamente os elementos sociais e económicos do socialismo, se poder sacrificar a componente fundamental da democracia política.

Vozes: - Muito bem!