militar? Teria dois votos.

O Sr. Presidente: - Mais algum pedido de esclarecimento?

Pausa.

Creio que mais ninguém.

Portanto, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Nunes para responder a este pedido, se o entender.

O Sr. José Luís Nunes (PS): - Bom, os considerandos que fez eu não os disse e são considerandos que a si próprio o vinculam, não me vinculam a mim.

Quanto ao saber como é que uma disposição dessa; apareceu na Constituição é uma coisa que deve perguntar ao seu próprio partido, que, como nós, também assinou o pacto. É a única coisa que lhe posso responder.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado

José Augusto Seabra.

O Sr. José Augusto Seabra (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É pena que o meu amigo Vasco da Gama Fernandes não esteja presente, porque eu queria antes de mais saudar a sua afirmação de que na elaboração de uma Constituição também podem participar os poetas. E eu, como poeta, gostaria de fazer aqui, para amenizar talvez um pouco o ambiente, algumas considerações poéticas, mas que eu acho que são também políticas.

Foi o poeta inglês Shelley que disse que os poetas não eram apenas aqueles que faziam poemas, aqueles que faziam versos, mas também os que faziam as leis e mesmo os que faziam as constituições. Ora, o que se discute aqui é o problema da revisão do pacto que os partidos fizeram com o MFA, e essa ideia de pacto sugere-me imediatamente, como estão a pensar, o poeta Goethe, sugere-me o pacto com o Diabo. Nós devemos dizer, quanto a nós, Partido Popular

Democrático, que não fizemos um pacto com o Diabo e, portanto, não nos sentimos vinculados ad eternum por esse pacto. Talvez o Partido Comunista, em vez de querer a revisão do pacto, em vez de querer rever o pacto, se reveja nesse pacto, e se reveja nesse pacto porque, no fundo, ele desejaria ser o Diabo, isto é, ele desejaria ser simultaneamente aquele que faz o pacto com o Diabo e o próprio Diabo. E é natural que hoje o Partido Comunista, constatando que, afinal, não conseguiu ser o Diabo - e nós não o consideramos, pela nossa parte, o Diabo - e é natural que o Partido Comunista sinta a nostalgia desse pacto, é natural que o Partido Comunista se reveja no pacto.

Uma vos - És bruxo.

A Sr.ª Alda Nogueira (PCP): - Patife!

O Orador: - Para nós, o Pacto, como qualquer lei, como qualquer contrato, como qualquer constituição mesmo, o pacto é historicamente algo que se insere numa transformação. As condições, as circunstâncias mudam e, mudando as circunstâncias, é evidente que o próprio pacto tem de mudar, e é por isso mesmo que nós, sem sermos revisionistas como o Partido Comunista Português, defendemos a revisão do pacto.

É que nós temos, não uma concepção metafísica do pacto, não uma concepção ontológica do pacto, como disse aqui o meu amigo José Luís Nunes, mas uma concepção dialéctica do pacto e, portanto, mudando as circunstâncias históricas, mudando as condições, nós pensamos que o Pacto também tem de mudar. E, aqui, quero introduzir novamente um outro poeta, o nosso grande Luís de Camões. E vou contar uma história: É que eu, quando estava na União

Soviética, em Moscovo, fui um dia abordado, como poeta, para fazer um comentário sobre o Dia de Camões. E fiz um comentário, como era natural, a propósito de um soneto que todos conhecem e que começa:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Pois, meus amigos, esse comentário que eu fiz foi cortado pela censura da Rádio Moscovo, porque se dizia que eu estava a fazer uma interpretação abusiva da dialéctica camoniana.

Mas, meus amigos, eu quero realmente lembrar o começo desse soneto e o fecho, a sua chave de ouro. O soneto começa, como sabem:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Muda-se o ser, muda-se a confiança,

Todo o mundo é composto de mudança.

Tomando sempre novas qualidades,

O que é pura dialéctica, como mostrou o meu amigo, o ensaísta, o crítico Jorge de Sena. Mas o fecho é este:

Mas afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto,

Que não se muda já como soía.

Isto é, a mudança sofre, ela própria, uma mudança também. A mudança já não muda do mesmo modo, a mudança muda de modo diferente. E é isso que faz