O Orador: - Por um programa bem conservador, aliás, mas onde se advogavam com firmeza as liberdades fundamentais do homem e a autodeterminação para todos os territórios a Portugal submetidos.
Mário de Azevedo Gomes interviria ainda nas campanhas eleitorais de 1961 e de 1965; mas pouco depois da última, um desastre brutal levaria para sempre esse cidadão que pode bem ser tomado como modelo de homens de carácter e democrata que não cede na exigência de vier reconhecidos os seus direitas, porque foi também exemplar no cumprimento dos seus deveres.
Acho que esta Assembleia Constituinte devia esta homenagem a Mário de Azevedo Gomes no 10.º aniversário da sua morte, lembrando, pelo menos, o seu nome.
Vozes: - Muito bem!
Aplausos de pé.
O Sr. Presidente: - Como alguns dos Srs. - Deputados porventura saberão, eu fui um dos próximos colaboradores de Mário de Azevedo Games, de quem fui discípulo no Instituto Superior de Agronomia e mais tarde, durante longos anos, colega. Considero que, depois de meu pai, foi o homem que mais me influenciou na minha conduta cívica e moral. Por esse motivo me associo com muita emoção às palavras de Raúl Rêgo, que, aliás, conheceu também muito bem Mário de Azevedo Games e sabia de quem estava a falar.
Aplausos.
O Sr. Deputada Fernando Roriz tem a palavra.
facto, necessariamente, a memória exacta e mais viva. Porque fomos nós a sentir na espírita, e algumas vezes mesma na carne, o cego furor ideológico que sobre a social-democracia se abateu sem piedade.
Lembram-se, Srs. Deputados, do como que neste país se ensaiou para fazer crer que a nossa opção era o «cavalo de Tróia» da Revolução?
Lembram-se, Srs. Deputados, do uso que em actos de movimentação, popular se fez do repúdio da social-democracia para compromissos de demagógica demarcação antidemocrática da Revolução?
Lembram-se, Srs. Deputados, dos esforços que aqui mesmo, neste hemiciclo, desenvolveram alguns de vós para que os «salpicos de lama» da social-democracia não conspurcassem a imaculada, alvura do vosso progressismo?
Uma voz: - Muito bem!
O Orador: - Nós não o esquecemos.
Agora, porém, começamos a vivem o tal novo capítulo da nossa trajectória político-revolucianária.
E que vemos nele?
Pois que o estatuto de social-democrata, até há pouco labéu terrível de antiprogressismo, se transformou, de repente, em aval decisivo para abrir, a quem as queira transpor, portas partidárias até aqui aparentemente fechadas a sete chaves.
Pois que a social-democracia deixou de ser o vírus introduzido no ventre, da Revolução para a destruir por dentro, para ganhar a forma de remédio digno capaz de a salvar e lhe garantir a dinâmica evolutiva correcta.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Não há dúvida ... Ganha contornos precisos um processo de conversão de algumas pessoas que querem reabilitar a social-democracia para a revolução portuguesa, como se ela alguma vez tivesse estado fora.
E é certamente pelo facto de esse fenómeno começar a ser patente que a social-democracia até já serve como estandarte triunfalista a legitimar pretensamente jogos malabares de algumas ambições pessoais de poder, que são, numa das suas mais imediatas consequências, atentado à boa fé do povo que em 25 de Abril de 1975 votou nos partidos políticos e seus programas, e só nesses, exacta e objectivamente nesses.
Uma voz:- Muito bem!
O Orador:- Sr. Presidente, Srs. Deputados: Estamos em presença de mais um capítulo singular da nossa singular revolução. As suas motivações são evidentes. Porque o realismo e bom senso da opção social-democrática como via para o socialismo desejado em Portugal emergiu naturalmente como solução certa para a confusão que outras vias e caminhos tentados impuseram a este país, o nosso, projecto político passou a ser uma bandeira a conquistar, depois de ter resistido, pelas suas potencialidades próprias e pela nossa determinação, à situação de inimigo a abater.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Nós compreendemos, por isso, perfeitamente a nova estratégia que presentemente se desenvolve em redor do Partido Popular Democrático, e não só fora dele. Agora que não resultaria contestar a social-democracia como processo, contesta-se, e tão ferozmente como antes, a PPD como legítimo representante desta.