O Sr. Presidente: - Os Srs. Deputados que desejarem formular os seus pedidos de esclarecimento fá-lo-ão depois.

Agora não interrompam o orador.

O Orador: - Estamos com todos os que nos elegeram, que neste momento lutam com as maiores dificuldades, sofrendo as consequências dos métodos totalitários que os extremismos trouxeram para o nosso país, levando-o à beira da ruína económica, do desemprego e da penúria, com o sacrifício dos mais necessitados e explorados. Para salvar a liberdade, condição prévia do socialismo, para servir o nosso povo e os trabalhadores, falaremos bem alto na tribuna da Assembleia, dando voz, com independência e desassombro, a todos os que dela se sentirem privados.

O Sr. Amândio de Azevedo (PPD): - Não estareis sós.

O Orador:- Seremos Deputados da verdade,...

O Sr. Cunha Leal (PPD): - Seremos quem?

Burburinho.

O Orador: - ... denunciando todas as ditaduras, ...

Agitação na Sala.

... todas as mistificações, todas as demagogias, ...

Vozes tumultuosas provindas das bancadas do PPD .

... e trabalhando na elaboração de uma Constituição que dê a Portugal a democracia política, económica, social e cultural por que na campanha eleitoral, ao vosso lado, nos batemos.

Burburinho.

Fizemos - e falo no meu nome e no dos Deputados que me mandataram para falar no nome deles - ...

Uma voz: - Não pareces um jurista.

Outra voz: - Traiu as suas funções de jurista e de Deputado.

O Sr. Amândio de Azevedo (PPD): - O Grupo Parlamentar do PPD não delegou em ninguém.

Burburinho.

O Orador: - ... fizemos uma opção muito reflectida e consciente, insensíveis a todas as pressões. Os eleitores e o povo português um dia me julgarão.

Vozes: - Já está a julgar.

Continua o burburinho.

O Orador: - Convosco e connosco a social-democracia autêntica estará representada na Assembleia Constituinte.

Vozes discordantes das bancadas do PPD.

Convosco e connosco o socialismo humanista será sempre o nosso atractivo e o nosso ideal. Convosco e connosco a liberdade será a palavra. Ao serviço destes ideais, pelos quais fomos eleitos, seremos, eu e os restantes Deputados sociais-democratas e independentes, Deputados independentes, Deputados do povo e para o povo.

Tenho dito.

Aplausos.

Vozes de protesto dos Srs. Deputados do PPD.

(O orador fez a sua intervenção na tribuna.)

(O orador não reviu.)

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Simões de Aguiar pediu a palavra para esclarecimentos?

Pausa.

Tem a palavra.

O Sr. Simões de Aguiar (PPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: É verdade que existiam no Partido Popular Democrático duas tendências que eu poderei dizer cupulistas, mas que, efectivamente, era uma existência real dessas tendências. Identifiquei-me em absoluto com o Dr. Mota Pinto. Identifiquei-me durante o congresso com o Dr. Mota Pinto e lamento que, neste momento, eu tenha que rever a minha posição perante aquela situação de me manter no Partido Popular Democrático.

Vozes (das bancadas do PS):- Já chega de roupa suja.

O Sr. Presidente: - Peço atenção.

Manifestações.

O Orador: - É possível que, neste momento, determinadas bancadas não se sintam à vontade. É que há determinados elementos que continuam no Partido Popular Democrático a defenderem a princípio proposto apelo Dr. Mota Pinto, mas que, neste momento, não é, efectivamente, a posição do Dr. Mota Pinto.

Eu queria perguntar ao Dr. Mota Pinta se não se sentiu enredado em determinadas manobras, consciente ou inconscientemente. Escusam de fazer determinadas afirmações. Eu defendi e continuarei a defender, dentro do Partido Popular Democrático, a linha do Dr. Mota Pinto. Simplesmente, pergunto se o Dr. Mota Pinto, perante o aspecto emocional, perante o aspecto de intransigência mútua que se verificou no Congresso, não continuará a tomar atitudes emocionais. E eu apelo novamente ao Dr. Mota Pinto para que continue a ponderar a sua posição, na certeza que encontrará talvez tão bons seus colaboradores fora como dentro do Partido Popular Democrático.

Vozes: - Isto não é um pedido de esclarecimento.

Vozes: - Isto é um apelo.

O Orador: - E pergunto ao Dr. Mota Pinto se ele não deve considerar a sua posição. Eu sei perfeitamente que há aspectos humanos, há aspectos políticos, mas o que está em causa é a democracia em Portugal.

Uma voz: - Muito bem!