Orador: - O que é preciso dizer ao País, mas dizê-lo de modo que toda a gente compreenda a gravides da situação, é que chegou a honra, de nos lançarmos ao trabalho. Mas lançarmo-nos ao trabalho decididamente , corajosamente. Só com o trabalho de todos nós será possível construirmos o Portugal novo que ambicionamos. Mas temos que trabalhar a sério - conscientemente. Sacrificadamente se necessário. E eu tenho para mim que a hora é, de facto, de sacrifícios. Sacrifícios para todos, como é óbvia. Não sacrifícios apenas para aqueles que sempre foram sacrificados, que passavam uma vida inteira a ser espezinhados, a ser postergados, criminosamente esquecidos .Anunciou o Governo, já .por diversas vezes, algumas medidas de austeridade a pôr em prática oportunamente. Sem que eu saiba quais elas sejam, não é difícil adivinhar que serão medidas antipáticas, medidas impopulares. Têm sempre essa feição as medidas de austeridade.

Ora há que preparar o País, há que preparar a população, para essas normas que, não sendo agradáveis, serão necessárias para salvar Portugal e a Revolução.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há meses (Maio tinha entrado há dias) publiquei algumas notas de reflexão no jornal onde exerço a minha actividade normal. Dizia eu, por exemplo:

«O País tem, de facto, de trabalhar mais, de produzir mais. E, quando se diz o País, diz-se, necessariamente, todos nós. Temos de poupar, temos de importar menos (evitando a saída de milhões de divisas), temos de nos adaptar, pelos tempos mais próximos, a um regime de austeridade, que não é senão um trem de vida mais de acordo com as nossas reais possibilidades. Se estamos longe de ser um país rico, pois não podemos andar, muitos de nós, a fazer, mais ou menos, vida de ricos. Impõe-se-nos a todos, na hora que passa, um pouco de sacrifício. Sacrifício que há-de possibilitar, daqui a algum tempo, então sim, uma vida melhor e mais justa para todos os portugueses sem excepção. Há que tomar consciência plena da situação que estamos a atravessar. Mas, em vez disso, que vemos nós? Que a tendência é para reivindicar, para era infalível! - me chamaram alarmista e reaccionário. O costume ...

Ora o que há sete meses atrás escrevi ainda hoje tem, infelizmente, actualidade plena. Talvez ainda mais hoje do que então.

É altura, pois, de acordarmos. É chegada a hora de alertarmos o País. E alertá-lo através de todos os meios possíveis. Através dos órgãos de comunicação, através das organizações partidárias, através dos sindicatos (e também através da Intersindical das greves!), através das colectividades populares, através das comissões de trabalhadores e das comissões de moradores.

Há que lançar, por esse país além, uma grande campanha de esclarecimento. Há que dizer, bem alto, a todos os portugueses que a Revolução correrá o risco de sobrar se não conseguirmos melhorar a nossa economia. Este é um combate decisivo. Um combate que não será ganho com as Chaimites do Sr. Dinis de Almeida ou com as G3 do capitão Fernandes, mas com a compreensão dos Portugueses, com a sua conscienciali zação, com a sua boa vontade, com o seu espírito de sacrifício.

Todos ainda seremos pousos! Temos de salvar o País! Temos de salvar a Revolução! No número da semana passada de Portugal Socialista, Mário Soares, no habitual artigo da última página, dizia-nos, com a sua lucidez costumada:

«Os acontecimentos do 25 e 26 de Novembro abriram, incontestavelmente, um novo curso à revolução portuguesa. Deu-se uma viragem histórica. A utopia à solta, irresponsável, sucede agora o realismo; e os valores da liberdade, da democracia política, do trabalho, da justiça social e da tranquilidade pública, trazidos pelo 25 de Abril., como os grandes objectivos da Revolução, voltam de novo a ser honrados como bens preciosos, mesmo por aqueles que, pela sua acção atrabiliária, mais...»

O Sr. Presidente: - Chamo a atenção ao Sr. Deputado...

O Orador: - Tem razão V. Ex.a, eu acabo.