António Guterres vai a Angola no final de Outubro para firmar acordos sobre petróleo, diamantes, OGMA e ensino à distância

Carlos Albino

Lusa-Helena Valente

Os canais diplomáticos estão a ultimar a visita de Guterres a Luanda, já fixada para finais de Outubro, enquanto Lisboa concentra esforços para facilitar a curto prazo uma saída política digna para Jonas Savimbi e para a UNITA. A visita do primeiro-ministro fora suscitada genericamente em Junho por José Lamego, em Luanda, junto do chefe do Governo angolano, França Van Dunem, e pormenorizada formalmente em 29 de Agosto, em Lisboa, durante um encontro de Lamego com o dirigente de Luanda.

Os observadores sublinham que a componente empresarial e o encerramento de vários dossiers em aberto entre Portugal e Angola vão marcar a deslocação de Guterres.

É dada como certa a futura participação da empresa petrolífera angolana Sonangol com nove por cento no capital da Petrogal, ao mesmo tempo que está delineado o quadro de consolidação dos interesses portugueses na área diamantífera e o apoio de Lisboa ao projecto do corredor de Malanje. Um acordo final relativo às actividades das OGMA e um entendimento luso-angolano em matéria de ensino à distância serão incluídos no pacote de instrumentos que Guterres assinará em Luanda, admitindo-se que até final de Outubro sejam ainda desfeitos obstáculos e reservas colocados por Luanda à proposta portuguesa de solução da dívida angolana.

À margem dos contactos a nível de Estado, sabe-se também que está garantido o arranque da Universidade Católica em Luanda, enquanto Lisboa acelera a preparação de instrumentos de cooperação na área educacional. Para o próximo dia 18 está marcada uma reunião da secção especializada da Comissão Interministerial para a Cooperação, que será presidida por Marçal Grilo, seguindo-se um plenário (29 de setembro) da estrutura que Lamego arrancou da letargia.

Os observadores são unânimes em considerar que será iniciado um novo ciclo no relacionamento entre os dois países, até agora ensombrado por pretextos relativos ao processo de paz angolano. O gabinete de Lamego, sublinham os mesmos observadores, converteu-se nos últimas semanas numa plataforma de contactos com o Governo de Luanda, a UNITA, os representantes dos EUA e da Rússia na tróica e o representante especial da ONU em Angola, Alioune Blondin Beye, que ontem mesmo se deslocou ao quartel-general do Galo Negro no Andulo, para se encontrar com Jonas Savimbi.

O tema central da diligência de Alioune Blondin Beye junto de Jonas Savimbi não foi divulgado, mas o DN está em condições de asseverar que a iniciativa do representante da ONU se relaciona com o que pode equivaler a um verdadeiro ultimato dos EUA à UNITA caso o movimento de Savimbi, até ao final deste mês, não patenteie sinais concretos de boa vontade no cumprimento dos acordos angolanos e das resoluções da ONU, implicando a desmobilização de tropas não declaradas e a entrega de armas com procedimentos credíveis.

Fonte diplomática que segue a questão angolana garantiu que os EUA têm provas insofismáveis de que a UNITA reasfaltou e ampliou pistas de aviação com aparentes finalidades militares. A deslocação de Beye ao Andulo coincide com a entrega de uma mensagem especial de Washington a Savimbi que os observadores traduzem como séria advertência de que EUA admitem dotar Luanda, a partir de Outubro, com meios antiaéreos visando a interdição de sobrevoos, com o consequente encurralamento das forças da UNITA e o isolamento político de Savimbi.

A mesma fonte diplomática referiu que o general Higino Carneiro, recentemente, num encontro com Savimbi, ofereceu nova disponibilidade de Luanda para flexibilizar, com adequado enquadramento legal, a exploração dos recursos diamantíferos a favor da UNITA, tendo na ocasião o dirigente do Galo Negro solicitado um abrandamento de calendário e de procedimentos no processo de extensão da administração do território nas zonas do Negaje e do Bailundo.