Senhores Deputados. - O Govêrno Provisório da República, em 1911, interpretando o sentimento de equidade e justiça, estabeleceu o princípio do serviço militar obrigatório, para que o imposto de sangue a prestar à Pátria fôsse pago pelo rico e pelo pobre em igualdade de circunstâncias.
Ao mesmo tempo que criava o serviço militar obrigatório para todos os cidadãos da República, procurou estabelecer o princípio da organização do exército miliciano.
Infelizmente para o povo, o primeiro princípio começou a ser adulterado, pelo empenho, vil, pela negociata infame e pela politiquíce sempre mesquinha, passando a libertar-se da vida militar, na maioria dos casos, os filhos dos que se faziam valer, dos que tinham dinheiro e dos que nas cidades, vilas e aldeias conseguem ter voto para se imporem aos políticos, que mandam.
Assim tem acontecido na maioria dos casos serem apurados para o serviço militar os doentes, os de má organização e falta de robustez, que só servem para encher os hospitais militares e custarem rios de dinheiro ao Estado; e, quando assim não sucede, são arrancados ao trabalho e à vida da economia nacional milhares de braços que durante três meses, uns, e mais de um ano o atros, se viciam na vida das cidades ou das vilas principais, habituando-se a uma vida desregrada de vício e miséria, com grave prejuízo para a moral da sociedade organizada.
Se os princípios estabelecidos por escrito, pelo primeiro Govêrno da República, tivessem sido integralmente cumpridos, quando em 1914, chegados ao estado de guerra com a Alemanha, teríamos um exército organizado para imediatamente poder ser utilizado, o que não aconteceu.
Com o exército permanente superior às posses do Estado vimo-nos nesse momento ilaquiados por uma campanha feroz, promovida e levada a cabo por muitos, não dos filhos do povo, que à Pátria eram forçados a entregar a sua vida, mas por muitos dos que, tendo adoptado uma profissão e dentro dela tendo vívido regaladamente durante muitos anos, procuravam por todos os meios fugir ao cumprimento do dever.
Historiar não vale a pena fazê-lo.
Os factos ficaram bem patentes na memória de todos, e de todos são conhecidos.
O que é certo, é que no momento em que a guerra nos foi declarada pela Alemanha, nada tínhamos e nada possuíamos para podermos responder ao insulto que nos era dirigido.
Tivemos ràpidamente de tudo lançar mão para organizarmos um exército que levantasse bem alto o nome e a glória de Portugal.
Do número de oficiais que para a guerra mandámos, felizmente, que a maioria não pertencia ao número dos que fugiam ao cumprimento do dever.
Bateram-se como portugueses e muitos deles souberam ser verdadeiramente heróis.
Os soldados que na sua maioria vieram aos serviços do exército por causa da guerra, para ela foram com abnegação e patriotismo, sabendo cumprir honradamente o seu dever.
Provou-se nesse momento que a existência de um exército permanente numeroso não traz ao Estado senão gravíssimos prejuízos pelas elevadas despesas que lhe acarretam e os prejuízos morais e económicos a que conduzem.
Somos um país deficitário em braços para trabalhar nos campos e nas oficinas, precisamos por isso aproveitar os elementos de trabalho, para o trabalho fecundo e útil da nação e não inutilizá-los nas casernas para os serviços estéreis, habituando-os à mandriice e ao vício das cidades e outros meios onde a acção de corrupção é manifesta.
Para a caserna deve ser obrigado e compelido a ir o vadio, o indisciplinado e o mandrião, para que ali o eduquem para a vida e para o trabalho.
Não precisa o país, hoje, de ter milhares de soldados nos quartéis, para nada fazerem e nada produzirem, porque deles não tem ali necessidade, desde que a ordem pública em todo o país está entregue à fôrça especialmente para êsse fim organizada, a Guarda Nacional Republicana.
A taxa de serviço militar estabelecida pelas leis vigentes de nenhuma utilidade tem servido ao Estado.
A maioria dos que se isentam da vida militar não têm pago e a ela se têm exi-