Apocalipse - razão e coração
T enho realizado diversas palestras sobre o apocalipse, através do sistema de rádio da LBV Mundial, dirigidas aos simples de coração. Improvável como pareça aos analistas do caos contemporâneo, o último livro da Bíblia Sagrada, por vezes tão temido, por vezes ignorado, traz em si um roteiro ético, sociológico, económico, político, capaz de abrir os olhos da humanidade para a construção de dias melhores. Alziro Abraão, um jovem de 17 anos, concluiu com perspicácia: "Realmente, o homem, apesar do extraordinário avanço tecnológico, não está evoluindo como deveria; na verdade, só está andando mais depressa, sem saber, com certeza, ainda, para onde vai. Por esse motivo, o mundo continua sendo um grande quebra-cabeças".
O saudoso fundador da Legião da Boa Vontade, Alziro Zarur (1914-1979), dizia nas suas prédicas populares, evangélicas e apocalípticas, que a solução, para o Brasil ou qualquer nação do mundo, é "ligar a tomada em Cristo Jesus", o que pode soar absu rdo a homens excessivamente racionais. Não sou contra a razão, como não me oponho ao sentimento. In medio, virtus, alertava a sabedoria dos antigos. Por isso, há décadas venho afirmando que precisamos unir à inteligência do cérebro a do coração. Costumo valer-me deste exemplo: quando em boa hora surgiu o iluminismo, depois da Idade Média, já dentro da Idade Moderna, os homens viram no racionalismo a solução efectiva, enquanto acusavam as religiões pela aflição permanente das criaturas. É óbvio que a razão realiza importantíssimo trabalho pelo crescimento dos povos, mas não bastou para emancipá-los de seus tormentos. Trouxe incontáveis inovações, contudo somou-se àquilo que os iluministas qualificaram de erros religiosos novos enganos. Adicionaram-se aos anteriores os equívocos advindos do uso desmedido da razão. Novamente a humanidade se coloca na busca do equilíbrio, um caminho para a solução de suas angústias.
É quando, radioso, emerge, liberto da obscuridade e do esti gma do medo, o apocalipse do Divino Chefe: uma carta de amigo que apenas deseja o bem do destinatário, escrita com providencial antecedência aos dramas que o homem teria de enfrentar, pelos milénios, em virtude da desarmonia criada por si mesmo para com as leis universais eternas. Jesus, o co-autor do apocalipse, é a expressão mais elevada da fraternidade. E é por esse prisma que o texto profético deve ser analisado.
(...) O homem faz muita questão de ser "racional". Por isso, às vezes, demora a entender toda a Programação Divina para o desenvolvimento das gentes, porque não leva na consideração devida a Lei do Amor, isto é, a Lei da Solidariedade Social. Eis que o Amor é o espanto de Deus para algumas criaturas. E a surpresa benéfica, que não se espera num planeta permanentemente atribulado. Há previsões que anunciam que, quando os factos criados pelas acções humanas chegarem ao paroxismo dos desatinos, Deus se manifestará por intermédio de uma solução que ninguém jamais imaginaria. Fala Dom Bosco: "Um grandioso acontecimento se está preparando no céu, para fazer pasmar os povos (...)''. Afinal de contas, Deus é Amor, inegavelmente que também Justiça. (1.ª Epístola de João, capítulo 4, versículo 8: Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor.) E Zarur completava assim: "E nada existe fora desse amor". Portanto, esse amor, para os, em demasia, racionais é realmente um espanto, um imprevisto, é o espanto de Deus! É ainda no capítulo 4, versículo 16, também da sua 1.ª Epístola, que o Discípulo Amado volta para reforçar: E conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. E se o ser humano ainda não compreende Deus ou O vê equivocadamente como um ser cruel, é porque na verdade não O sente. Assombra-se com as acções do Seu amor. E nem sempre as compreende, porque o Seu amor também é Justiça. Ora, o apocalipse é uma revelação de Deus. Por isso, não pode se r algo que venha a atemorizar aqueles que são cumpridores dos seus deveres, perante a sua própria consciência e a Consciência Divina. (...)
Mas o apocalipse, sobre o qual temos falado e muito mais pretendemos dizer, não pode ser analisado sob visão meramente literal, escrava das limitadoras dimensões de tempo e espaço terrenos, ou sob o reprovável critério do recalque. Voltaremos ao assunto.
José de Paiva Netto
Presidente mundial da Legião
da Boa Vontade