Em busca da legalidade perdida

Com o planeta invadido pelo CD pirata de gravação caseira, as editoras discográficas voltam-se para o novo DVD áudio

Nuno Galopim

PIRATARIA. A lei pode apenas controlar e apreender CD. Só um novo formato poderá travar a nova pirataria digital

No Outono do ano passado, o álbum Swingin' For The Fences, da Gordon Goodwin's Big Phat Band, estreava o formato DVD para uma edição exclusivamente em áudio, apresentando o som misturado no formato 5:1, o mesmo que grande parte das edições de DVD vídeo apresenta para total sugestão de som surround.

A quantidade de títulos em DVD áudio no mercado é ainda reduzida. Pouco mais de 50 discos foram editados nestes seis meses, mas a lista de títulos já em agenda para lançamento mostra que outro cenário poderá ser realidade muito em breve. Sobretudo ao nível das reedições de álbuns "clássicos", como confirmou há poucos meses Ian Anderson dos Jethro Tull, quando da sua passagem por Lisboa. Na ocasião o músico revelou que parte da discografia dos Jethro Tull estava já a ser remisturada e remasterizada para 5:1, e que como ele muitos outros músicos e editoras estão já dispostos a apostar no novo formato. Esta é uma notícia que o mercado discográfico acolhe com satisfação. Nos últimos 12 meses, ensombrada pela popularidade de sites como o Napster ou MP3.com, a indústria discográfica foi confrontada com o maior problema de pirataria global da história.

Segundo um relatório publicado na Billboard, as vendas de álbuns nos Estados Unidos (o maior mercado mundial) cifraram-se nos 785,1 milhões de unidades, um valor decerto significativo. A surpresa, num cenário de crescimento, revela-se no facto de o aumento face ao ano anterior ser de apenas quatro por cento, uma taxa francamente inferior à verificada em anos anteriores.

O crescimento das vendas de gravadores de CD e de CD-R graváveis (a preços quase simbólicos) assegurou o rápido crescimento de um surto global de pirataria digital. E não se deve apontar aos sites de distribuição de som e comunidades áudio online todas as falhas do sistema... Nas escolas multiplicam-se os esquemas de cópia e venda de discos pirata entre colegas. Nos empregos trocam-se discos para gravar. Nas ruas, junto a gravatas, carteiras e pólos baratos, já vemos CD duplicados entre as ofertas de ocasião, sempre atentas ao olho da polícia, claro.

A recta final do ano passado assistiu a um momento de assalto "legal" ao ex-paraíso digital online. Entre sites "adquiridos" por grandes grupos com interesses editoriais e batalhas legais, como aquela que envolveu o Napster, o cenário presente é do estilo "em busca da legalidade perdida". De resto, esta última e importante comunidade global assistiu, nas últimas semanas, a um processo de abafamento progressivo, com um vasto número de ficheiros obliterados e fechados. Entretanto, prepara-se o terreno para a entrada em cena do acesso pago a este e outros domínios de distribuição online. E, a nível oficial e superior, debate-se nova legislação sobre a propriedade intelectual.

O DVD áudio surge num momento em que, apesar dos avanços legais na web, a cópia para CD-R parece difícil de travar. Apesar das suspeitas de alguns, são já muitos os executivos da indústria discográfica que apontam a inesperada explosão do DVD vídeo como prova de confiança para a aposta no DVD áudio.

A expansão do mercado das novas consolas de jogos (que lêem DVD áudio e vídeo), a progressiva transferência do consumo vídeo para o formato digital, o aumento da adesão ao DVD-ROM, são apenas alguns dos indicadores que permitem justificar a confiança da indústria discográfica nesta sua aposta no DVD áudio. E quem, na Surround 2001 escutou faixas da versão 5:1 de Rumours dos Fleetwood Mac, não escondeu vontade de aderir ao DVD áudio. A revolução já começou!

Jogos vincam expansão do formato

Em 2004 as estimativas apontam para que seja de mais de 409 milhões o número de vendas de leitores ópticos para jogos, traduzindo um crescimento contínuo do mercado. Este número deverá reflectir a impressionante mudança já verificada de formatos para o DVD-ROM, com capacidade superior. Além dos DVD-ROM (com vendas de 4,55 milhões em 2000 nos EUA), a entrada em cena da Playstation 2 (da Sony, lançada recentemente), da Xbox (da Microsoft, agendada para o Outono deste ano) e do GameCube (da Nintendo, que deverá emergir publicamente em Outubro) aumentará significativamente o número de lares com acesso a DVD. A indústria do cinema sorri, naturalmente. E a da música não fica atrás...