Império renasce das "cinzas"
A administração assegurou os postos de trabalho. A fábrica deverá reabrir dentro de duas semanas, num local provisório
Paulo Sousa
COMBATE. Ao longo da madrugada de ontem, os bombeiros do distrito de Braga e do Porto atacaram as chamas
A unidade de produção da Recauchutagem Império, destruída pelo fogo onteontem em Braga, poderá voltar a funcionar dentro de duas semanas, caso as operações de rescaldo permitam salvar as máquinas, que, segundo a administração da empresa, estão praticamente intactas.
O comandante das operações no terreno, Manuel Antunes, da corporação dos Bombeiros Voluntários de Riba de Ave, afirmou ao DN serem necessárias, pelo menos, 48 horas para que as operações de rescaldo estejam concluídas. "É um trabalho bastante demorado, que poderá durar dois dias, devido ao facto de as paredes e as placas estarem bastante danificadas." Na sua opinião, a ausência de bombas de água no local "foi um problema grave" com que se depararam os bombeiros, e afirma que as "indústrias de hoje não têm água suficiente para apagar um incêndio desta dimensão".
Ontem de manhã, técnicos do Idite-Minho (Instituto de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica do Minho) deslocaram-se ao local para avaliar as condições das estruturas. No entanto, as altas temperaturas impediram uma avaliação precisa, que só poderá ser feita com o arrefecimento das placas.
Caso a avaliação seja positiva, a empresa de recauchutagem poderá salvar grande parte do equipamento que se encontra no interior das instalações, garantindo assim a laboração num curto espaço de tempo, que, segundo o administrador da empresa, António Santos, não poderá exceder os 15 dias.
Aquele empresário - ex-presidente da Associação Industrial do Minho - garantiu para já os postos de trabalho aos cerca de meio milhar de trabalhadores distribuídos pela empresa-mãe, pelas quinze filiais e pelas duas empresas que pertencem ao grupo (BmCar e Telci). "Não tenham dúvidas nenhumas", assegurou o empresário perante os jornalistas.
"Temos na Império uma cultura de família à parte do que são as relações normais de trabalho. Tratamos as pessoas por tu, e elas tratam-nos também por tu. Daí a dedicação dos trabalhadores", disse António Santos, acrescentando que se a empresa "tiver ajuda podemos rapidamente pôr isto tudo a funcionar".
Apenas um "cataclismo" poderia inverter a vontade da administração em assegurar o posto de trabalho às pessoas - só a empresa-mãe assegura 267 empregos. Por exemplo, a derrocada das instalações, a principal preocupação dos bombeiros neste momento.
A única certeza dada por aquele empresário é que a Império não voltará a funcionar naquele sítio, estando já encontrado um local alternativo, provisório, para o seu funcionamento. "Dentro de seis meses, é possível estar a laborar em instalações definitivas numa das zonas industriais de Braga." A empresa, fundada em 1968 por João Barros Rodrigues, lidera o sector em Portugal, sendo uma das maiores do seu género na Europa. Ontem recebeu inúmeros telefonemas de solidariedade e de apoio. Um deles foi do próprio ministro da Economia, Augusto Mateus.
Quer a BmCar, empresa que se dedica à comercialização de automóveis de luxo, quer a Telci, do sector de comunicações, estão já a funcionar em instalações provisórias. Quer uma quer outra conseguiram salvar os respectivos equipamentos. Segundo António Santos, também a empresa de recauchutagem está a "funcionar em pleno na componente comercial, não no que produzimos, mas no que revendemos".
Ao longo da madrugada de terça-feira, as corporações de bombeiros de todo o distrito e, ainda, do Porto, atacaram as chamas, mantendo-se no local o grosso de homens e viaturas que desde as três da tarde de anteontem iniciaram o combate ao incêndio.
Medo e cansaço pela madrugada fora
Desolação, medo e cansaço definiam ontem de madrugada o estado de espírito de empresários, população e bombeiros. Cada um com as suas razões, todos ajudaram a apagar o incêndio que lavrou até cerca das seis horas da manhã. Algumas famílias observavam o "espectáculo" desolador, procurando estar alerta para qualquer eventualidade. Maria Vitória dormiu no jardim de uma casa fronteira às instalações da empresa. Ouviu promessas de realojamento, mas "ninguém apareceu" para as concretizar. "Quem fez as promessas apenas quis aparecer na televisão", desabafou à reportagem do DN. Outros optaram por pernoitar em casa de familiares. Poucos se recusaram a abandonar as habitações.