Soares na segunda volta das eleições, e voltando, é claro, a referir o clima fascizante, a atitude de intolerância, etc. Não nos interessa especular sobre a medida em que a declaração do líder vai ser capaz de convencer os votantes comunistas a engolir tudo o que até aqui disseram e fizeram, ajudando agora, com os seus votos, aquele que até ontem era um dos seus principais inimigos.
Azares da esquerda. Com eles ganhará o País, estamos certos.
Também não nos interessa fazer aqui conjecturas sobre o preço - e já hoje se falou dele - mais ou menos elevado que o Dr. Mário Soares terá de pagar por este apoio.
O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Fale aí com o seu colega!
O Orador: - Trata-se, com efeito, de matéria em que não somos versados, ao contrário do próprio Dr. Mário Soares, que, perante todos os portugueses, a propósito do candidato Salgado Zenha, garantiu, com um saber com certeza de experiência feito, que o apoio dos comunistas nunca era gratuito, antes pelo contrario.
Ora se Zenha pagava um preço, porque não há-de o Dr. Mário Soares pagá-lo? Talvez mais barato que o mercado não vai de feição para o Partido Comunista.
Uma voz do PSD: - Muito bem!
O Orador: - Não é porém nada disso que nos leva a ocupar hoje o tempo dos Srs. Deputados, mas apenas a necessidade de desmontar uma enorme mistificação que aqui nos foi trazida pelo Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, fazendo constar dos registos a versão dos incidentes do Porto, da autoria do agente da PSP que estava de guarda ao local.
Têm esse direito os apoiantes de Freitas do Amaral que foram agredidos, provocados e aqui acusados e têm esse direito esta Câmara e o País.
Já na terça-feira considerámos abusivo relacionar qualquer atitude de radicalismo, intolerância ou menor respeito pelas regras da convivência democrática com uma candidatura que fez toda a sua campanha sob o signo do respeito, da tolerância e da concórdia...,
O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Vê-se!
O Orador: - ... apelando à capacidade de discernimento político dos eleitores e não a sentimentos negativos de qualquer espécie.
Simplesmente, e ao contrário do que. afirmou, acusando o Sr. Deputado do PCP, Jerónimo de Sousa, a violência e o «caldo de cultura» de intolerância e radicalismo estiveram, como já várias vezes aconteceu, do lado do PCP e não do lado dos apoiantes de Freitas do Amaral.
Diz-se, com efeito, no Comércio do Porto da própria terça-feira, dia 28 de Janeiro corrente, citando a versão do agente da PSP, de guarda à sede do PCP no Porto.
Na versão deste agente:
O Sr. José Magalhães (PCP): - Leia o resto, Sr. Deputado!
O Orador: - Não tenho nisso problema nenhum, Sr. Deputado. Não vou é ocupá-los toda a manhã com a leitura completa. Mas esta leitura foi indispensável...
O Sr. António Vitorino (PS): - É uma questão de Estado!
O Orador: - O Sr. Deputado António Vitorino também estava na sede do PCP?
Era o senhor que tinha um zagalote - chumbo 3? O esquema é conhecido e várias vezes praticado.
O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Vocês conheciam-no bem. A Alemanha é bom exemplo disso!
O Orador: - Sr. Deputado Jorge Lemos, se quiser podemos ir até à Alemanha, ao célebre pacto da Alemanha...
O estilo é conhecido. Provocar o incidente, contá-lo, retocando-o e, porventura, exagerando as suas proporções - não foi o caso, porque as proporções foram realmente muito mais avantajadas do que as que o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa aqui nos relatou -, assumir o papel de vítima inocente e utilizar depois o incidente e o papel de vítima assim assumido como fundamento para a justificação de atitudes que sem isso estariam completamente incompreensíveis.
Srs. Deputados, o País estimulado com certeza por uma candidatura que, volto a repetir, fez apelo à sua capacidade de discernimento e não a sentimentos negativos, saberá distinguir as coisas, saberá onde estava a violência, quem foram os provocadores e donde vêm os perigos e as ameaças. Era isto que queria trazer a esta Câmara, porque a ela era, sem dúvida, devida a verdade dos factos.
Aplausos do CDS.
Entretanto, assumiu a Presidência o Sr. Vice-Presidente Marques Júnior.
O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Brito.
O Sr. Carlos Brito (PCP): - Sr. Deputado Nogueira de Brito, a primeira questão que lhe queria colocar era