A descoberta de centenas de peças com elevado valor arqueológico, num antigo poço nas traseiras do edifício histórico dos paços do concelho de Torres Vedras, obrigou a autarquia a repensar a remodelação daquele espaço. Em Fevereiro passado, a câmara torreense aprovou um projecto prevendo a destruição do miolo do palacete do século XV e um edifício contíguo. Mas os prédios acabaram por se revelar de grande valor histórico e arqueológico, forçando a edilidade a preservar o seu valor patrimonial.

O espólio agora encontrado é fruto de uma escavação no interior dos edifícios e pátio adjacente, levada a cabo desde Junho pelo Museu Municipal e Espeleo Clube de Torres Vedras. Os trabalhos são supervisionados por arqueólogos do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico e da Assembleia Distrital de Lisboa. A intervenção dos espeleólogos foi necessária para a escavação de um poço de origem desconhecida, com mais de 15 metros, de onde foram retiradas centenas de peças de todos os géneros e de diversas épocas.

A quantidade e qualidade dos achados no interior de um único poço está envolta em mistério. A maioria das peças está inteira e em excelente estado de conservação. Os técnicos são unânimes em considerar que se trata de um autêntico livro aberto, que permitirá a leitura da história dos habitantes da cidade nos últimos cinco séculos. Para Guilherme Cardoso, arqueólogo da ADL, "trata-se de uma descoberta rara e completa, que permite uma reconstituição histórica única".

De um poço quadrado com cerca de metro e meio de lado, foram retiradas centenas de peças desde o século XX, na superfície, até ao século XV, a 15 metros de profundidade, onde se encontram actualmente os espeleólogos.

"Estamos neste momento a reconstituir a vida nos séculos XV e XVI, nos reinados de D. João II e D. Sebastião", afirmou Guilherme Cardoso. Ninguém sabe onde acabará esta viagem pela história, pois à medida que as camadas são desvendadas, surgem materiais de um novo século, não se sabendo a profundidade total do poço.

Os achados evocam actividades muito diversas. Há desde cerâmicas finas, porcelanas, loiça vidrada e vidro a conchas e restos de alimentos, botões, sapatos e outros adornos, objectos de higiene, moedas, armas, imagens religiosas, peças de cobre, ferro e até em madeira (conservadas na água).

De entre elas, destaca-se uma peça única apenas conhecida em desenhos: um púcaro inteiro do século XVII, trabalhado e pertencente à alta aristocracia. Há ainda peças completas de cerâmica, esculturas em terracota, cálices em vidro do século XVII, anéis e outras raridades de valor incalculável, nunca antes encontradas em tão bom estado.

"Em termos de objectos utilitários, é um achado fabuloso", afirmou Isabel Luna. Os técnicos ainda não encontraram uma explicação para o facto desta grande quantidade de objectos ter ido parar dentro do poço. A resposta pode estar no cruzamento dos dados resultantes deste estudo com a história da cidade. Pensa-se que as pestes possam ter levado a população a despejar objectos, pertencentes a pessoas afectadas, nas águas provavelmente inquinadas do poço de abastecimento público.

O projecto de remodelação previa a demolição total do edifício e a construção de um novo,

mantendo-se apenas a fachada de pedra. Não estavam previstos estudos arqueológicos e arquitectónicos. Mas a pressão da Associação de Defesa do Património e da opinião pública obrigaram o executivo camarário a recuar no concurso público entretanto já lançado para a obra.

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