Vozes do PSD: - Exacto!

O Orador: - É nessa perspectiva que pergunto ao Sr. Deputado António Guterres se não considera necessário haver, hoje, nesta situação, a unidade possível, através de listas únicas ou de coligações, onde for possível - não digo que isso seja um traço geral, mas onde isso for possível...

Vozes do PSD: - Não!...

O Orador: - A Presidência Aberta mostrou também, para além dos males que há na sociedade, a importância das autarquias ao nível regional e local, onde se pode fazer essa unidade,...

O Sr. Rui Carp (PSD): - Viva a unidade, a unidade de esquerda!

O Orador: - ... e pergunto se isso não deve ser um objectivo e se os congressos não devem ser «camisas de força» em absoluto numa situação em que a vida muda...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - ... tão rapidamente como estamos a ver.

Em relação a isto, já houve um partido que teve de fazer um congresso, em 1985, para responder a uma necessidade como esta, que foi a da eleição de Mário Soares. Logo, o PS deve, a meu ver, entender a necessidade de unidade como uma exigência premente da população do nosso país.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Mudam muito depressa!

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado António Guterres.

O Sr. António Guterres (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Mário Tomé, em primeiro lugar, quero saudar o carácter moderado e construtivo da intervenção do Sr. Deputado,...

Risos do PSD.

... que contrasta apreciavelmente com a anterior.

Vozes do PSD: - Ah!,..

O Orador: - Espero que o convívio existente hoje entre o Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português e o Sr. Deputado Mário Tomé venha a facilitar a evolução necessária desse partido e que o Sr. Deputado possa ser, pela moderação do seu discurso, um fermento das transformações indispensáveis ao PCP.

Aplausos do PS.

Sr. Deputado Mário Tomé, não há pior unidade que a feita de equívocos.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Isso é verdade!

O Orador: - Ninguém tem maior empenhamento na conjugação máxima de esforços em relação ao PSD, o nosso principal adversário, do que o PS, mas importa que essa conjugação possa assentar em projectos políticos claros e na identificação clara de objectivos políticos comuns para a sociedade portuguesa, e ainda há, a meu ver e infelizmente, um longo caminho a percorrer...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Longo, não! Isso é uma grave injustiça!

O Orador:- ... por algumas forcas políticas, em Portugal, para que uma perspectiva de unidade credível junto da população e do eleitorado português possa triunfar. Pela nossa parte, aguardamos serenamente esse caminho e essa transformação, com a consequência de que agora, sim, ela será inelutável na história.

Aplausos do PS.

O Sr. Mário Tomé (Indep.): - Lisboa mostra que é credível, que é possível!

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Nogueira de Brito.

O Sr. Nogueira de Brito (CDS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado António Guterres, fez V. Ex.ª uma intervenção que não só dignifica o Parlamento como também justifica uma intervenção tribunícia, chamando a atenção para os males e problemas da sociedade portuguesa, com a qual, no fundo, estiveram todos de acordo, ou pelo menos o grande auditório a que V. Ex.ª se dirige, atendendo ao velho princípio de que «quem cala consente». E como o PSD nada disse é porque está de acordo!

Aplausos do CDS e do PS.

O Sr. Deputado António Guterres apontou dois mates fundamentais: a crise de confiança, induzida pelos casos de corrupção e de tráfico de influências, e o risco de ruptura na coesão social, induzida por uma política económica errada e persistente em remédios próprios do monetarismo. Podia ter-se ficado pelo panorama nacional, que lhe dava margem de manobra suficiente para um grande discurso, mas V. Ex.ª não quis deixar de ir aos casos paralelos. Falou-nos do Japão, que estava a pôr em prática políticas keynesianas, dos Estados Unidos da América, de Bill Clinton, de França...

O Sr. António Guterres (PS): - Na França, não! Na CEE!