Guarda
Acidente feriu ainda mais três operárias, encontrando-se duas em estado grave
Carla Campanela
Uma explosão numa fábrica de foguetes em Porto da Carne, Guarda, matou três trabalhadoras e fez três outros feridos, dois dos quais em estado grave, que se encontram na Unidade de Queimados, em Coimbra. As causas do acidente estão ainda por apurar. Uma das vítimas mortais já tinha carta de despedimento e deveria abandonar o posto de trabalho dentro de uma semana. Este é o segundo acidente na fábrica "Nunes e Fernandes, Lda" e também o segundo em menos de dois meses no distrito.
Maria Odete Nunes Velosa Pereira, de 37 anos; sua filha Liliana da Conceição Nunes Pereira, de 17 anos; e sua irmã Maria de Lurdes Coutinho Veloso, de 40 anos; tiveram ontem morte trágica, durante a explosão da fábrica de fogos de artifício "Nunes & Fernandes Lda", em Porto da Carne, concelho da Guarda, local onde trabalhavam. Maria Odete deixou mais três filhas e um filho menor; a sua irmã uma menina e um menino, ainda pequenos. Em Vila Cortez do Mondego, de onde eram naturais, o povo juntou-se no largo e todos choraram a enorme perda.
No acidente, cujas causas ainda não foram apuradas, ficaram ainda feridos Maria Emília Duarte Coutinho, de 23 anos, Maria Aurora Ramos Beirão, de 33 anos, naturais do Porto da Carne, e Maria do Céu Valente, de Vila Cortez, de onde eram também naturais as três vítimas mortais. Os feridos foram transportados para o Hospital Distrital da Guarda, minutos depois do sucedido, em carros particulares. Maria Emília e Maria Aurora foram transportadas de helicóptero, cerca das 18 horas, para a Unidade de Queimados do Hospital da Universidade de Coimbra.
Maria Emília apresentava fracturas do maxilar inferior esquerdo, da omoplata e em várias costelas. As queimaduras não eram muito extensas. Uma hora depois da sua chegada, foi transportada na mesma aeronave, que teve de fazer quatro viagens, Maria Aurora, com queimaduras pronunciadas e graves.
A Maria do Céu teve alta passadas três horas do acidente.
A tragédia deu-se às 14.20 horas, altura em que se ouviu a primeira explosão. Seguiram-se outras, num número difícil de apurar e que se prolongaram sucessivamente até às 17 horas.
Ao todo encontravam-se a trabalhar na fábrica de pirotecnia 20 trabalhadores, em oito paióis, construções estas que ficaram totalmente destruídas. Seguiram-se pequenos focos de incêndios, que foram controlados pelos Bombeiros Voluntários. No ar ficou uma grande núvem de fumo, que se podia avistar a quilómetros de distância.
Nos rostos dos populares havia um grande rasgo de dor pelos familiares e amigos perdidos. Outros a darem graças a todos os santos pelos seus que se salvaram. Segundo disse ao JN o comandante dos Bombeiros, António Sequeira, "as causas ainda estão por apurar, mas assim que a situação estiver mais serena, vamos proceder à remoção dos escombros e à investigação". Acrescentou ainda que há cerca de um mês se registou no distrito um outro acidente, com quatro mortes. Os bombeiros fizeram, nessa altura, uma "circular a alertar para a falta de condições de segurança que existia e alertando para as medidas que deveriam ser tomadas para que as tragédias como estas não voltassem a suceder".
O comandante é de opinião de que os bombeiros "deveriam fazer parte de uma comissão de vistorias, na qual também deveriam estar elementos da polícia de minas e armadilhas".
Das várias entidades que se deslocaram ao local, destacou-se a presença de Maria do Carmo Borges, presidente da Câmara Municipal da Guarda. Para já ainda não pensou em ajudas concretas, mas adiantou que fará tudo o for necessário para ajudar as famílias das vítimas.
Revoltado com a trágica explosão estava também o governador civil da Guarda, Fernando Lopes, que já tinha alertado a fiscalização aquando do recente caso de Juncais.
"Enerva-me que haja pessoas que ainda estejam contra a regionalização... A Inspecção está no Porto. Vou apurar se aquilo que me foi dito desde o último acontecimento é, ou não, verdade. Há qualquer coisa que está a falhar...", adiantou.
É que em Julho ficaram-lhe garantidas todas as condições de segurança, mas que, mais uma vez, falharam. Agora, apenas espera, dado o incidente, que a Inspecção se desloque da capital do Norte ao interior do país.
Questionado o governador civil da Guarda sobre a funcionalidade da inspecção, Fernando Lopes respondeu apenas "sim".
Recorde-se que fez 13 anos no passado dia 12 de Julho que na mesma fábrica morreram também dois jovens.