Entre a História e o drama de amor

Jerry Bruckheimer, produtor de "Pearl Harbor", reage à crítica: "Um filme deve ser bom para que milhões de pessoas o vejam"

Paula Lobo

Andrew Cooper, SMPSP

Jerry Bruckheimer, um dos mais bem sucedidos produtores de Hollywood, reconhece que o filme começa logo por estar "na linha de fogo, com o título". Pearl Harbor é sinónimo do ataque japonês à esquadra norte-americana do Pacífico, de mais de 2 mil mortos e da entrada dos EUA na II Guerra Mundial. Todavia, esclarece: "Tivemos de honrar a História, mas o drama também é importante. Quem quiser saber exactamente como foi tem de ler os livros de História".

Com um primeiro orçamento de 208 milhões de dólares logo recusado pela Disney e sucessivos cortes em todos os sectores - que por várias vezes levaram o realizador Michael Bay a querer desistir -, este épico romântico acabaria por custar 135 milhões de dólares (cerca de 32 milhões de contos). A estes números juntam-se os cinco milhões de dólares (quase um milhão e 200 mil contos) gastos na antestreia, uma sumptuosa exibição para 2 mil pessoas, a bordo de um porta-aviões estacionado no Havai.

"Todos os telefonemas eram negativos, de alguém a querer desistir ou impedir o filme de ser feito", recorda Bruckheimer. Mas, lembra também, "gosto de grandes brinquedos, de grandes dramas, de entretenimento. Gostei do desafio". Afinal de contas, garante, "o medo total de falhar" é o segredo do seu sucesso.

"Quando fiz Top Gun (1986), que custou 14 milhões de dólares, se alguém me dissesse que teria 135 milhões para fazer um filme eu diria que era louco! Mas quando um filme como Titanic faz dois milhares de milhões de dólares de receitas, quebra todas as regras. E era debaixo de água, não tinha grandes estrelas e durava três horas". Conclusão: "Um filme tem de ser bom para que milhões de pessoas o vejam. E, na primeira semana de exibição, [Pearl Harbor] rendeu mais de 90 milhões de dólares. Mas alguns críticos não vêem as coisas assim".

"Falámos com cerca de 80 sobreviventes e sentimos uma certa responsabilidade ao retratar as suas histórias. Responsabilidade de honrar os mortos e os vivos que lá estiveram", conta Bruckheimer, admitindo que muitos dos veteranos se mostraram, inicialmente, "cépticos" quanto à evocação do "Dia da Infâmia".

No entanto, sublinha, "a grande maioria" apoiou a ideia: "Levámo-los para o local de filmagens e ficaram radiantes, mostrámos-lhes o trailer e encheram-se de lágrimas". O argumento e interpretações como a de Josh Hartnett ("uma mistura de Gary Cooper e Montgomery Cliff") ou Kate Beckinsale (que admira pela sua "honestidade e credibilidade") foram alguns dos trunfos.

Porque resolveram, então, estender a acção ao raide sobre Tóquio, já em 1942? "Não queríamos acabar com derrota mas com esperança para as personagens. Foi uma ideia do Randall Wallace [argumentista]", explica o produtor, que tem uma leitura curiosa de Pearl Harbor: se os americanos "sentiam que os japoneses eram inferiores, que os pilotos deles não eram assim tão bons" e "meteram a cabeça na areia" porque estavam ali "só para ajudar os ingleses", os japoneses, por seu lado, "pensavam que éramos uma raça imoral, porque a única coisa que sabiam dos americanos era dos filmes de gangsters".

Versão japonesa com "modificações"

Mais de 30 mil pessoas assistiram, em Tóquio, no dia 21 de Junho, à estreia de Pearl Harbor. Segundo a CNN On Line, a campanha de marketing do filme no Japão foi "cuidadosamente alfaiatada para evitar ofender as sensibilidades do segundo maior mercado cinematográfico mundial". Apenas uma pessoa, que distribuia panfletos onde se lia que os militares japoneses eram "retratados injustamente como cruéis" no filme, protestou fora do estádio onde decorreu a estreia. A Disney fez "pequenas alterações" na versão japonesa de Pearl Harbor, que incluiram a data do ataque e o corte da palavra "sujos", usada por uma personagem para definir os nipónicos.