As Verdades de Hoje e as Mentiras de Ontem

Fiel ao princípio de que a verdade de hoje pode ser a mentira de amanhã, Pimenta Machado acaba de ver consagrada a sua teoria. E a um nível absolutamente insuspeito, pois que tal decorre dum duplo grau de aprovação, envolvendo nada menos que as mais altas instâncias dos poderes judicial e executivo. Pimenta, que há muito é reconhecido como "mestre" na matéria, bem poderá agora reclamar também o grau seguinte, ou seja, o título de "doutor".

A teoria é simples e o mérito académico reside, afinal, na solidez e eficácia com que, ao longo de mais de duas décadas de presidência do Vitória de Guimarães, vem dando aplicação prática à sua tese. Um jogo de felina e subtil manipulação, que, por entre verdades formais e situações reais, acaba sempre por dar corpo à vontade de quem tão laboriosa e pacientemente as vai manipulando. Senão repare-se: um clube que é dos sócios e da cidade (ninguém o pode negar), mas que vive e respira segundo desígnios pessoais; terrenos cedidos para infraestruturas (que, de facto, existem) e deram corpo a projectos imobiliários; um estádio moderno e bem equipado (que não construiu nem custeou) mas onde é a autarquia que continua a arcar com as responsabilidades. Isto para além dos assuntos ligados à propriedade dos passes ou transferências de jogadores, que são questões do âmbito da vida e funcionamento interno do clube.

Independentemente da apreciação que cada um possa fazer da actividade e do estilo do presidente do Vitória de Guimarães, há que não esquecer que a sua actuação tem sido sempre legitimada pelo voto dos associados, e na maioria da vezes sem margem para qualquer tipo de dúvidas. Deduz-se, portanto, que além de convencidos de que Pimenta age no interesse e na defesa do clube, os sócios esperam também que mantenha a linha e o estilo que coerentemente vem mantendo ao longo de todo este tempo.

Mas não se estranhando a atitude dos associados, o mesmo já não se poderá dizer no que respeita aos poderes públicos, designadamente no que toca à autarquia. Não se contestando aqui o seu envolvimento no apoio às actividades do clube, que seria um outro tipo de discussão, as dúvidas surgem quando atentamos na forma tão pouco precavida - dir-se-ia mesmo ingénua - como se relacionou com o clube no caso da propriedade do estádio e no envolvimento das obras para a sua reconstrução.

Nem se poderá argumentar com aparências formais ou até falta de lealdade por parte do clube, que disso tem sido feita história do relacionamento entre ambas as instituições. Das ligações entre política e futebol sempre se tem dito que são, no mínimo, perigosas. No caso de Guimarães tem havido mesmo até uma certa tensão latente, mas nem isso foi suficiente para que se usassem das óbvias e elementares cautelas.

Tal como concluiu Souto Moura, o prudente procurador-geral da República, não existe lesão profunda e substancial de normas ou princípios, nem lesão do interesse público. Ninguém duvidará, tão pouco, que a Câmara de Guimarães fez uma correcta aplicação dos fundos, e que agiu em nome do que supunha serem os superiores interesses do país e da cidade, ou mesmo impelida a alegar um direito de propriedade que sabia não deter formalmente.

Mas uma coisa é agir de boa-fé e outra bem diferente é ser imprevidente. É que ninguém melhor que a autarquia deveria saber que o presidente do Vitória tinha em sua posse uma escritura que lhe dava a propriedade do estádio, e que não teria qualquer dúvida em usá-la para construir a sua verdade formal. Como agora se sugere, bastaria um simples documento devidamente assinado, obviamente por mero formalismo e para guardar em arquivo.

Foi esse o verdadeiro erro da câmara, que não actuou com cuidado nem quer ver as lições do passado.

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