Resolução da Assembleia Geral da ONU condena Israel Palestinianos em ofensiva diplomática

ISRAEL teve ontem uma dupla reacção à votação da véspera nas Nações Unidas, na qual uma grande maioria de países aprovou uma resolução exigindo o fim da colonização nos territórios palestinianos. Os responsáveis israelitas tentaram minimizar a importância da votação, ao mesmo tempo que classificavam a resolução como "vergonhosa".

"Enquanto há guerras em vários pontos do mundo, a ONU volta-se contra a construção de habitações para jovens casais numa parte de Jerusalém", disse ontem o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, aos jornalistas presentes no Knesset (Parlamento). E avisou os palestinianos de que estão a cometer "um erro grave" ao pensar que conseguirão qualquer coisa com medidas como esta.

Os palestinianos mostraram-se, naturalmente, satisfeitos com a aprovação da resolução, que recomenda aos Estados membros da ONU que "desencorajem fortemente as actividades que contribuam directamente para a construção e desenvolvimento de colonatos israelitas nos territórios palestinianos ocupados, incluindo Jerusalém".

Não é a primeira vez que a ONU condena o Estado judaico pela construção do colonato, com cerca de 6500 unidades habitacionais, em Jerusalém Oriental, numa zona a que os israelitas chamam Har Homa e os palestinianos Jabal Abu Ghneim. A 25 de Abril, a Assembleia Geral tinha adoptado outra resolução exigindo que Israel pusesse termo aos trabalhos de construção, depois dos EUA terem vetado por duas vezes consecutivas votações semelhantes no Conselho de Segurança. Mas as autoridades israelitas ignoraram as exigências das Nações Unidas e prosseguiram os trabalhos de construção.

Foi precisamente o início da construção destas casas, em Março passado, que levou os palestinianos a interromper as conversações de paz, criando um impasse que se prolonga até hoje. A votação de terça-feira na ONU é o resultado de um longo trabalho de "lobby" por parte dos palestinianos que ontem consideravam o resultado como "um apoio internacional legítimo" à sua posição.

Mas a ofensiva diplomática palestiniana desenrola-se também noutras frentes. O presidente da Autoridade Palestiniana, Yasser Arafat, esteve ontem em Viena e anteontem em Londres, onde desmentiu vigorosamente as acusações de corrupção que lhe têm sido feitas, garantindo que a ajuda económica dada pela comunidade internacional não está a ser desviada pelo seu Governo. "Estas informações fazem parte de uma campanha contra nós. Corrupção significa dinheiro. Onde é que está o dinheiro?", perguntou.

Em Londres, numa intervenção no Royal Institute of International Affairs, Arafat avisou que a alternativa ao recomeço das negociações é o regresso da violência. O líder palestiniano, cuja popularidade tem vindo a descer em flecha, sabe que a paciência do seu povo está a chegar ao fim: "Os palestinianos não estão zangados, estão furiosos. Perguntam-me: "É esta a paz pela qual votámos nas eleições"?".

Uma sondagem realizada pelo Centro de Jerusalém para a Comunicação e os Media mostra que neste momento apenas 50 por cento dos habitantes dos territórios estão satisfeitos com a actuação de Arafat, um número que em Maio era de 54 por cento e em Novembro de 68 por cento. É uma desilusão que se reflecte também no apoio ao processo de paz: só oito por cento continuam a acreditar nele, contra 20 por cento no final do ano passado.

Más notícias para Arafat são ainda as que mostram que 45 por cento dos palestinianos consideram que há muita corrupção no seu Governo. Ainda ontem em Viena, o líder palestiniano voltou a referir-se ao assunto para explicar que a ajuda internacional está ligada a projectos preciosos "controlados pelos países doadores e pelo Banco Mundial". O que se passa, segundo Arafat, é que os palestinianos estão a viver em condições de extrema miséria e que, por isso, o risco de uma explosão é enorme. "Chegámos à zona vermelha da fome em algumas partes dos territórios, sobretudo na Faixa de Gaza", avisou.

Alexandra Prado Coelho