Agência Espacial Europeia explica explosão do foguetão O computador que controla a posição do Ariane 5 na descolagem não conseguiu processar todos os dados e provocou a explosão do aparelho. A Agência Espacial Europeia terá agora de gastar tempo e dinheiro para corrigir o problema. De quem é afinal a culpa? De todos, conclui o director-geral da agência.

A explosão do primeiro foguetão europeu Ariane 5, no momento da descolagem, no dia 4 de Junho, foi originada por deficiências no sistema informático que determina a posição do aparelho durante a partida. É a explicação oficial que a Agência Espacial Europeia (ESA) acaba de dar, baseada no relatório de um painel de investigadores independentes.

"O falhanço do Ariane 5 foi causado por uma total perda de informação de comando e de posição 37 segundos depois da ignição do principal motor (30 segundos após a descolagem). Esta perda de informação deveu-se a erros de especificação e de concepção do "software" do sistema inercial de referência" - conclui o relatório do painel de investigadores, divulgado na terça-feira em Paris. É esse sistema inercial que dá informações sobre a trajectória do foguetão ao computador de bordo, que por sua vez fornece as ordens de pilotagem.

No momento da explosão, o Ariane 5 tinha descolado havia apenas 40 segundos do Centro Espacial de Kourou (Guiana Francesa), ia a 3700 metros de altitude e transportava quatro satélites científicos da ESA destinados ao estudo dos efeitos do Sol no campo magnético da Terra. Nem os satélites, no valor de 500 milhões de dólares (7,6 milhões de contos), nem o foguetão tinham seguro.

Acontece que o programa de computador responsável pela direcção do voo calculou que o Ariane 5 tinha saído da sua trajectória, o que não era verdade. Em seguida, o computador deu ordens para que a trajectória fosse ajustada, controlando os propulsores de combustível sólido e o motor do foguetão. E foi então que o Ariane 5 sofreu bruscamente uma mudança de curso. A partir daí, as ligações eléctricas entre os propulsores de combustível sólido e o andar principal do foguetão entraram em ruptura e o mecanismo de autodestruição foi accionando.

O relatório considera também insuficientes os testes feitos ao sistema de controlo do voo. A capacidade de cálculo do sistema informático ficou totalmente ultrapassada com a quantidade de parâmetros que tinha de produzir, nomeadamente sobre a velocidade do foguetão. Isto porque o sistema foi inicialmente concebido para o Ariane 4 - menos potente, mas que permitiu à ESA conquistar o primeiro lugar no mercado mundial de lançamentos comerciais de satélites.

São assim confirmadas as suspeitas dos engenheiros da ESA, que dias depois do acidente diziam que o Ariane 5 tivera um mau funcionamento no sistema informático (ver "Afinal o Ariane 5 autodestruiu-se", PÚBLICO de 16/6/96). Já nessa altura se sabia que o foguetão se autodestruiu 40 segundos após a descolagem, antes da ordem de destruição emitida do solo. Essa ordem, depois de detectada a mudança de rota e o início da desintegração do foguetão, não teve afinal qualquer consequência no Ariane 5.

Os investigadores fazem 14 recomendações à ESA para evitar uma repetição do desastre, entre as quais se inclui uma reapreciação de todo o "software". Os responsáveis da ESA estimam que os custos das verificações e modificações a introduzir no Ariane 5 atingirão mais dois a quatro por cento do custo total do programa - ou seja, entre 740 milhões a 1480 milhões de francos (22,2 milhões a 44,4 milhões de contos).

Desde 1988, a ESA já gastou 7200 milhões de dólares (1100 milhões de contos) no desenvolvimento deste foguetão - uma nova geração de lançadores capaz de pôr em órbita geoestacionária cargas até 6,8 toneladas, contra as 4,5 toneladas do Ariane 4.

Na conferência de imprensa da ESA em Paris, o local da divulgação do relatório sobre as causas do acidente, perguntaram ao director-geral da agência, Jean-Marie Luton, se alguém será responsabilizado pelo desastre. "Não há nenhum culpado? Não. Somos todos culpados e assumiremos a responsabilidade."

O desastre representa um forte revés nas pretensões da ESA em prolongar o seu domínio no espaço ao século XXI. As deficiências encontradas no Ariane 5 já conduziram ao adiamento do segundo voo de Setembro para o primeiro semestre de 1997. E a ESA não exclui a hipótese de o terceiro voo do foguetão, previsto como o primeiro lançamento comercial, ainda ser um ensaio.