14 Diário da Câmara aos Deputados
portugueses. Temos todo o direito de, altivamente, exigir que haja para nós o respeito que nos é devido como Nação independente. Temos o direito de o exigir, por nós e por todos aqueles que morreram na terra da Flandres em defesa de Portugal!
Muitos apoiados.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem!
O orador não reviu.
O Sr. Cunha Leal: - Sr. Presidente: começo por me associar aos votos do Sr. Ministro dos Estrangeiros de que ou seja falsa a notícia de um atontado contra o Príncipe de Gales e contra o primeiro Ministro inglês ou que, a confirmar-se essa notícia, qualquer destas duas ilustres personalidades tenha saído ilesa dêsse atentado.
Também me não satisfizeram os termos em que vem redigido o telegrama do nosso embaixador em Londres. Esta questão tem, porém, de ser encarada com muita serenidade.
A grande razão de os povos poderem, às vezes, marcar uma grande posição na História está em terem um direito nitidamente histórico, em primeiro lugar, e de em segundo, saberem defendê-lo com serenidade.
Nós temos o direito histórico de ser aqueles que continuem a desenvolver a civilização nas nossas colónias, porque elas são hoje o resto de um património mais alto que o passado nos deixou. Devemos valorizar as nossas colónias, e temos feito todos os esfôrços para isso. dentro da modéstia dos nossos recursos. Entrámos na guerra para afirmar bem o direito que temos a continuar a fazer desenvolver o nosso património colonial. Temos, portanto, o Direito, a Razão, a Justiça por nós?
Apoiados.
E destas armas que a nossa diplomacia sé deve servir para conseguir as afirmações de carácter internacional que tranquilizem todos os portugueses.
Na hora em que, porventura, o atentado se estivesse para cometer, na hora em que os portugueses sentissem que mais uma vez os direitos históricos de um povo iam ser feridos e que mais uma vez a injustiça internacional se fazia sentir, os portugueses saberiam unir-se como um só homem, para afirmar altivamente os seus direitos! Apoiados.
Mas não chegámos a essa ocasião. Estamos em pleno domínio de negociações. Não nos deram uma resposta que nos tranquilize, mas fizeram-nos afirmações que podem servir de base para muito. É preciso que a nossa diplomacia continue a acompanhar cautelosamente esta questão, em lugar de se deixar surpreender com as notícias que surgem inopinadamente nos jornais de grande informação. É preciso que se sigam de perto as circunstâncias que se dão em volta do Tratado de Locarno, as aspirações da União Sul-Africana e a de todos os povos que querem ser concorrentes connosco na posse dos nossos domínios coloniais, subordinando-se às indicações do Ministério dos Estrangeiros. Confio que o Sr. Ministro e o Govêrno não abandonarão esta questão.
Não fiquei satisfeito com a resposta que nos foi dada. Em todo o caso, o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, partindo dela para futuras negociações, saberá obter as afirmações de respeito pelo nosso domínio colonial, pela nossa história, pelo nosso esfôrço para entrarmos na guerra, arrancando-nos uma grande parte dos nossos haveres e a vida dos nossos melhores soldados, não para conquistas materiais, mas para afirmar ao mundo que, estando sempre ao lado do Direito, da Razão e da Justiça, queríamos, como queremos, que se respeitem êsses princípios supremos.
Não quero pronunciar palavras imprudentes. A Inglaterra tem para connosco obrigações. Diz o nosso embaixador no telegrama que ela saberá cumprir essas obrigações. Com efeito, em 1914, quando entrou na guerra, a Inglaterra pugnava pelo Direito e pela Justiça, e ela não esquecerá, decerto, a razão que nos assiste.
Devemos estar vigilantes e cautelosos, mas não como provocadores. Nem descuidos nem violências. É esta a posição que a União Liberal Republicana entende dever tomar nesta hora.
Os pequenos povos têm um direito sagrado de defender-se; e êsse, quando bem orientado, com serenidade, é tam grande que a Bélgica é hoje, por isso, uma grande nação internacionalmente: