Uma coincidência fez com que o respeitado relatório anual do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) de Londres fosse ontem publicado, horas depois do assalto à embaixada em Lima, e nele se afirme, quase como um comentário definitivo sobre a questão, que "a democracia está sempre convalescente na América Latina".
No capítulo dedicado ao Centro-Sul do continente americano, o documento, referente a 1996, sublinha que esta convalescença se faz enquanto continuam a desenvolver-se novas ameaças para a segurança da região. Resultado: mais violência, mais actos de terrorismo.
A questão fulcral para a região, do ponto de vista do Instituto, é a droga. Não apenas pelo facto de os cartéis serem uma ameça directa à segurança dos países onde actuam, mas porque espalham por todas as camadas da sociedade a sua cultura de corrupção. E a corrupção, diz o IISS, é "talvez o maior obstáculo à consolidação das instituições democráticas na região".
Sobre a relação com os Estados Unidos, que tudo condiciona, o documento observa que a maioria dos programas patrocinados por Washington de luta contra o tráfico de droga se baseiam "numa ajuda militar e policial" que "se substituiu aos programas de assistência militar e policial destinados à luta anticomunista dos últimos trinta anos."
O instituto nota que os norte-americanos decidiram privilegiar as instituições dos países que mais colaboram com eles, em detrimento das outras. Melhor exemplo: a Colômbia, onde o Exército e a polícia gozam do auxílio de Washington, ao contrário do Presidente Ernesto Samper e do executivo.
"Esta abordagem recorda os erros do passado, quando os Estados Unidos favoreciam os militares da América Latina como vector da luta contra o comunismo e a subversão" - afirma o relatório.
Sobre o caso específico das relações EUA-Cuba, o IISS considera-as um vestígio do conflito Leste-Oeste que comandava a política internacional, mas que hoje deu lugar a questões como a integração económica, a luta contra o narcotráfico e a consolidação da democracia.