Galloismos

Comecei o filme ["Arizona Dream", de Emir Kusturica] com a impressão de que entre mim e Emir haveria uma relação de camaradagem... Pelo conhecimento que tenho do Emir e de mim, apostaria num óptimo relacionamento. Mas a realidade foi diferente. Quando Johnny Depp finalmente o seduziu, aquela coisa de darem palmadinhas nas costas um do outro, de se considerarem génios, os dois vestidos de preto e com livros de Jack Kerouac debaixo do braço, tornou-se um bocado enjoativo. Por isso preferi não me juntar ao clube das rock stars (...) Ao nível da representação já era um "outsider". E a nível social também tendia para o isolamento. Ou seja, se fui um "outsider" em "Arizona Dream" devo-o 50 por cento à personagem e 50 por cento à forma de me relacionar com os outros.

Eu queria ser uma estrela de cinema. Nunca um actor. Queria ser uma estrela rock, sobretudo nunca um músico. Queria ser uma lenda, nada menos do que isso. Queria ter um impacto que durasse, não um impacto efémero. Não queria ser Hitchcock, queria ser Pasolini, alguém que tivesse verdadeiro impacto na sua época.

Estou-me a marimbar para [John] Cassavetes. Não me interessa nada. Sinto nos filmes dele demasiadas tendências liberais de esquerda, uma das tendências mais desagradáveis que conheço. Posso apreciar a inteligência de Cassavetes, sei que ele não era um idiota. E vi todos os seus filmes, em Portugal, numa retrospectiva. Mas não tenho vontade nenhuma de ver os filmes dele outra vez.

idem

Eu, Ronald Reagan, e a minha "art dealer" Annina Nosei. 1986. Sempre gostei de Reagan. Ainda gosto.

Gallo, 1982-1999, diários (legenda de uma fotografia em que aparece com Ronald Reagan)

Quando a escolhi para o filme ["Buffalo 66"], Christina Ricci era obesa. Não tinha corte de cabelo que se visse, não tinha estilo, não fazia a mínima ideia. Pu-la bonita no filme e hoje quando ela me vê pergunta-me como é que eu me chamo. E acrescenta: "Ah, trabalhámos juntos, certo?"

idem

Podia ter-me suicidado na adolescência, mas as pessoas ficariam com as minhas coisas e alguém tocaria na minha guitarra e ficaria com o meu dinheiro e mudar-se-ia para o meu apartamento, e isso eu não suportaria. No fundo, fiquei vivo porque não consigo largar as coisas. Não é por mais nada.

Primeiro que tudo nunca me consideraria um artista. Sou um cúmplice, sou um impostor...

idem

Vamos falar sobre como George Bush tem sido, até agora, óptimo presidente. Sobre a razão por que é que os porto-riquenhos acham que precisam de desfilar pela Quinta Avenida abaixo. Ou porque é que os 'gays' também querem isso. Porque é que o desfile do Dia dos Veteranos não é na Quinta Avenida? As pessoas que defendem a nossa Nação têm direito apenas a uns quarteirões em Brooklyn enquanto os maricas e os porto-riquenhos ficam com a Quinta Avenida. Vamos falar de vingança.

idem

"Electric Glide in Blue", de James William Guercio, é a nata dos "road movies". Com o melhor final da história do cinema. Foi [o realizador] Gaspar Noè que mo fez descobrir porque ele sabe que, sendo eu profundamente republicano, nunca vi "Easy Rider", que considero um filme de hippies drogados. "Deste vais gostar", disse-me. "Os bons são os polícias e os maus os hippies". Adorei.

Vejo o mundo da forma mais bela quando olho para um coelho ou para um veado. São criaturas frágeis, por isso onde elas existem deve ser um mundo mais seguro. Estou apaixonado por estes animais, até de uma forma carnívora.

Cannes 2003, conferência de imprensa de "Brown Bunny"

na cabeça de gallo

Paisagens de melancolia

galloismos

músico, narcisista, pintor, mitómano, reaccionário, realizador, actor, modelo, romântico, ressabiado

conta-me histórias

hidalgo um cowboy das arábias

daqui pr'á alegria

perversos, nós?

diga ortonesque e não se ria

Punchline em guarda!

estreiam

na teia dos Mão Morta

abençoada pedal steel guitar

califone

na loja dos trezentos com Bobby Conn

como num filme dos irmãos Coen