Concessão de créditos "injectava" dinheiro de clientes em empresas que, comprovadamente, são pertença de familiares

Margarida Maria

Quadros do Banco Nacional Ultramarino (BNU), alguns já afastados de funções dirigentes, terão aproveitado concessões de crédito a clientes para os levar a "injectar" montantes elevados em empresas de familiares daqueles altos funcionários bancários. Os montantes envolvidos são superiores a uma centena de milhar de contos.

A situação prende-se com um ex-director do Banco Nacional Ultramarino (BNU), de apelido Vilela, que exerce funções similares no Banco do Comércio e Indústria (BCI), estando suspenso nesta instituição por alegadas burlas, supostamente cometidas ao serviço do primeiro banco, onde os créditos agora em causa terão sido concedidos.

As suspeitas de burlas, que a Polícia Judiciária (PJ) do Porto está a investigar, reportam-se a operações de "engenharia" financeira - nomeadamente "rotação" de cheques - em favor de um empresário de Alijó, de apelido Cunha, que terão lesado o BNU em cerca de um milhão de contos, mas que terão envolvido valores da ordem dos 2,5 milhões de contos, como o DN noticiou na semana passada.

Na concessão de créditos para investimento em empresas registadas em nome de familiares dos então quadros do BNU estarão envolvidos, para além de Vilela, (que era coordenador regional para o Nordeste), um director comercial do Norte do mesmo banco, de apelido Velho, e um responsável da mesma instituição bancária para a área de obras da zona Norte, de apelido Paulo. A mulher e uma filha de Vilela, a mulher de Velho e o sogro de Paulo são oficialmente os sócios de uma empresa construtora que terá recebido dezenas de milhares de contos de um empresário de Vila Real, com origem em créditos concedidos pela banca e em capital próprio.

O empresário, num processo que se arrasta desde 1992, terá "injectado" dinheiro na firma de construção, recorrendo, em parte, ao crédito disponibilizado pelo banco em seu favor. Cliente do BNU há mais de 20 anos, o empresário era já detentor de um elevado plafond de crédito, de onde terão sido retirados alguns montantes para "investir" na firma de construção.

Confrontado com irregularidades na construtora, o empresário viria a afastar-se do negócio, uma situação que se revelou muito difícil de resolver, já que os sócios terão alegado dificuldades financeiras.

A instâncias do empresário, foi elaborado um protocolo que previa a sua saída da firma, com a devolução de montantes e com recurso à entrega de uma loja num imóvel da própria construtora. Mas, como o DN apurou junto de fontes bancárias, quando o montante da dívida da construtora diminuiu, o empresário seria confrontado com a igual diminuição do plafond de crédito. Esta situação acabaria por se resolver, tendo o BNU voltado a conceder ao empresário os montantes de crédito iniciais, que eram anteriores aos negócios que entretanto firmara com a construtora.

Fontes em Vila Real garantiram que esta questão criou problemas pessoais graves ao empresário que, contactado pelo DN, se escusou a prestar declarações.

Também um industrial de hotelaria passou por uma situação similar, que terá sido colmatada por Cunha, o empresário que estará envolvido na questão relacionada com a "rotação" de cheques. De referir que Cunha, através de vários familiares possuidores de uma empresa imobiliária, tem negócios com a mesma sociedade construtora de quem, aliás, terá recebido duas fracções, alegadamente para o pagamento de dívidas da construtora à sua empresa de tintas.

O DN contactou o Banco Nacional Utramarino, mas a directora de Marketing, Madalena Torres, afirmou que aquela instituição bancária "não tem qualquer consideração a fazer sobre a situação". Questionada sobre eventuais inquéritos internos ou auditorias, manteve a escusa em prestar esclarecimentos.