Sampaio, em Faro, apela à coesão a pensar nas regiões e recebe Guterres "António ..."

Ângela Silva

Quando o Presidente trata o primeiro-ministro por tu, as Presidências Abertas já não são o que eram. A pedagogia de Sampaio no terreno é contida. Está em Faro para falar de ambiente e património mas não vai a Sagres. Almoçou com regionalistas mas "baniu" ataques à coesão nacional. E esteve uma hora a sós com Guterres. Foi o dia institucional. Hoje, mergulha no terreno.

"António!...". Guterres já vinha pelos lindíssimos claustros do Museu Municipal de Faro ao encontro dos jornalistas mas travou. Sampaio tinha-o chamado e estava, inesperadamente, à espera no meio do corredor. Os "flashes" dispararam. Quem estava registou o momento intimista. O "António" e o "Jorge" sugerem coisas novas no estilo das Presidências Abertas. Ninguém sabe o que está para vir mas, para já, o estilo das incursões do Presidente da República no terreno é cauteloso. A léguas de Soares. Comedido ao ponto do primeiro dia no distrito de Faro ter chegado ao fim quase sem deixar marca.

A regionalização é um tema obrigatório quando se mergulha no Algarve e Sampaio sabia-o. Mas escolheu para temas fortes, o património, o ambiente e a coesão nacional. Uma espécie de passagem ao largo do epicentro da polémica, ao ponto do almoço de ontem com os deputados eleitos pelo Algarve - todos regionalistas -, e com o Presidente da Assembleia da República - um anti-regiões vencido mas não convencido -, ter sido fechado aos jornalistas.

Almeida Santos nem quis prestar declarações. Recusou-se porque "não ía falar ao lado do Presidente". Ou são inibições próprias de quem vai substituir Sampaio durante um mês ou são resquícios das divergências latentes sobre as regiões.

"Protagonismos regionais", alto!

Almeida Santos tem reticências e não as escondeu à mesa, onde os deputados do PS e do PSD discutiram os diferentes mapas que preconizam para dividir o país. Sampaio criticou indirectamente a falta de esclarecimento promovido por quem de direito sobre a reforma administrativa na calha. Mas, mais tarde, num encontro formal com os jornalistas, afastou a temática: "Esse tema, para já , não está aí a justificar o que quer que seja nesta viagem".

Ficam os seus incessantes apelos à coesão nacional, que não são nada inocentes. Mais o aviso que acabou por deixar registado nos microfones: "Penso que precisamos de ter um desenvolvimento regional saudável de modo que as diferenças se atenuem pelo menos do ponto de vista regional, e isso tem que ser feito com protagonismos, mas que não podem de modo nenhum pôr em causa a unidade do país".

Antes, Guterres também tinha sido parco sobre as regiões. "Esse é um problema do PSD". Faltava pouco para se saber o que tinha Marcelo Rebelo de Sousa a dizer. Sampaio e Guterres estavam na hora da contenção. Mendes Bota, um dos deputados que almoçou com Sampaio, saíu afogueado: "Tenho que ir para Lisboa. É meu dever estar lá na reunião para defender a linha regionalizadora no PSD".

Além dos deputados e de Guterres, o Presidente recebeu o Governador Civil, as autoridades militares, o bispo. Uma Presidência Aberta é assim mesmo e Sampaio confessou um sonho: "O meu grande objectivo é que todo o meu mandato seja uma Presidência Aberta Permanente". As declarações que se seguiram não garantiram nada, mas ficaram a anos luz do estilo das últimas Presidências Abertas de Soares, as tais que ajudaram a "escavacar" o cavaquismo.

Sampaio diz que não tem nenhuma obsessão de só mostrar o lado "solar" do Portugal desconhecido, mas para já não se lhe nota nenhuma tendência de sinal contrário. Nestes dias vai falar de património mas não vai ao (irreconhecível) promontório de Sagres. Como meio mundo, Sampaio também tem "uma visão muito negativa" sobre a obra. Mas "essa visita ficará para outra altura". Não é uma prioridade.

Até sábado, o PR vai ver outras coisas - os problemas da florestação, do ambiente, do Guadiana, do desenvolvimento rural, do interior ... . Guterres atalhou o caminho como pôde: "Pareceu-me útil informar o sr. Presidente sobre diversas acções que o Governo está a desenvolver nesta região no que toca à floresta, às pescas e às infraestruturas". E já que se estava no primeiro dia do período extraordinário concedido pelo Governo para a legalização dos emigrantes clandestinos, lançou um veemente apelo: "Legalizem-se!". A "obra" executiva estava discretamente invocada. Os apelos à serenidade não encontravam razão de ser ...