Tupperware Vintage

%Ana Gomes Ferreira

Basta dar-se uma olhadela nos "sites" de leilões na Internet para se descobrir a mania - anda por ai gente a coleccionar peças "vintage" de Tupperware. Quanto mais antigas e raras, mais caras. Algumas, como o célebre saleiro e pimenteiro com suporte, chegam a custar dezenas de euros, na net e nas lojas que vendem objectos "retro" (em Lisboa há algumas).

A maior parte dos objectos "vintage" comprados por coleccionadores não vão parar ao frigorífico. São muito bem limpos e colocados em prateleiras, à vista de todos, porque de artefactos de uso doméstico passaram a objectos de decoração e a peças de colecção. Há quem procure, pelas lojas e pela net, a caixa em plástico transparente colorido de amarelo que falta na colecção de cinco em diversos tamanhos.

Este coleccionismo só é possível porque, tal como há quem deseje mais um plástico em casa, existem os que querem ver-se livres desse material sintético que nos inundou as casas nos anos 50. Lixo de plástico, dizem alguns, raridades de uma era de culto, considera outros.

A Tupperware nasceu porque as fatias de queijo eram triangulares. E por causa de Earl Tupper, um rapaz pobre que decidiu anets dos dez anos ser milionário.

Earl estava convencido que o seu destino seria idêntico ao de Edison ou Ford. Para isso, tinha que se tornar inventor. Antes disso acontecer, criou a sua primeria empresa - tinha dez anos e decidiu distribuir de porta em porta os produtos da pequena quinta do pai; a falta de iniciativa do pai irritava-o. Quando casou tornou-se tratador de árvores e jardins, mas a Depressão levou a firma à falência e Earl teve a sorte de conseguir um emprego numa fábrica de plástico.

A II Guerra deixou a fábrica com material a mais e foi pedido aos funcionários que inventassem um novo uso para a matéria. Earl comprou moldes e máquinas velhas e fabricou a primeira tijela Tupperware.

Começou por oferecer a tijela a quem lhe comprasse caixas para cigarros e para sabão, que já fazia por conta própria. A criação valeu-lhe prémios de "design" mas rendeu-lhe pouco dinheiro.

Earl já tinha abandonado a fábrica e as finanças iam mal. Um dia, a olhar para as receitas de 1851, percebeu que numa localidade do país as suas tijelas vendiam como cachorros quentes. Brownie Wise, uma muito bonita e pouco instruída mãe solteira, encontrara a fórmula que tornaria a Tupperware popular e Earl milionário. Para aumentar os rendimentos, Brownie vendia as tijelas de Tupper durante as festas que dava em casa. Earl Tupper nomeou-a directora de vendas.

As donas de casa americanas aderiram ao conceito. Tornaram-se, aos milhares, divulgadoras. Convidavam as amigas, que por sua vez levavam mais amigas, e mostravam as novas criações de Earl Tupper. Além de não quebrarem, eram inteligentes porque tinhama forma do que se queria pôr lá dentro - caixas triangulares para o queijo, caixas quadradas para as sanduíches... O ponto alto das reuniões era o fim - a anfitriã oferecia um lanche e "gadgets" de cozinha que mais pareciam brinquedos.

Um dia, sem mais nem menos, Tupper despediu Wise, divorciou-se, comprou uma ilha na América Central, vendeu parte da empresa e deixou os Estados Unidos. É que alguém lhe tinha dito que era a única forma de escapar aos impostos e de evitar que os filhos e herdeiros fossem depenados pelo IRS mal morresse.

Earl desenhou até morrer, nos anos 80, década em que as suas criações iniciais perderam patente e foram copiadas por todas as marcas de plásticos. Mas não há como uma "vintage" Tupperware, da década de 50, 60 ou 70, quando os lares americanos viveram a idade do plástico.

A canelada

Comida, trânsito e cigarros

A jovem persa

Onde está Karadzic

As novas Evitas

Os criadores

O jogo da minha vida Gomes FC Porto-Peñarol

Voar só com prazer

Tupperware vintage

Cercados de químicos

Rum, das Caraíbas para o mundo

A máquina do tempo Calouste Sarkis Gulbenkian

Rui Cardoso Martins

Cartas da Maya