30 Diário da Câmara dos Deputados
Tam susceptível é o Sr. Soares Branco que até se ofendeu com a circunstância de nós nos referirmos à sua tenacidade, o que não constitui um defeito, mas uma virtude.
O Sr. Soares Branco não é simplesmente técnico; é politécnico.
Não sei se S. Exa. teve já a educação técnica duma cigarreira; não sei se sabe fazer muito bem um cigarro, e se é entendido no fabrico de tabaco.
Não sei se S. Exa. quando falava como técnico a respeito de tabacos o fazia invocando a sua especialidade tabaqueira. Se falava como financeiro o projecto em questão não o honra sobremaneira; portanto não era com certeza como financeiro que S. Exa. falava.
Eu direi ao Sr. Soares Branco que, aparto nós não sabermos enrolar tam bem um cigarro, todos temos capacidade para estudar a questão e para falar a êsse respeito com tanta tecnicidade como a de que é provido S. Exa.
Todos têm a mesma autoridade que S. Exa. para a porem aqui, como lhes cumpre, na defesa dos interêsses do País. Deixemos, portanto, essas cousas dos técnicos e vamos apenas falar a respeito do problema.
Estranhou o Sr. Soares Branco, que não foi aqui discutido nem na sua honra nem na sua inteligência, de que legitimamente se orgulha, bem como nós outros membros desta Câmara, que esta questão tivesse descido daquela atmosfera em que se encontrava para se transformar numa cousa em que as paixões começam a tumultuar e a ferver.
Os animais são divididos em dois grupos : animais de sangue frio e animais de sangue quente. Cada um há-de falar consoante o seu temperamento. Eu, por exemplo, não pertenço à categoria dos animais de sangue frio; falo, portanto, com a paixão que é natural que a minha alma empreste às minhas palavras quando o assunto a pode apaixonar, e êste assunto é próprio para apaixonar a minha alma porque interessa fundamentalmente à vida da Nação pela repercussão futura que pode trazer à nossa vida.
A questão dos tabacos bem delineada pelo Parlamento português pode transformar-se num instrumento de progresso para o País, mas pode transformar-se também em mais uma desilusão para os republicanos e conduzir até a República a um insucesso financeiro.
É possível que alguns homens de alma fria não se apaixonem por esta questão, mas deixem que se apaixonem aqueles que têm sangue quente e que êstes ponham na discussão o calor e a paixão que sejam naturais, exigindo-se apenas que as paixões que movimentem os homens nesta hora sejam paixões nobres e alevantadas. Tam nobre e alevantada é com certeza a paixão do Sr. Soares Branco, querendo com alguns dos seus companheiros socializar um determinado instrumento de produção, como nobre o alevantada é a nossa missão ao vermos nessa forma da règie uma forma condenável aos interêsses do País.
Apoiados.
E, de resto, se neste debate algumas palavras foram pronunciadas trazendo consigo embrulhadas insinuações, não foram as oposições que as proferiram.
Apoiados.
Essa glória cabe a um membro da maioria (Apoiados) e êsse membro da maioria viu-se apoiado por alguns membros do Govêrno.
Nós limitámo-nos a pôr o problema sem fazermos insinuações, mas não respeitamos demasiadamente os melindres dos outros, quando se trata de defender os interêsses da Nação.
Não fomos nós os provocadores, mas invoco a circunstância de tantas vezes o órgão do Partido Republicano Português e das suas comissões políticas enxovalhar alguns dos seus adversários e entre êsses adversários conto-me eu.
Não venho pedir contas aos dirigentes do Partido, apesar de ser legítimo que o fizesse.
É preciso que se saiba que dentro da República não há privilegiados (Apoiados), não há o direito a ter mais melindres dum lado do que doutro.
Apoiados.
A honradez existe em todos os grupos. Nada, portanto, de melindres. Cada um assopre o seu fogo como quiser, mas não nos venham perturbar com os seus melindres.
A primeira parte do discurso do Sr. Soares Branco foi rigorosamente preenchida