aos seus deveres de aliado com a Inglaterra; mas neste momento sinto que há alguma cousa que se passa longe de nós e que me esfria a alma. Realmente, tenho nas mãos um recorte de um jornal belga onde mais uma vez se volta a falar no perigo que correm as nossas colónias.
O tratado de Locarno, que Briand anunciou ao mundo como sendo a primeira semente lançada à terra para a paz universal, parece que está destinado a ser para Portugal origem de fundas amarguras.
Naquele jornal afirma-se que o Sr. Briand, na véspera de falhar esta alta conferência da paz, andava negociando a entrega à- Alemanha de um mandato colonial. Nós, portugueses - não quero saber do partidos, e nesta hora quero crer que não há partidários e só há portugueses em face de um problema (Apoiados) - precisamos marcar desde já a nossa posição.
Ternos de dizer ao mundo que, haja o que houver, as colónias portuguesas são de Portugal, representam uma tradição conquistada à custa de muito sangue e sacrifícios, e que não há um português único que sem o maior desgosto seja capaz de deixar perder essa herança de nossos avós.
Apoiados.
Não podemos permanecer neste estado de incerteza e inquietação em que temos vindo a viver. Por toda a parte e em todos os jornais se fala na ameaça que paira sôbre as nossas colónias; ora é preciso varrer esta nuvem que paira no nosso horizonte. Não podemos estar tranquilos emquanto permanentemente esta sombra toldar a nossa vista.
Apoiados.
A Alemanha não perdeu até hoje a ânsia que tem do possuir colónias, e veja V. Exa. que, um dia após outro, ela vem conquistando terreno.
Parece que toda a gente esqueceu o mar de sangue que ela fez correr; e nós que batalhámos contra ela, que saímos vencedores, não temos ninguém que peça na Sociedade das Nações o lugar que se pretende conquistar para a Alemanha.
Apoiados.
Na verdade, qual é a nossa situação na Sociedade das Nações em face da pretensão da Alemanhã?
O que pretende ela?
O assunto é delicado; e portanto, quero tratá-lo convenientemente. Nestas condições, porque não quero tratá-lo em negócio urgente, pois tem grandeza de mais e é delicado em excesso, anuncio a V. Exa., Sr. Presidente, que, desistindo do pedido de negócio urgente, vou mandar para a Mesa uma nota de interpelação ao Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros sôbre a nossa política internacional.
Creio que se há assunto que interêsse à vida da Nação, nenhum mais a interessa neste momento do que o da nossa situação em face da Sociedade das Nações, em face das pretensões da Alemanha e em face da nossa aliança com a Inglaterra.
Apoiados.
Sr. Presidente: desculpe-me o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros: a declaração que S. Exa. ali acaba de ler, o telegrama enviado gelou-me a alma! Bem longe de ter o optimismo do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, sinto que anda qualquer cousa no ar a ameaçar-nos. Temos de varrer - mais uma vez o repito - do nosso horizonte político essa ameaça negra; temos de congregar os esfôrços de todos os portugueses para que possamos ter confiança no futuro, para que não continuo a pairar sôbre as nossas colónias essa nuvem negra que as ameaça.
Não podemos consentir, sem um protesto vibrante, que lá fora, nos jornais belgas, franceses e nos próprios jornais ingleses, se ande lançando, com sombras, a notícia de que a Alemanha vai ter um mandato colonial. Temos de exigir da Inglaterra a promessa formal de que, com o seu voto, jamais isso se permitirá. A afirmação vaga de que é nossa aliada, de que está disposta a cumprir os seus deveres, é pouco!
Estamos em face do um facto concreto: a ameaça às nossas colónias. Nos jornais estrangeiros, com grande intensidade e com ares do mistério, anda a afirmação de que à custa do nosso domínio colonial se quere entregar à Alemanha um mandato colonial. Temos de saber qual é, em face dêste problema, a posição da Inglaterra; e, se ela não nos fôr favorável, temos de ir procurar aos outros países que connosco podem comungar em interêsses e aspirações novas alianças, porventura mais produtivas. Situações humilhantes, de País subordinado, de colónia, não as queremos, porque elas repugnam e todos