A Europa tem de aproximar-se do modelo americano gradualmente, no espaço de uma geração. Se não o fizer, é o essencial do próprio modelo social europeu que estará em causa, algo que Ernâni Lopes considera que os mais velhos ainda não aceitam mas os mais novos já estão preparados para enfrentar.

Enquanto Sousa Franco tem defendido o modelo social europeu, numa recente conferência considerou-o insustentável e defendeu que a sua sobrevivência passa pela aproximação ao modelo norte-americano até 2025. Porquê?

Defendi-o porque é verdade. Não podemos ficar numa atitude de complacência, de auto-satisfação e não tomar medidas. O que se passa tem a ver com a relação entre o espaço alargado europeu e a economia global.

Então os portugueses aderiram à Europa sonhando com um mundo rico e agora vem-se-lhes dizer que têm de abdicar do modelo com que sonharam? É que quando se fala em modelo social europeu e se compara com o americano, fala-se basicamente de segurança no emprego, reformas garantidas e serviços de educação e saúde gratuitos. É isso que vamos perder?

É um misto disso tudo. Mas a verdade é que o preço de não mudar o actual modelo é ele não ser sustentável. Este não é problema desta década, é um problema de uma geração. Não podemos esquecer que toda a lógica do modelo social europeu saiu de um período excepcional da história, que vai de 1947 a 1973, durante o qual o PIB das economias desenvolvidas cresceu cinco por cento ao ano, consistentemente. Isso hoje esqueça...

Esquecer porquê? Na década de 90 a economia americana cresceu quase a esse ritmo...

A americana, não a europeia. Para crescermos como os americanos temos de mudar porque agora estamos sujeitos a pressões da globalização que desconhecíamos nesse período glorioso que vai do fim da II Guerra ao primeiro choque petrolífero, em 1973.

A globalização é, portanto, mais prejudicial para o modelo social europeu do que, por exemplo, para os chineses?

Sem dúvida nenhuma. Mas prejudicial no sentido em que força a mudança. E a razão porque falo disto é porque quero preservar o modelo social europeu, não destruí-lo. Mas atenção: o modelo ou muda, ou desaparece, temos de ser honestos connosco próprios. Qualquer atitude de meter a cabeça na areia, do tipo "eu não quero que mude, portanto não muda porque eu não gosto", é suicidária. É o último limite do conservadorismo e mina as bases do que queremos defender. Não posso passar de uma realidade em tinha uma população jovem e agora tenho uma população duplamente envelhecida - mais velhos e menos crianças -, em que tinha o PIB a crescer a cinco por cento para outra em que cresce a dois e meio, de um tempo em que tinha pleno emprego para um tempo em que tenho desemprego endémico e, por fim, de uma época em que a economia era altamente competitiva para outra em que tem dificuldades de afirmação a nível mundial, e pensar que tudo pode ficar tudo na mesma. Isto é uma mudança de fundo pelo que, para preservar o essencial do modelo social europeu, temos de ir evoluindo, de preferência de forma gradual, mas consistente.

Os portugueses estão conscientes destes desafios?

Julgo que estão a ficar conscientes. Para efeitos meramente práticos, costumo dividir a população entre os que têm mais de 30 anos e os que têm menos de 30 anos. E a minha impressão é que os primeiros não querem ouvir falar deste problema e têm uma atitude do tipo "enquanto o pau vai e vem folgam as costas". Já os que têm menos de 30 anos, julgo que já perceberam o que vai acontecer. E perceberam porque vivem a vida e já sabem que um único trabalho, uma única profissão, uma única carreira garantida para a vida e com o fim garantido - que era o padrão quando eu era novo -, é algo que desapareceu. Perceberam que mudarão de emprego, de profissão, talvez de cidade, e que nenhuma garantia jurídico-legal o impedirá.

Miguel Portas diz que o irmão "é um mal amado deste Governo"

"Paz e amor ou revelações escaldantes?"

Coligação sobe o tom na defesa de Portas e no ataque ao PS

O comício

Um elogio envenenado a Deus Pinheiro

Sousa Franco presidenciável?

Carvalhas ataca silêncio do Governo sobre défice da Madeira

JCP adere ao insulto

"Eu sou do povo, tá a ver?"

O Parlamento Europeu é o lugar por onde tudo passa

"O modelo social europeu ou muda, ou desaparece"

Nacionalidade do capital não deve ser discutida em público

Estamos ainda no trilho do definhamento

Conselho Superior do Ministério Público analisa aumento de quadros