O livro de Rudyard Kipling é composto por sete contos diferentes, todos eles tendo animais como protagonistas. Concentremo-nos, porém, nas três primeiras narrativas que têm como principal figura o pequeno Máugli, uma criança humana. É neste conjunto de contos que Kipling melhor explora a principal temática do livro: o código de conduta dos animais, pois também eles se organizam e têm valores morais e regras de coexistência.

O primeiro conto, "Os Irmãos de Máugli", começa com a surpreendente chegada de um bebé humano a uma toca de lobos. Corajoso e expedito, o pequeno ser consegue calmamente escapar das garras do tigre coxo, o fanfarrão Xer Cane, e do mesquinho chacal Tábàqui. O Pai e a Mãe lobos, habitantes da toca, têm crias recém-nascidas e sensibilizam-se com a audácia e vitalidade do pequeno "cachorro de homem". Protegem-no de Xer Cane e insistem em mantê-lo na alcateia Seiôuni. Mas para tal é necessário que o conselho dê consentimento, o que acaba por acontecer graças às intervenções de Bálu, o urso pardo, e de Bàguirà, a pantera negra, que intercedem a favor do pequeno Máugli.

Má experiência entre os humanos

O segundo conto relata um episódio em que Máugli é raptado pelos loucos macacos da tribo Bândarlogue, coisa que acontece ainda algum tempo antes de o pequeno humano abandonar a alcateia. Os Bândarlogue são os únicos animais da selva que não merecem o respeito, nem tão pouco a atenção, de todos os outros animais. São disparatados, vaidosos, não têm líder nem leis, julgam-se superiores e não respeitam as regras dos outros. Bálu proíbe Máugli de ter contacto com esta tribo. Mas, quando o faz, já é demasiado tarde, pois Máugli já terá sido assediado pelos macacos, que acabam por raptá-lo e levá-lo para as Moradas Frias, uma aldeia abandonada já fora da selva. Bálu, Bàguirà e Cá, uma pitão que é o único animal que os Bândarlogue temem, vêem-se obrigados a lutar pela vida de Máugli e pelas suas próprias vidas. Mas a batalha termina com uma farta recompensa para Cá.

No terceiro conto sobre a vida de Máugli, o pequeno homem já é um habitante da aldeia. Contudo, Máugli não se sente confortável entre os homens, pois foi criado entre animais, os quais têm regras diferentes. Além disso, os homens nem sempre respeitam os animais como deveriam. Durante a estadia na aldeia, Máugli toma conta de gado, aprendendo a conduzir manadas. A dada altura, o lobito Irmão Cinzento encontra-se com Máugli para o alertar sobre as intenções de Xer Cane, que planeia capturá-lo, agora entre os homens. É então que Máugli cumpre uma promessa antiga: ele próprio acaba por capturar o tigre, contando com a ajuda da manada, de Àquêlà e do Irmão Cinzento. Mas, por causa da forma como Máugli controla os animais e comunica com eles, a aldeia acusa-o de bruxaria e expulsa-o. O pequeno regressa à selva onde constitui uma "tribo" própria, juntamente com aqueles que sempre lhe foram leais.

"O Livro da Selva" foi escrito por Rudyard Kipling em 1894. Anos mais tarde, em 1907, o mesmo Kipling tornava-se no primeiro escritor inglês a receber o Nobel da Literatura. A habilidade com que o livro é escrito, a inteligência das histórias e um profundo conhecimento do mundo animal - ao qual não será alheio o facto de Kipling ter nascido em Bombaim, na Índia, e ter vivido durante muito tempo em território indiano - oferecem uma deliciosa leitura sobre o reino dos bichos, que também sabem comportar-se e organizar-se, fazendo uso de regras e de códigos de conduta. Haverá até situações e personagens em tudo semelhantes às que existem fora da selva, no mundo dos homens...

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