Sérgio de Andrade (Enviado JN)
O World Economic Forum encerrou a sua sessão de 1997 não meditando sobre si mesmo, mas meditando sobre a Humanidade em geral. A síntese de seis dias de trabalho, embora obrigatória, foi menorizada pelas mensagens que, mais do que à plateia, dirigiram ao Mundo uma mulher e mãe relativamente jovem e um ancião com o coração a transbordar de ternura. Uma rainha e um génio da música foram as grandes "vedetas" da cerimónia.
S ílvia, rainha da Suécia, apresentada por Klaus Schwab como pessoa dedicada profundamente à causa das crianças, começou por destacar o significado dos fóruns de Davos, um local onde os poderosos do Mundo meditam e discutem problemas, o que é um sinal de esperança de que o futuro de todos nós pode ser melhor, pois tal é no fundo a obrigação de grande parte dos políticos e financeiros ali reunidos.
Em seguida, a rainha destacou a responsabilidade que os meios de comunicação social (no sentido mais lato das palavras) têm para com a sociedade em que se inserem. E, desenvolvendo o tema dos direitos das crianças, lembrou a forma como eles são espezinhados, pela miséria e pela guerra, mas também por meios menos espectaculares, como a pornografia e a violência mediatizada. Servindo-se de numerosos exemplos de desrespeito por esses direitos, a rainha sueca terminou pedindo que pensemos nas crianças pobres, fracas, isoladas, violentadas, como se dos nossos próprios filhos se tratassem. "Essa é uma responsabilidade de todos nós", concluiu.
Uma mensagem longamente aplaudida, decerto não só pela simpatia de Sílvia, mas também pela inegável oportunidade e verdade do que dissera.
O que sucederia também no final da mensagem de Lorde Yehudi Menuhin, o violinista e maestro que não precisa de apresentação, como sublinhou Schwab. O ancião, que já ultrapassou os 80 anos, mostrou-se uma vez mais aquilo que dele se sabia: um humanista profundamente preocupado com a seus concidadãos do Mundo e empenhado em transformá-lo pela positiva. Tendo começado por lembrar que no WEF encontrara africanos da craveira de um Mandela e um Annan, corajosamente disse da sua vergonha pelo tratamento que durante séculos haviam sofrido as raças ditas inferiores. Foi uma manifestação de desrespeito pelo sagrado, sublinhou, como o são hoje o extermínio de muitas espécies em risco de extinção e os abusos cometidos contra o meio ambiente. E, revelando o seu grande amor pelo próximo, o génio musical referiu-se aos direitos dos pobres e dos fracos e às responsabildades para com aqueles por parte dos ricos e dos poderosos.
Teve então um tirada pensadamente teatral: pediu à assembleia que erguesse a mão se concordasse com ele. E como, obviamente, todos corresponderam, o famoso violinista de origem judaica incitou-os a passar das intenções às palavras, formando uma frente comum contra as minorias que fomentam as guerras e o economicismo desenfreado, de que as maiorias acabam por sofrer os efeitos.
Passou-se então à reflexão sobre a última semana de trabalho, de que se encarregou Claude Smaidja, o braço-direito de Schwab na organização do fórum. Começou por frisar que, sendo o tema do ano corrente a sociedade ligada em rede, uma boa prova de que caminhamos para ela se encontrava na circunstância de os presentes terem, em 1997, trocado entre si 80 mil E-mails, enquanto no ano anterior haviam sido 35 mil. Uma demonstração, sublinhou, de que a "sociedade digital" é um facto irreversível.
Destacou também que o WEF se preocupara grandemente com a coesão social, isto é, um melhor relacionamento entre o mundo da economia e o mundo do trabalho. Procurou-se, disse, mais do que aprofundar os fossos, lançar pontes para uma sociedade melhor no milénio que se avizinha. E, com o mesmo fito, particular ênfase foi ainda posta na defesa do meio ambiente, recordou.
A cerimónia encerrou com a entrega dos "Prémios de Cristal" a cinco personalidades da vida artística que -- segundo Schwab - se haviam destacado pelo seu esforço no sentido de que diferentes sociedades pudessem compreender-se melhor. Este acto demonstra até que ponto o World Economic Forum se ultrapassou a si mesmo porque, como havia sublinhado Lorde Menuhin, em vez de limitar-se à economia, se debruça com o mesmo entusiasmo e a mesma boa vontade sobre as mais variadas manifestações do espírito humano, a todas valorizando por igual.