A Gec Alsthom quer ganhar o comboio na ponte e o metro do Porto. E está atenta a novos projectos.
Há vários anos que a Gec Alsthom não vence um concurso, em Portugal, na área ferroviária.
Paulo Rodrigues, responsável pela Gec Alsthom em Portugal, em entrevista ao DN assegura que a empresa vai apresentar-se a todos os concursos.
«É o renascer da Gec», diz.
Diário de Notícias - Entregaram a semana passada as propostas para o concurso do metro do Porto. Onde apresentaram as propostas com os preços mais baixos, tal como no concurso para o comboio na ponte. A Gec está a tornar-se conhecida por apresentar os preços mais baixos...
Paulo Rodrigues - Talvez seja um bom sinal. Antes eram os outros que apresentavam preços baixos.
DN - Os outros concorrentes acusam a Gec de estar a tentar colocar um comboio na ponte com componentes não experimentados...
Nunca a poderão acusar de ser uma empresa de vão de escada.
A Gec Alsthom não poria em Portugal material que não está testado.
DN - Na proposta da ponte não contemplam um parque de material. Como é que será feito o «stock» das peças?
PR - Há alguns anos fornecemos a CP e nunca houve problemas com a falta de peças.
DN - Não concorreram aos comboios pendulares. Por não possuírem tecnologia?
PR - Na altura não possuíamos tecnologia. Agora já a temos.
É a prova provada que a Gec só se apresenta quando tem o equipamento testado.
DN - Qual a incorporação nacional no comboio na ponte?
PR - À partida ficámos bastante limitados devido ao acordo de exclusividade assinado entre a Sorefame e a Siemens.
DN - A Gec vai produzir os pendulares? E se vencerem o comboio na ponte vão fabricá-lo também em Barcelona?
PR - Barcelona está a fabricar parte do equipamento para o metro de Londres, em vez da fábrica de Inglaterra.
DN - É uma forma de viabilizar a fábrica?
PR - A filosofia é defender todas as fábricas do grupo.
DN - Onde é que vão fabricar as caixas, se a Sorefame tem o acordo de exclusividade com outro concorrente?
PR - Estamos abertos a dialogar com a indústria nacional.
Nessa altura, os acordos de exclusividade deverão ficar anulados.
Mas, no comboio na ponte, está prevista que uma parte seja fabricada em Espanha.
DN - Se a Gec vencer pode recorrer à Sorefame e aí a incorporação nacional subirá. Para quanto?
PR - Na nossa proposta indicámos dez por cento de incorporação nacional.
Se podermos contar com a Sorefame, a incorporação nacional poderá subir mesmo até 40 a 50 por cento.
Mas numa economia global não se pode ter a ideia de que temos de fabricar tudo no País.
Temos de ter uma mentalidade mais aberta.
Estamos interessados em dar trabalho aos trabalhadores portugueses, mas não podemos esquecer que em França também trabalham muitos portugueses nas fábricas da Gec Alsthom.
DN - A Gec nunca ponderou a hipótese de possuir uma fábrica em Portugal?
PR - Fomos um dos candidatos à compra da Sorefame, só que na altura não chegámos a um acordo.
A Gec ainda detém uma pequena participação na metalomecânica.
A Hidrosorefame ainda hoje fabrica as turbinas hidráulicas sob licença do nosso grupo.
DN - Quando concorreram à compra da Sorefame estavam dispostos a ficar com todas as empresas que foram alienadas no conjunto das matelomecânicas?
PR - Na altura, era o aglomerado de empresas da mesma forma que a ABB o adquiriu. Nos concursos uns ganham outros perdem...
DN - No próximo mês prevê-se que sejam seleccionados os dois consórcios do concurso da ponte que passarão à fase seguinte. Têm alguma indicação?
DN - Considera que o mercado português protege determinados consórcios?
PR - Há muitas formas de estar em Portugal.
Se a Gec tivesse um departamento de instalações no mercado, iríamos fazer concorrência aos instaladores nacionais.
Para cada caso, a Gec escolhe um parceiro que nos permite dar trabalho aos parceiros portugueses e trazer o know-how da Gec.
Leonor Matias