Amália e Os Poetas Num CD Inédito
Incontornável, Amália Rodrigues faz hoje a sua aparição na colecção "O Fado do Público", numa colectânea em que canta alguns dos mais distintos poetas da língua portuguesa. Um CD que, juntamente com mais um capítulo de "Para Uma História do Fado", de Rui Vieira Nery, completa o sexto volume da colecção. Hoje, nas bancas, por mais 6,5 euros.
Amália Rodrigues teve um papel preponderante na elevação do fado a um novo patamar de respeitabilidade. E esse feito deve-se, em muito, à escolha criteriosa dos textos que a diva cantava. "Amália e os Poetas", a colectânea que hoje é oferecida juntamente com o livro "Para Uma História do Fado" de Rui Vieira Nery, pretende precisamente reflectir essa virtude capaz de transformar Amália Rodrigues, como disse António Variações, em voz de nós.
O alinhamento de "Amália e os Poetas" é da responsabilidade do jornalista Jorge Mourinha, também ele responsável pelas recentes reedições de alguns dos mais proeminentes discos da cantora portuguesa. "Pediram-me uma selecção de temas de acordo com esse mote ("Amália e os Poetas") e então vasculhei nas coisas que Amália tinha gravado com poetas contemporâneos, como é o caso de José Régio, Ary dos Santos, Vasco de Lima Couto e outros. Mas se numa primeira fase tentei fugir aos poetas medievais que ela tinha cantado, como é o caso de Bernardim Ribeiro e de algumas cantigas de amigo, eles vieram, no entanto, a revelar-se incontornáveis relativamente a esta escolha", começa por contar Mourinha.
A colectânea "Amália e os Poetas" reune doze temas de variadas fases da carreira de Amália Rodrigues, escolhidos de entre aqueles em que a fadista interpreta poemas de alguns dos mais respeitáveis autores da língua portuguesa. Do alinhamento fazem parte "Fado português" (José Régio), "Maria Lisboa" (David Mourão Ferreira), "Alfama" (José Carlos Ary dos Santos), "Disse-te adeus e morri" (Vasco de Lima Couto), "Partindo-se" (João Roiz de Castelo Branco), "Havemos de ir a Viana" (Pedro Homem de Mello), "Dura memória" (Luís de Camões), "Naufrágio" (Cecília Meirelles), "Malaventurado" (Bernardim Ribeiro), "Formiga bossa nossa" (Alexandre O'Neill), "Trova do vento que passa" (Manuel Alegre) e "Cansaço" (Luiz de Macedo). Ainda Jorge Mourinha: "fiz um primeiro alinhamento que compreendia apenas dez temas mas pediram-me mais e, sem querer duplicar alguns poetas, socorri-me então de autores não contemporâneos como Bernardim Ribeiro e João Roiz de Castelo Branco. De qualquer maneira quis sempre fugir ao óbvio, e essa é uma das razões por que não é incluído 'Povo que lavas no rio' de Pedro Homem de Mello e, de alguma maneira, reflectir também o gosto da própria Amália, e vem daí a escolha de 'Alfama' de Ary dos Santos. Por outro lado, procurei também apresentar as interpretações mais sentidas até porque algumas destas coisas foram gravadas por Amália Rodrigues mais do que uma vez."
Explica-se assim a não inclusão de temas como "Barco Negro", de David Mourão-Ferreira ou "Meu Limão de Amargura" de Ary dos Santos em contraste com a escolha de "Dura memória", de Camões (em detrimento de, por exemplo, "Com que voz") que "parece ter sido escrito para ela". Em suma, "não houve um padrão consistente, mas dentro daquilo que existia escolheu-se o que demonstrava uma melhor adequação e uma maior entrega da própria Amália", conclui Jorge Mourinha.
Além do CD "Amália e os Poetas", o sexto volume da colecção "O Fado do Público" inclui ainda mais um capítulo de "Para Uma História do Fado", de Rui Vieira Nery, além de textos dedicados a Amália Rodrigues da autoria de António-Pedro Vasconcelos, Vasco Graça Moura, Ruben de Carvalho e Manuel Alegre. As ilustrações são da autoria de André Carrilho.
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