fica pelo bem do País, renega o seu passado, dando provas de uma hipocrisia política que não posso deixar de condenar veementemente.

Aplausos do PS.

Quem hoje ouve o Primeiro-Ministro, quem ouve hoje o Ministro das Finanças, fica com a impressão de que o PSD nunca esteve no Governo antes de 1985. Ora a verdade é que esteve, e esteve até mais tempo do que qualquer outro partido.

Vozes do PSD: - Mal acompanhado!

O Orador: - Tem-se falado muito aqui, nos últimos dias, do novo e do velho PS. Quero dizer-vos que o PS é o mesmo PS de sempre ...

Risos do PSD.

... que se orgulha do seu passado, que não renega o seu passado.

É, infelizmente, o PSD, só para endeusar a figura da sua actual liderança, que se vê obrigado a renegar o passado, de que também ele se devia orgulhar.

Aplausos do PS.

Não tem sentido, Srs. Deputados, fazer esquecer um passado onde militaram homens como Sá Carneiro e Mota Pinto.

Aplausos do PS.

Embora o passado tenha também muitos momentos que vos comprometam, como aquele em que, em 1977, pela primeira vez juntaram os vossos votos aos do Partido Comunista para derrubar um governo socialista.

Aplausos do PS.

Risos do PSD.

Esperamos que em 1991 os Portugueses dêem de novo ao PS a possibilidade de governar Portugal. Esperamos também que o Prof. Cavaco Silva não nos deixe o País no mesmo estado em que o recebemos das outras vezes.

Vozes do PS: - Muito bem!

Aplausos do PS.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Essa é boa!...

O Orador: -É que, afinal, Srs. Deputados, nem tudo vai bem e, sobretudo, nem tudo vai bem para todos os portugueses.

Desde logo, este governo é responsável por sacrificar a objectividade à propaganda e, portanto, por criar permanentemente falsas expectativas aos cidadãos e aos agentes económicos. Expectativas que, quando são goradas, criam um clima geral de frustração no País e causam a muitos, infelizmente geralmente aos mais fracos, graves prejuízos económicos. Foi assim com os pequenos aforradores, empurrados pelo Sr. Primeiro-Ministro e pelo Sr. Ministro das Finanças para a miragem da Bolsa, foi assim com a maioria dos trabalhadores, enganada pelas previsões da inflação.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Incapaz de pedir a estes trabalhadores os sacrifícios que porventura entendeu necessários por razões de política económica que nunca explicou, o Governo preferiu enganá-los, tirando-lhes poder de compra artificialmente, ao ligar a subida dos salários a previsões de subida dos preços que, desde muito cedo, o próprio Governo sabia que eram tecnicamente impossíveis.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Só que, infelizmente para o PSD, não é possível enganar muita gente durante muito tempo.

Nada de mais caricato, aliás, do que os esforços que o Sr. Primeiro-Ministro e o Sr. Ministro das Finanças fizeram, em tempos, para se atribuírem a si próprios os méritos da desaceleração dos preços antes de 1988. Manda a verdade que se diga, para o bem e para o mal - outra vez a objectividade -, que, salvo golpes de génio ou terríveis disparates, dificilmente a curva da inflação teria sido muito diferente do que foi nos últimos anos. Desceu quando tinha de descer, empurrada pela queda dos preços internacionais...

Risos do PSD.

.... voltou a subir de novo - agora podem aplaudir - quando tinha de subir, logo que estes inverteram ligeiramente a tendência, e encontra hoje de novo um clima internacional favorável, que deixou o Governo, aliás, suficientemente tranquilo para se não preocupar mais com a inflação no pletórico orçamento que já aí nos deixou.

Mas, então, não haverá nenhuns salários reais que cresçam? Claro que sim, só que será muito difícil a um primeiro-ministro que a si próprio se aumenta em dois anos em mais de 80% ...

Aplausos do PS e do PCP.

... explicá-lo, por exemplo, a um trabalhador têxtil, que não recebe mais do que 40 contos por mês e que todos os anos quase precisa de fazer greve para obter aumentos pouco acima dos' 10%.

Aplausos do PS.

Protestos do PSD.

É que, Srs. Deputados, os aumentos de salários não são todos iguais, há uns que. são decisivamente mais iguais que os outros. Que o digam os trabalhadores da função pública.

Protestos do PSD.