Seis presidentes de câmara. A cada a sua história, mas todos na berra: perdas de mandato, saídas temporárias e até o bater de porta de um dinossauro do poder autárquico. Tudo no distrito de Braga.
O recente regresso de Queiroga de Figueiredo à presidência da Câmara de Esposende, o anunciado de António Cerqueira, em Vila Verde, e a decisão favorável do Supremo Tribunal Administrativo a Travessa de Matos, de Vieira do Minho, incendiaram os ânimos no seio das famílias do PS e PSD, que ocupam 12 das 13 autarquias do distrito de Braga.
Além destes casos, há ainda Famalicão, cujo presidente aguarda decisão de um recurso interposto, relacionado com a compra de instrumentos musicais para uma associação de que um seu familiar é director.
Em Amares, a saída do presidente da autarquia, Tomé Macedo, da última Assembleia Municipal (AM) deixou a oposição a falar «sozinha».
Foi a gota de água para o azedar das relações entre o edil social-democrata, o presidente da AM, que ameaçou demitir-se, e o presidente da Comissão Concelhia do PSD.
Tomé Macedo tem agora a sua presença à frente da câmara questionada pelo partido, que vê com bons olhos a possibilidade de Mário Gonçalves - um industrial do sector têxtil - ser o próximo candidato nas listas do PSD.
Listas estas que acabaram, também, por se dividir em Esposende, onde Tito Evangelista ocupava, até à semana passada, a presidência do executivo, depois de uma ausência de seis meses de Queiroga Figueiredo, que, por afazeres profissionais, solicitou a suspensão do mandato.
A actuação «desastrosa» do seu «delfim» fez com que o autarca-modelo dos sociais-democratas regressasse mais cedo do que o previsto.
Entre as razões invocadas, Queiroga acusa o sucessor de «esbanjar como uma cigarra o que a formiga poupou».
No concelho de Barcelos, e apesar das inspecções a que a câmara tem sido sujeita, Fernando Reis parece manter-se de «pedra e cal».
Em Fafe, de forma definitiva, o socialista Parcídio Summavielle pôs um ponto final na sua continuidade à frente da câmara e no relacionamento com o partido de que é fundador.
O regresso ao PS estava a ser preparado pelo seu anterior «inimigo» número um no interior do partido, Mesquita Machado, que chegou a sondar António Guterres para apadrinhar a entrega do cartão ao líder famalicense.
A saída de Parcídio em 1994 - devido a alegadas fraudes nas eleições para a federação - dividiu ainda mais os socialistas, até que um acordo em torno da figura de António Reis para a liderança distrital, com consequente afastamento de Laurentino Dias, criou condições para o seu regresso à militância, defraudado, segundo o próprio, pela actuação de Guterres no Governo.
Para o seu lugar está indicado José Ribeiro, número dois da câmara e líder da concelhia socialista.
Ao contrário de Parcídio, que, como autarca, foi sempre elogiado pelos correligionários e oposição, Travessa de Matos - à frente da Câmara de Vieira do Minho - foi penalizado pela perda de mandato, decretada pelo Tribunal Administrativo do Porto, acusado de ter favorecido a Cooperativa de Criadores de Gado da Serra da Cabreira, da qual era presidente, ao participar, em Março de 1991, na votação para a concessão de um subsídio de 1500 contos.
O recurso ao Supremo Tribunal acabou por beneficiar o autarca, embora temporariamente, pois o processo foi remetido de novo ao Porto e o Supremo não considerou provados alguns dos quesitos do acórdão que determinou a sua saída.
Mais problemática é a provável entrada em funções de António Cerqueira em Vila Verde, que perdeu o mandato em 1994, ao aprovar um loteamento clandestino.
Cerqueira, eleito pelo CDS-PP, pode assumir hoje mesmo a presidência da autarquia, dia em que se prevê a publicação em Diário da República da Lei sobre a Tramitação Judicial de irregularidades cometidas por autarcas e que lhe é favorável.
A promulgação da lei implica o regresso imediato, mas será por período curto, pois sobre ele pende uma dezena de processos, alguns com carácter criminal.
Paulo Sousa