Digo isto porque, efectivamente, o resultado não é para o Partido Socialista um desastre eleitoral mas apenas em termos percentuais. Repito e acentuo: apenas em termos percentuais.

O Partido Socialista, a partir de domingo à noite, e ainda hoje, na intervenção que o Sr. Deputado João Cr avinho aqui fez, apresenta-se festivo, engalanado, mesmo triunfalista, e eu creio que, em democracia, podemos não cultivar a humildade mas já não podemos manipular e esconder factos que são indispensáveis para uma análise política, factos esses que, creio, terão de ser lembrados neste momento.

Em primeiro lugar, até agora o Partido Socialista (só há pouco desfez isso) quis esconder o acordo que fez com o PRD e apresentou-se como se todos os votos lhe pertencessem. Ora, Sr. Deputado João Cravinho, penso que não é bonito esconder alianças e aliados e penso que é mesmo feio apresentar, como votos próprios, aqueles que são de um conjunto. Creio que mesmo - e não quero falar em ética política - que há princípios a respeitar e, neste momento, alguns deles foram esquecidos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Em segundo lugar, Sr. Deputado João Cravinho, o Partido Socialista quis dar a ideia de que tinha ganho votos e quer difundir essa ilusão. Ora, os números são impiedosos: em 1976, para o Parlamento Europeu, sozinho, o Partido Socialista teve l milhão e 260 mil votos; em 1989, com o PRD teve apenas l milhão e 160 mil votos. Ó Partido Socialista perdeu, não ganhou eleitores. Esconder esse facto, Sr. Deputado João Cravinho, é que é atirar areia para os nossos olhos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

continua a ser a primeira força política, continua a ser o primeiro partido, e, portanto, não perdeu as eleições. Pode não as ter ganho, mas não as perdeu.

A Sr.ª Presidente: - Sr. Deputado, peço-lhe o favor de terminar, uma vez que já excedeu o tempo de que dispõe.

O Orador: - Termino já, Sr. Presidente.

Sr. Deputado João Cravinho quis dar uma visão simplista de uma questão muito complexa, que exige uma análise aprofundada, e eu, entre muitos outros factos, vou só indicar dois, como contribuição para essa análise mais aprofundada.

Primeiro, todos os partidos portugueses perderam eleitores nas eleições realizadas há dois dias. Repito: todos os partidos perderam eleitores. Pergunto ao Sr. Deputado: pode dizer-se que algum partido ganhou?

Segundo, em todos os países da Comunidade Económica Europeia, a abstenção foi elevadíssima, foi, aliás, um fenómeno geral da Comunidade Económica Europeia. Pergunto: tendo ocorrido também em Portugal esse fenómeno, pode dar-se um sentido próprio e específico de penalização do Governo?

Aplausos do PSD.

A Sr.ª Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Encarnação.

aquilo que preocupa esse Sr. Deputado também a mim preocupa, que é a enormíssima taxa de abstenção que o eleitorado, nesta altura, demonstrou. Penso que VV. Ex.ª, das restantes oposições, deveriam ter começado as suas intervenções com uma referência a este facto. Não vos ficaria nada mal!...

Gostaria de dizer que, do ponto de vista do Partido Socialista, o que mais me preocupa é aquilo que pode se recuperar num velho euforismo popular: «O pior cego é aquele que não quer ver.» O que acontece é que o Partido Social-Democrata, sendo governo há mais de quatro anos, em três consultas eleitorais de nível nacional vem sendo sucessivamente o partido mais votado, o que nunca aconteceu ao Partido Socialista. O Partido Socialista foi penalizado pelo eleitorado, que mudou o seu sentido de voto, não se absteve, não ficou em casa VV. Ex.ª podem estar preocupados com isto, porque, na verdade, ainda não foi desta que o povo deu razão a outros nem que se demonstra que os outros tiveram razão nesta consulta eleitoral.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Por último, gostaria de dizer que os Srs. Deputados António Guterres e João Cravinho fazem uma dupla extraordinária, porque se completam