Andaluzia dá exemplo a Portugal
Cem milhões ao longo de dez anos. Foi a verba que o Governo da província espanhola decidiu investir no património
Correspondente Em Évora
A Andaluzia transformou-se numa notável referência mundial na salvaguarda do património histórico. Os mais de dois mil elementos patrimoniais catalogados naquela região espanhola apresentam um estado de conservação impecável, graças ao Plano Geral de Bens Culturais (PGBC) iniciado em 1989. É que foi feita uma forte aposta na aplicação de programas específicos com vista à conservação, protecção, investigação e difusão dos bens culturais da Andaluzia. Os representantes dos quatro municípios portugueses distinguidos pela UNESCO com o estatuto de património mundial, presentes na III Assembleia Geral da Organização das Cidades com Património Mundial, que hoje termina em Évora e onde o turismo foi tema central, deviam ter ficado de cara à banda quando souberam o valor do montante que o Governo Regional da Andaluzia investiu na conservação dos seus monumentos em apenas seis anos: 60 mil milhões de pesetas. Mais de 70 milhões de contos.
Um número que nos próximos quatro anos deverá aumentar quase para o dobro, de acordo com Marcelino Ruiz, do Instituto Andaluz, entidade gestora do PGBC, para quem os efeitos positivos deste plano, que abrange uma área de 87 mil quilómetros quadrados, já se fazem sentir ao nível económico.
"A nossa estratégia, que abarca 18 programas específicos, foi pôr os bens culturais ao serviço da sociedade para desenvolver o emprego", explicou ao DN, acrescentando que, após a recuperação patrimonial, foram estabelecidos parâmetros de qualidade e uso de cada monumento.
"Uns são meramente contemplativos, outros de uso social, há também elementos de recuperação de actividades tradicionais", explicou Marcelino Ruiz, destacando a recente criação de itinerários, que vêm proporcionando novas ofertas turísticas. "Esta aposta já teve reflexos na construção de novos hotéis, restaurantes, guias, publicações e mesmo infra-estruturas. Tudo isto tem gerado riqueza", garantiu aquele responsável. A exposição apresentada por Marcelino Ruiz no auditório da Universidade de Évora acabou por se traduzir num dos pontos de maior interesse da III Assembleia da OCPM, irremediavelmente marcada pelas lamentações das quatro cidades portuguesas classificadas pela UNESCO - Angra do Heroísmo, Évora, Sintra e Porto - sobre a falta de apoios estatais para a conservação dos centros históricos.
É que nem a promessa de António Guterres sobre o aumento de 25 por cento das verbas no Orçamento de Estado destinadas a intervenções de recuperação patrimonial foi suficiente para satisfazer os autarcas Abílio Fernandes, António Almeida, Edite Estrela e Fernando Gomes. O presidente da Câmara do Porto salientou mesmo que as autarquias das cidades património mundial são muito prejudicadas com tal estatuto, "porque há determinadas obras que não podemos realizar e isso são dinheiros que não entram nos cofres do município. Portanto, tem de haver a devida compensação, para que possamos manter bem conservado o nosso património. Caso contrário, ser património mundial só traz desvantagens", referiu.
Talvez por isso mesmo o Banco Mundial queira intervir rapidamente. Margarita Cutman, colaboradora desta instituição, anunciou o lançamento de uma série de medidas convergentes com base na exposição "Buenos Aires 1910", onde se inclui um projecto de criação de um Fundo Nacional de Protecção do Património Cultural Comunitário.
"7 dias" oferecem programas raros
Os "7 Dias com o Património" que hoje se iniciam vão dar a conhecer algumas raridades: espaços que, em regra, não estão abertos ao público ou livros que não constam de bibliotecas públicas. O programa de hoje é, aliás, disso exemplo. Entre as 11 e as 17 horas o público poderá aceder à exposição de "Livros raros da Biblioteca da Ajuda", em Lisboa, enquanto no Paço dos Duques de Bragança as visitas passarão pela "Descoberta dos espaços da residência do Estado".
A pensar nas crianças, o programa inclui ainda uma visita no Mosteiro dos Jerónimos (das 10 às 11 e 30 e das 14 às 15 e 30). No Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, será feita uma reconstituição histórica do mercado oitocentista.