Tavares Moreira quer prosseguir com as fusões Caixas agrícolas com lucro

O Crédito Agrícola registou lucros de 5,8 milhões de contos em 1996, revelou ontem o presidente da Caixa Central de Crédito Agrícola, Tavares Moreira. É o fim de um ciclo de três anos durante os quais acumulou prejuízos da ordem dos 30 milhões de contos. Para este ano, o plano de actividades perspectiva a manutenção dos resultados, muito embora Tavares Moreira admita que essa previsão depende em grande medida da evolução das taxas de juro, marcada por uma grande incerteza neste momento.

Os resultados obtidos no ano passado pelo Crédito Agrícola - Caixa Central e caixas associadas - reflectem "em boa parte o esforço realizado de "arrumar a casa"", afirma Tavares Moreira, adiantando que todas as situações de caixas associadas com desequilíbrios económicos e financeiros ou problemas de gestão "se encontram sob controlo".

A Caixa Central, em contrapartida, registou uma quebra nos resultados, que passaram de 968 mil contos em 1995 para 130 mil contos em 1996. Uma redução que é essencialmente explicada pelo modelo de cálculo das taxas de juro que a Caixa Central aplica para calcular a remuneração das caixas associadas. Com efeito, a remuneração dos depósitos das associadas é ajustada mensalmente, o que, face à redução das taxas de juros registada este ano, fez diminuir a margem financeira da Caixa Central em 37,5 por cento face ao ano anterior.

O número de caixas associadas reduziu-se de 181 para 174 em 1996 na sequência de fusões, num processo que prosseguirá este ano e no próximo. Tavares Moreira pretende que em 1997 o número de caixas se reduza para 160, passando para baixo das 150 em 1998. Uma estratégia que será acompanhada pela abertura de mais balcões, principalmente nas zonas em que se verificarem as fusões.

No quadro do programa de saneamento económico e financeiro, está prevista a extinção de "todas situações de caixas associadas com fundos próprios inferiores ao mínimo legal de dez mil contos", o mais tardar em 1998. Além disso, também se prevê que no próximo ano o sistema registe o rácio de solvabilidade de oito por cento, exigido por lei.

Este ano, além da prossecução do programa de reestruturação financeira das caixas, a actividade do grupo Crédito Agrícola vai ser marcada pelo desenvolvimento dos negócios na área dos seguros e pela actividade do Central Banco de Investimentos e do Banco Africano de Investimento.

O grupo Crédito Agrícola vai entrar este ano nos seguros do ramo vida, com a criação de uma companhia participada em 50 por cento pela Rural Seguros e pela Interpolis, a seguradora do Rabo Bank, o banco com a melhor classificação de "rating" do mundo - ou seja, é considerado como a instituição financeira mais sólida. No domínio dos seguros dos ramos reais prevê-se que durante este ano todos os balcões das caixas agrícolas estejam a vender os produtos da Rural Seguros.

O Central Banco de Investimentos (CBI), que iniciou a actividade no princípio de 1997, pretende solicitar a cotação na Bolsa de Valores de Lisboa ainda no primeiro semestre, logo após o aumento de capital de seis para sete milhões de contos. Na sequência de uma proposta da administração aos accionistas, não serão distribuídos dividendos pelo exercício de 1996, incorporando os 446 mil contos de lucros apurados em reservas, para o posterior aumento de capital. Os dois maiores accionistas do Central, com 25 por cento cada um, são a Caixa Central e Ilídio Pinho, individualmente e através da sua "holding".

O Banco Africano de Investimentos, com sede em Angola e uma sucursal já aberta, desde Janeiro, em Lisboa, também vai iniciar a sua actividade durante este ano, admitindo-se que em Maio ou Junho existam condições mínimas para começar a funcionar em Luanda.

O banco, que tem como objectivo ligar os mercados africanos aos internacionais, com Lisboa a funcionar como plataforma, já está a preparar operações para Moçambique, Zâmbia e Guiné. A instituição tem capital angolano, português, sul africano, norte-americano e francês.

Helena Garrido