V ários jornalistas de canais alemães de televisão acusaram o Comité Olímpico Internacional (COI) de utilizar métodos censórios nas emissões que recorrem às suas imagens de arquivo, revela o jornal "Sueddeustsche Zeitung".

O diário germânico publicou uma reprodução de um contrato-tipo destinado aos canais de TV que recorrem ao COI para que este lhes forneça arquivos audiovisuais sobre a história dos Jogos Olímpicos.

O contrato estipula que as sequências fornecidas não devem ser utilizadas "de nenhuma maneira em detrimento do COI ou do movimento olímpico", acrescentando que "a solicitação de uma licença (de utilização das imagens de arquivo do Comité) implica aceitar que a mesma apenas seja concedida desde que o COI tenha acesso ao registo da emissão".

A mesma cláusula estipula que o registo da emissão deve ser comunicado ao responsável pelas vendas de produtos de arquivo do COI, David Williams, e que este dispõe de duas semanas para comunicar ao interessado a sua decisão.

O contrato obriga, finalmente, o futuro detentor da licença a comprometer-se a efectuar "todas as modificações" exigidas pelo COI.

"Um contrato com a forma de uma mordaça", refere o "Sueddeustsche Zeitung", que denuncia igualmente os preços proibitivos praticados pelo departamento de arquivos televisivos do Comité Olimpico Internacional, com sede em Londres.

Em 1992, as imagens de arquivo foram distribuídas gratuitamente, mas este ano o COI reclama 20 mil dólares (3 100 contos) pela sequências que um jornalista do canal público alemão "Suedwestfunk" pretendeu incorporar num documentário.

Interrogado sobre o assunto pelo "Sueddeustsche Zeitung", David Williams respondeu que se trata, entre outros aspectos, de proteger o presidente do COI, o espanhol Juan Antonio Samaranch, frequentemente posto em causa pela Imprensa por ter sido ministro dos desportos do general Franco.

Todavia, David Wiliams defendeu-se da acusação de se pretender impedir qualquer crítica, garantindo que as condições colocadas para a atribuição de licenças "constituem simples precauções jurídicas".

O responsável pelas vendas de produtos do arquivo televisivo do COI assegurou que jamais exigiu quaisquer mofificações numa emissão.

Entretanto, toda a Imprensa do Mundo critica a desorganização sem precedentes que se verifica em Atlanta. Da Nova Zelândia a Portugal, toda a gente está insatisfeita com o caos que se vive, dos transportes à informátiaca. O mesmo "Sueddeustsche Zeitung" retrata assim os problemas vividos na capital da Geórgia: "Milhares de voluntários - tão simpáticos como desorientados - não fazem ideia de qual é realmente o seu trabalho".

Leitores de todo o Mundo deliciaram-se com a história da motorista que conduzia jornalistas para a pista de remo e, ao aperceber-se de que teria de conduzir numa auto-estrada com sete faixas de rodagem, ficou apavorada, desatando a chorar e dando meia volta. Ainda em termos de transportes, além do trânsito caótico que se vive numa cidade que não estava preparada para receber tanta gente, há que referir a história dos remadores que tiveram de desviar um autocarro para chegarem ao local de provas, bem como a do judoca austríaco que, seriamente ferido, teve de esperar uma hora para chegar ao hospital.

O "El País" não poupou os organizadores norte-americanos. "Poderemos escrever livros inteiros sobre os feitos desportivos de Atlanta, mas também um sobre a mais desastrosa organização da história olímpica", escreve um dos enviados do diário espanhol.

No "France-Soir", cujo título de primeira página é "Medalha de ouro para o caos", é dito que ninguém poderá fazer pior do que Atlanta: "África tem sido privada dos Jogos desde que estes foram criados, sob o pretexto de que os países africanos não têm infra-estruturas... Depois de Atlanta, qualquer país do Mundo pode candidatar-se a organizar uma Olimpíada".

A lista é demasiado extensa para caber aqui, tal é a confusão a que se assiste no meio de tanta grandeza anunciada. Nesse contexto, fechamos com as palavras de um jornalista russo do diário Izvestia: "Já não há Guerra Fria, mas a obsessão (de glorificar os Estados Unidos) mantém-se".