Ieltsin recebido no Vaticano

O Presidente russo e João Paulo II abordaram questões de política internacional, como a segurança na Europa, mas também o estado actual das relações entre a Igreja Católica e a Ortodoxa

AP-Massimo Sambucetti

João Paulo II recebeu ontem no Vaticano, para um encontro de 50 minutos, o Presidente da Rússia. Sorridente e desejando-lhe as boas-vindas em russo, o Papa saudou Boris Ieltsin, a mulher e a filha Tatiana, antes de dar início ao encontro privado na biblioteca.

"Estou feliz por ver o seu esposo em boa forma e espero que possamos entrar juntos no terceiro milénio", disse João Paulo II à mulher de Ieltsin, Naina.

O encontro - o primeiro de um dirigente do Kremlin com um pontífice desde 1991 - serviu para abordar temas de política internacional, nomeadamente a questão da cooperação e da segurança na Europa, segundo referiu o porta-voz do Papa, Joaquín Navarro-Valls. Ao mesmo tempo, o responsável do Vaticano para questões internacionais, monsenhor Jean-Louis Tauran, recebia o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Evgueni Primakov, para uma conversa que teve como tema principal a situação dos católicos na Rússia, principalmente depois de em Setembro passado ter sido aprovada uma lei sobre liberdade religiosa.

Na segunda-feira, à chegada ao aeroporto de Roma, Boris Ieltsin indicara que iria convidar uma vez mais o Pontífice para visitar a Rússia. "O Papa já recebeu mais de um convite para visitar a Rússia. Mas, já que vocês mo perguntam, vou convidá-lo novamente", disse o Presidente russo aos jornalistas que lhe fizeram a pergunta.

No domingo, numa entrevista ao Corriere Della Sera, Iletsin dissera que "uma visita deste tipo precisa de ser preparada com cuidado". Dias antes, um porta-voz do Patriarcado de Moscovo declarara à agência ITAR-TASS que uma visita de João Paullo II à Rússia e um encontro com o patriarca Alexis II eram "impossíveis" enquanto "as relações interconfessionais não melhorarem de forma radical".

Admitia-se antes do encontro entre Boris Ieltsin e João Paulo II que o primeiro pudesse desempenhar o papel de "mediador" no conflito que opõe a Igreja Católica à Igreja Ortodoxa, maioritária na Rússia. A religião católica, com mais de meio milhão de crentes, está em expansão na Rússia, mas a maior parte das igrejas está ainda nas mãos do Estado e a restituição afigura-se difícil devido em parte à influência exercida pela Igreja Ortodoxa junto do poder.

Entretanto, o arcebispo russo Tadeusz Kondrusiewicz, que se encontra no Vaticano por ocasião da visita de Ieltsin, manifestou a sua inquietação pela liberdade religiosa na Rússia, afirmando que "a lei adoptada em Setembro não teve em conta a estrutura da Igreja Católica russa".

"Penso que as poucas confissões religiosas presentes na Rússia antes de 1970 poderão ser reconhecidas. Todas as outras deverão esperar os 15 anos previstos na lei" antes de serem oficializadas, explicou o arcebispo, administrador apostólico dos católicos da Rússia ocidental.

"É por isso que estou inquieto", afirmou Kondrusiewicz, salientando que "a única possibilidade de atenuar esta situação" residia no encontro de Boris Ieltsin com João Paulo II.

Rússia e Itália intensificam a cooperação

O montante das trocas comerciais entre a Rússia e Itália, avaliado em seis mil milhões de dólares anuais, vai aumentar com os acordos assinados por Boris Ieltin e o primeiro-ministro Romano Prodi.

Numa conferência de imprensa conjunta, Ieltsin revelou que foram assinados 12 documentos. Há um "plano de acção" política, económica e cultural que assegura uma parceria estreita entre os dois países e cuja concretização se prolongará "por dez a 15 anos" pelo menos, acrescentou. "A Rússia nunca assinou nada de semelhante com um país europeu. Foi uma estreia."

Os acordos incluem um entre a Fiat e a Gaz, para o fabrico de 150 mil carros Fiat por ano na Rússia.