Joan Crawford a Estrela dos Olhos Grandes
Poucas estrelas tiveram uma carreira tão longa e tão composta de "ressurreições". Poucas tiveram tantas "caras", entre a "flapper", típica dos anos 20, e a velha senhora dos filmes de terror da década de 60: "Que Teria Acontecido a Baby Jane" (Aldrich, 1962), "Strait Jacket" (William Castle, 1964), "I Saw What You Did" (Castle, 1965). Poucas estrelas atravessaram cinco décadas, sempre no topo, mantendo intacto o valor estelar.
Joan Crawford, a quem a Cinemateca, em Lisboa, dedica uma semana, na rubrica A Luz Fixa das Estrelas, é como o seu nome (o verdadeiro era Lucille Le Sueur) uma construção que só em Hollywood poderia ter tido lugar: subiu a pulso, de "starlet" a mulher de Douglas Fairbanks Jr., o mais próximo que em Hollywood se poderia chegar à ideia de realeza; foi o ídolo da classe média baixa, ela que nos anos 30, na MGM, encarnou um sem fim de criadas, caixeirinhas ou outras heroínas, mais ou menos proletárias, em melodramática ascensão; criou a família que nunca teve, adoptando crianças e exercendo sobre elas um poder tirânico, a crer na terrível biografia escrita pela filha adoptiva, Christina - "Mommie Dearest".
Para ela criou o figurinista Adrian os mais extravagantes vestidos, com os enormes enchumaços nos ombros, que se tornaram imagem de marca.
Homenageá-la significa, pois, festejar a virtualidade, por excelência, da imagem cinematográfica: Joan Crawford apenas existe em função do celulóide, toda a sua existência passa pelas sombras e pelas luzes projectadas num ecrã, sempre de olhos muito grandes, muito abertos, quase arregalados, para melhor "ver" o mundo fictício em que teve existência. Mas há "muitas" Joan Crawford, a começar pela encarnação da mulher moderna, entre a rapariga do "charleston" de "Our Dancing Daughters" (Harry Beaumont, 1928) e a ambiciosa operária de "Possessed" (Clarence Brown, 1931), ao lado de um dos seus pares mais paradigmáticos, Clark Gable, com quem teria mantido um tórrido romance durante anos. Não é esta a Crawford que, na retrospectiva feita pela Cinemateca, marca a próxima semana, onde um dos filmes que se destacam é o fabuloso "As Mulheres" (Cukor, 1939; sábado 6, às 15h30), que culmina e, de certo modo, fecha uma possível segunda fase da sua carreira, a de mulher sofisticada, bem vestida e "matadora", sem anular a origem modesta e a tendência arrivista: e Crystal Allen, a rapariga que vende perfumes e ascende a "socialite" epitomiza a sua segunda "persona" na perfeição.
Já em queda, como estrela da "conservadora" MGM, faz, em 1941, "A Cicatriz do Mal" (Cukor; 2ª, 8, às 15h30), rompendo com o "glamour" bem vestido das suas heroínas, para se aproximar de papéis dramaticamente mais exigentes: nascia a terceira Crawford, mais actriz, na altura em que a estrela entrava em decadência. O apogeu desta nova "face" dá-se, já na Warner (o estúdio "proletário"), num "film noir", "Mildred Pierce" (1945; 3ª, 9, às 15h30), rival da filha, ainda de origem humilde, ainda supervestida, ainda capitalizando um delirante "kitsch" representativo. Ganha o Óscar e inicia uma série de variações sobre esse filme: "Humoresque" (Negulesco, 1946; 4ª, 10, às 15h30) e "Daisy Kenyon" (Otto Preminger, 1947; 5ª, 11, às 15h30) contam-se entre as melhores.
Nos anos 50, entra em nova metamorfose, de sobrevivente, antes de se tornar no fim da década em "administradora de refrigerantes" (Pepsi-Cola) e depois em atracção de terríficos "thrillers". A Vienna de "Johnny Guitar" (Nick Ray, 1954; 6ª, 12, às 15h30) já passa por uma máscara de si própria, por uma genial instrumentalização do "camp", ao serviço de um filme belíssimo. Em "Autumn Leaves" (Aldrich, 1956; sáb., 13, às 15h30), vestida por Jean Louis, revisita, em esplendor e queda, o mais profundo da sua imagem passada. Assim ficará para sempre na nossa memória: de olhos muito grandes, muito maquilhados, muito dominadores.
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