Lisboa esteve ontem, a partir do meio da tarde, sob a acção de forte ventania e chuvas copiosas que, coincidindo com a maré alta do Tejo, originaram grandes inundações na baixa lisboeta e no centro da cidade, com a formação de lençóis de água que dificultaram o trânsito nas principais artérias e geraram algumas situações preocupantes.

Mas não foi só a baixa a zona mais atingida pelas chuvas, pois nos acessos a Lisboa do lado Norte, na auto-estrada para Vila Franca de Xira, e também na Segunda Circular muitos carros ficaram impedidos de circular devido à altura atingida pelas águas e os seus ocupantes retidos no interior das viaturas.

Em Lisboa, na zona de Santa Marta, repetiu-se um quadro que é já tradicional logo que o índice pluviométrico atinge valores mais elevados. Assim o colector já muito antigo e ainda não substituído cedeu mais uma vez à força das águas e, em poucos minutos, quase todos os estabelecimentos entre o Conde Redondo e a Rua de São José sofreram graves inundações. Por se tratar de um sábado, dia de descanso, estas artérias mais movimentadas não conheciam o trânsito intenso de outros dias e a isso se ficou a dever o facto de não se terem registado danos pessoais.

A partir das Portas de Santo Antão a colocação há alguns meses de um colector novo evitou que se verificasse um quadro mais preocupante dado que num largo troço desta zona da baixa as águas foram canalizadas sem perigo de maior.

Foram assim várias as zonas afectadas pelas chuvas torrenciais. No Marquês do Pombal, completamente alagado durante algumas horas, o trânsito fez-se com grandes dificuldades e em zonas em zonas como o Viaduto Duarte Pacheco, Laranjeiras, Monsanto, Avenida 24 de Julho, Avenida Infante Santo a água obrigou a paragens na circulação automóvel.

Também na periferia de Lisboa, em vários concelhos da Área Metropolitana, a chuva provocou alguns prejuízos devidos às cheias que se registaram em diversos pontos. Amadora, Queluz, Pendão, Pontinha e Vila Franca de Xira, onde as águas inundaram muitos estabelecimentos abertos àquela hora, constituíram uma malha densa atingida pelos caudais provocados pelas chuvadas. Até ao princípio da noite a Protecção Civil não tinha registado nenhuma situação em que estivessem em risco vidas humanas, enquanto as centrais de todas as corporações dos Bombeiros de Lisboa registavam pedidos de assistência de vários pontos da cidade e da sua periferia, aos quais nem todos foi possível atender com a celeridade exigida. A tarefa dos bombeiros incidiu em especial em desentupir algerozes e acudir a inundações de casas térreas.

Entretanto, o trânsito automóvel na Segunda Circular de Lisboa esteve interrompido junto à zona do centro Comercial Fonte Nova, no sentido Sul-Norte. A zona de impedimento rodoviário localizou-se entre o nó da Buraca e a área do Centro Comercial Colombo, com vários veículos, incluindo uma ambulância, imobilizados devido à altura das águas na estrada.

Igual situação verificou-se na zona da Pontinha/Loures, onde o nível das águas causou dificuldades ao trânsito automóvel e prejuízos materiais ainda não especificados. Em ambos os locais, a acumulação de águas começou cerca das 15 horas e 30 minutos, devido à anormal precipitação de chuvas.

Como já se aguardava, a interrupção do trânsito na Segunda Circular causou longas filas de veículos parados procedentes da zona Estoril-Cascais e Sul. No sentido Norte-Sul, embora com alguma dificuldade, o trânsito processou-se sem interrupções, até cerca das 17 horas e cinco minutos, quando as filas se começaram a formar por extravasamento das águas de uma faixa para a outra, obrigando a uma marcha mais lenta.

Os barcos que fazem a ligação entre a margem sul do Tejo e Lisboa estiveram, por outro lado, igualmente parados devido ao mau tempo, informou fonte da empresa fluvial Soflusa. Joaquim Correia afirmou que as ligações estiveram interrompidas desde as 12 horas e que houve forte ondulação e ventos. Segundo ele, este mau tempo prejudicou seriamente os muitos passageiros que chegaram ao Barreiro nos comboios provenientes do Algarve e do Alentejo, para além de passageiros avulsos.

Em contacto com a Polícia Marítima soubemos que até ao princípio da noite nenhum acidente se tinha verificado no Tejo e na Barra de Lisboa.