Eugénio Queirós

enviado JN

Rui Costa ouviu algumas «bocas» quando, sábado, depois do empate a zero com a Arménia, entrou no «Bartolomeu de Gusmão», a moderna «passarola» com motor a jacto e o símbolo da TAP que levou as selecções nacionais, de «Esperanças» e «AA», à Arménia. Uma vitória à tangente, dos mais novos, e um empate a zero, dos mais velho, foi o fraco saldo dos pontapés de saída do Campeonato da Europa de «Esperanças» e do «Mundial» de França/98.

Para Artur Jorge, que regressou ao comando das selecções, o empate a zero bolas conseguida em Yerevan tem um sabor bem amargo. Este resultado surgiu não só depois de uma série de contrariedades (Paulinho Santos, Domingos, Paulo Sousa e Figo não puderam ser utilizados devido a problemas físicos vários) mas aconteceu também porque a equipa portuguesa esteve a milhas do seu melhor.

Um sentimento quase geral e que se repercutiu no momento em que os jogadores portugueses entravam no avião, pre parados para uma viagem de seis horas que os fez chegar a Lisboa já com o domingo em fase solar.

«Vedetas», ouviu-se. Mas o dixote terá pecado por algum despropósito. Rui Costa já deu provas de que é um jogador de selecção. Mas a verdade é que tanto o jogador da Fiorentina como todos os outros que o acompanharam nunca conseguiram pôr no relvado uma supremacia técnica incontestável sobre uma Arménia que teve como grande mérito o facto de ter jogado sempre nos limites, como se aquele fosse o jogo mais importante da sua história.

«Parecia que eles iam de mota», comentava um jogador português a força e a velocidade evidenciadas pelos jogadores arménios, transformados em heróis quando consumaram o empate com Portugal, feito presenciado pelo próprio Presidente da República e primeiro-ministro arménios.

O ambiente que se viveu na cabina portuguesa esteve carregado de «chumbo», como nos foi possível observar através das amplas vidraças que também deixavam ver os atletas «à pai Adão». Sentados, de cabeça baixa, os jogadores viam Artur Jorge passear de um lado para o outro com as mãos atrás das costas.

Pouco antes, o seleccionador nacional tinha manifestado algum nervosismo quando confrontado com as questões colocadas pelos jornalistas. Por exemplo, quando falava de Figo o seleccionador disse que o jogador do Barcelona «não jogou porque não quis», o que foi dito num contexto em que manifestamente Artur Jorge prentendia afirmar que o craque não tinha alinhado devido ao problema físico que o apoquentou.

«Lapsus linguae» ou não, a verdade é que o seleccionador disse o que disse, o que está gravado, para depois o desmentir. Mas o JN apurou que, de facto, Figo podia ter tido outro espírito de sacrifício...

Na véspera, o jogador do Barcelona sentiu um toque na região tibio-társica durante o treino de adaptação ao relvado. Algumas horas depois, o dr. Bargão dos Santos, responsável clínico da selecção, diria aos jornalistas que nem valia a pena falar no caso pois tratava-se «de uma ligeira entorse facilmente recuperável».

Na manhã do dia do jogo, outro médico da selecção, o dr. Camacho Vieira, corroborou o diagnóstico, dando Figo como apto. Mas Figo acabou por não alinhar.Fez um teste alguns minutos antes do início do jogo e disse ter sentido uma pequena dor.

Por isso, e muito embora o seu nome tivesse saído na convocatória, viu o jogo junto ao banco de suplentes. No fim, Figo diria que não estava em condições para alinhar, mas não convencia toda a gente. Uma entorse daquele género costuma não ser impeditiva: uma ligadura bem feita e algum espírito de sacrifício costumam bastar para a ultrapassagem do problema. Ou será que alguém subestimou a Arménia?

Para somar a tudo isto, o regresso da Arménia das selecções nacionais fez-se de uma forma algum penosa. A partida foi retardada em quase duas horas porque o presidente da Associação de Futebol de Évora viu o seu passaporte ser despachado com a bagagem de porão.

Por isso, as equipas nacionais só aterraram em Lisboa às cinco e meia de ontem, ao que se devem acrescentar mais três horas relativas à diferença de fusos horários entre Portugal e a Arménia. Foi, pois, evidenciando algum cansaço de Figo, Fernando Couto e Vítor Baía seguiram quase de imediato para Barcelona, com destino a Oviedo.