Israel aplaude, Palestina condena "Bibi" foi feliz no Golfo

Benjamin Netanyahu manifestou o seu apoio à intervenção norte-americana, afirmando que a "agressão" do Presidente iraquiano Saddam Hussein exigia uma punição. O primeiro-ministro israelita sossegou o país afirmando que a população nada tem a temer do conflito no Iraque. Os israelitas, pelo seguro, correram aos centros de distribuição de máscaras de gás, chegando a formar filas em Telavive.

O bombardeamento americano colocou na sombra as negociações entre israelitas e palestinianos para estabelecer uma fórmula vaga de paz que permita o primeiro encontro entre "Bibi" e Yasser Arafat. A hora e o lugar do encontro deviam ficar ontem estabelecidos mas o cenário político que rodeia a reunião foi alterado, sem dúvida a favor de "Bibi", com o agravamento da crise no Golfo.

O fracasso de mais uma jornada de conversações, segundo fontes da delegação palestiniana, ficou a dever-se à recusa, por Israel, em incluir o termo "implementação" numa declaração conjunta que deverá reafirmar o empenhamento no Acordo de Autonomia assinado em Oslo em 1993. As mesmas fontes admitem que "Bibi" está disposto a concordar com os princípios de Oslo mas não com o avanço na sua aplicação nesta altura.

Netanyahu manteve-se desde a sua eleição intransigente nas condições do encontro com Arafat. O endurecimento em relação ao processo de paz ameaçava ter custos políticos elevados para o líder da direita israelita, que recuperou ontem espaço e tempo de manobra na questão palestiniana. Netanyahu, que foi avisado antes do ataque por Washington, não escondia ontem a sua confiança: "Penso que o Presidente Bill Clinton tem o apoio total de Israel ao afirmar o princípio de que uma agressão deste tipo não deve ficar sem castigo".

No lugar oposto, o da angústia, está Yasser Arafat. O Presidente da Autoridade Palestiniana dispensaria de bom grado uma crise no Golfo que instiga a coesão interna israelita contra Saddam Hussein. Arafat não agradece, tão-pouco, uma situação que lhe poderá fazer perder tempo nas negociações com Israel - o bem mais escasso do patriarca, encurralado entre o eclipse da paz e o aumento da oposição do lado palestiniano.

A Autoridade Palestiniana considerou os ataques injustificados e susceptíveis de contribuir para a escalada das tensões na região. "Os EUA cometeram um erro ao atacarem o Iraque", afirmou Azzam al-Ahmad, ministro palestiniano das Obras Públicas e antigo representante da OLP em Bagdad. "O Iraque tem o direito a preservar a unidade do seu país, com os meios que escolheu", acrescentou al-Ahmad referindo-se à ofensiva de Bagdad no Curdistão iraquiano.

O Hamas, movimento pró-iraniano, leu no ataque mais um golpe "nas aspirações da nação árabe e dos países islâmicos de viver em liberdade e em segurança". Outro grupo radical, a Frente Popular de Libertação da Palestina, acusou Washington de "uma vez mais desempenhar o papel de polícia do mundo" e o Presidente Bill Clinton de ordenar os ataques com o objectivo de assegurar a sua reeleição em Novembro.

Netanyahu, que se tornou um rosto familiar como porta-voz de Israel durante a Guerra do Golfo, tentou acalmar os receios de um segundo ataque iraquiano. "Não vemos, neste momento, perigo deste conflito se estender na nossa direcção", afirmou. "Mas temos de estar sempre, e por isso estamos, vigilantes, tomando todas as precauções necessárias".

Centenas de israelitas que não tinham ainda devolvido as suas velhas máscaras de gás da guerra do Golfo (muitas delas defeituosas), numa campanha anunciada sem grande sucesso durante meses na televisão e imprensa, apressaram-se a colaborar com o programa de substituição. Ao todo, foram abertos 43 centros de distribuição. Apesar de as autoridades apelarem a um dia de rotina, os fotógrafos foram proibidos de fotografar - "para não assustar a população", segundo fonte militar.

Pedro Rosa Mendes