Fernando Gomes está irritado com as críticas que lhe foram dirigidas pelo facto de a sua lista candidata à Câmara do Porto incluir muitos independentes. "Quem fez as listas fui eu. Só eu. Não tenho mais comentários a fazer", reagiu o autarca.

A contestação à lista apresentada por Fernando Gomes subiu de tom quando Nuno Cardoso, escolhido para ser o "número dois" do autarca portuense, afirmou, entre outras coisas, que o PS, tal como está, não é suficientemente atraente. Além disso, anunciou que não assumiria o seu lugar de vereador a tempo inteiro, uma vez que, por razões financeiras, era-lhe mais vantajoso continuar durante mais dois anos na empresa Águas do Douro e Paiva.

A "Concelhia" do Porto do PS reagiu de imediato, criticando o comportamento de Nuno Cardoso. Da mesma forma, José Saraiva, num texto publicado na passada quinta-feira no JN, contestou veementemente as declarações do colaborador de Fernando Gomes, considerando-as um "absurdo", um "desaforo" e uma "desfaçatez".

O deputado socialista insiste nas críticas e afirma mesmo que a lista do PS à Câmara do Porto tem um número excessivo de independentes, a começar por Nuno Cardoso.

José Saraiva revelou, ainda, que não gosta da postura de alguns independentes, que, "se der jeito, embarcam no comboio", mas quando não dá jeito ficam de fora a opinar sobre o partido". Em sua opinião, e "sem querer generalizar", este tipo de posicionamento é revelador de "oportunismo".

Perante estas declarações, Fernando Gomes limitou-se a chamar a si a responsabilidade exclusiva da elaboração das listas.

Por outro lado, Gomes assumiu ontem a defesa de mais uma "questão quente", manifestando-se favorável a um adiamento, por alguns meses, do referendo sobre a regionalização. Trata-se de uma posição que colide com a de Francisco Assis, líder parlamentar do PS, que, em entrevista ao JN, define como data limite para a consulta popular o mês de Junho do próximo ano, quer haja ou não a actualização dos cadernos eleitorais.

"Se esse adiamento não puser em causa as eleições regionais dentro da actual legislatura eu sou favorável", sublinhou ontem Fernando Gomes.

O presidente da Câmara do Porto, que reconheceu ter sido um dos principais defensores da realização do referendo sobre a regionalização a 25 de Abril de 1998, salientou que "nessa altura ninguém tinha ainda ajuizado que o número de eleitores fantasma era tão grande".

"A realizar-se na data inicialmente pretendida, haveria, com certeza, um conjunto de partidos políticos que contaria com essa abstenção para reclamar uma vitória política", acrescentou.

O líder da "Distrital" do Porto do PS, Narciso Miranda, concorda com Fernando Gomes quanto ao adiamento do referendo sobre a regionalização para permitir uma limpeza dos cadernos eleitorais e dar "autenticidade" à consulta popular.

"Defendo tudo o que for possível fazer para dar autenticidade ao referendo sobre a regionalização desde que a implementação do processo seja feita até ao fim da legislatura", afirmou.

"Seria absurdo fazer o referendo sem a limpeza dos cadernos eleitorais", argumenta o presidente da Câmara de Matosinhos, acrescentando que o adiamento do referendo não deve pôr em causa a realização das eleições regionais até ao fim da legislatura, em 1999.

"Estes cadernos eleitorais são uma mentira", considera o autarca de Matosinhos, sublinhando que não foi agora que se apercebeu da existência de muitos falsos eleitores.

"Mas não admitíamos a questão de o referendo só ser válido quando votem 50% dos eleitores", acrescentou.

A validade do referendo apenas quando votem mais de 50% dos eleitores inscritos nos cadernos eleitorais resultou da revisão constitucional aprovada em Setembro último, após um acordo PS/PSD que causou alguma contestação no seio dos socialistas.

"Foram cometidos erros no acordo para a revisão constitucional, nomeadamente essa dos 50% que retira autenticidade à consulta popular", refere Narciso Miranda que se escusou a adiantar nova data para o referendo sobre a criação das regiões administrativas.

"A questão que se deve pôr é quanto tempo é que é preciso para limpar os cadernos eleitorais", rematou.

Questionado sobre se defende um novo recenseamento eleitoral, o autarca limitou-se a referir que deve ser adoptada a solução que permita que os cadernos eleitorais sejam actualizados o mais rapidamente possível.

"Os partidos têm de se entender o mais urgentemente possível sobre essa matéria", preconizou.