Borges Gouveia
A semana do banzé!...
Valha-nos a verdade que ninguém gosta de perder... e muito menos quando até nos parece que fazemos melhor do que o nosso adversário.
Mas há um enorme número de vezes na nossa vida que tal acontece. Normalmente, podemos ter duas atitudes bem opostas: uma é reconhecer que, embora tivéssemos sido melhores, perdemos provavelmente pelos mesmos motivos por que em muitas outras vezes, jogando pior, tínhamos ganho; a outra é reconhecer que jogamos melhor, que nesta situação a derrota é absolutamente insuportável (por um enorme conjunto de razões que a mim, portista, não me interessam para nada...), e, portanto, opto por fazer o maior banzé possível, para despertar tudo e todos contra um campeonato, até porque só por culpa própria não é possível encontrar um caminho para a saída da crise. Por isso, na próxima semana, o banzé será motivado pela impossibilidade de alteração da data do encontro, para, com a mesma "palavra dada" da outra vez, voltar a furar os regulamentos. Mesmo quando não concordamos com eles, primeiro respeitam-se, depois tentamos alterá-los em sede própria e, após a aprovação das alterações, então, sim, se faz aquilo que pretendo.
Quem não é portista de passado recente, isto é, os "dragões" de longa data, normalmente chamados de "andrades", lembra-se das muitas vezes que as regras aprovadas nessa altura tinham sempre uma excepção que não deixava de privilegiar sempre os mesmos. Esta era sempre a nossa forma de encarar o problema. Era sempre a velha desculpa. E os outros, em particular os árbitros, tinham grande dose de culpa. Nessa altura, também andávamos no campeonato pelo meio da tabela e as equipas do Sul sempre ocupavam os primeiros lugares. Não era bom, achávamos que o campeonato estava feito para as equipas de Lisboa e, quando as coisas encarreiravam, havia sempre um Barreirense, um Atlético ou um Estoril que nos retiravam os pontos por que tanto ansiávamos. Felizmente, com Pinto da Costa, este atavismo e tremideira crónica, com as consequentes e inesperadas perdas de pontos, o jogar bem e perder foram-se esbatendo e actualmente este discurso de expiar as próprias mágoas foi banido do quotidiano portista.
Até sabemos que podemos jogar mal, bem pior do que os outros (o que até é difícil... e até tem acontecido...), mas temos a certeza de que haverá sempre alternativas para jogar na altura-chave que podem (como aconteceu...) virar aquilo que parecia imutável. E a vitória contra o Benfica no sábado passado pode também ser perspectivada assim, sem banzé e mais simplesmente. Do lado dos "azuis", a estabilidade e a regularidade exibidas ao longo de todo o encontro ficaram bem demonstradas com a utilização de nove jogadores que participaram no encontro anterior entre estas duas equipas. Do lado dos benfiquistas, só dois jogadores repetiram o jogo e, mesmo assim, nem treinadores nem direcção já eram as mesmas.
Realmente, é preciso chamar a atenção para outras questões, irracionalizar o racional, decidir sobre as emoções e depois, na leitura inexorável do que é presente, verifica-se que a posição classificativa é bem reveladora da confusão total. Expressa de forma dramática entre o que eram as promessas eleitorais e a incapacidade de dar um rumo de subida na classificação, na estabilização da equipa, na credibilização do clube perante os associados menos emocionáveis com o banzé e que provavelmente afugentará possíveis financiadores e, com o virar dos tempos e dos resultados, os próprios adeptos que hoje ajudam no caso do banzé.
Nós, cá por cima, leia-se FC Porto, continuamos a apostar na estabilidade, na serenidade, na organização e na liderança do nosso presidente e agora a confiar-lhe não só a condução do futuro da sociedade desportiva mas também os destinos do nosso clube - o FC Porto, para que foi eleito sem banzé...
E, como eu dizia na crónica da semana passada, de todos os adversários, sem diminuição para qualquer deles, o Benfica continua a ser, para os portistas, o grande adversário, aquele a quem mais gostamos de ganhar, mesmo jogando pior... mas sem banzé!
Borges Gouveia é professor universitário, adepto do FC Porto e escreve ao sábado