Sindicato dos Jornalistas Contra Ofensas Aos Árbitros na Imprensa

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) condenou ontem a publicação de textos que incluem comentários ofensivos acerca de árbitros de futebol. Na sequência de um pedido da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), o Conselho Deontológico do SJ apreciou um conjunto de títulos, comentários e rubricas jornalísticas de várias publicações que a associação considera "desprimorosos, se não ofensa grave," para com os árbitros, concluindo que neles se faziam afirmações "irresponsáveis". Há jornais com comportamentos "indesculpáveis", acrescenta.

No seu comunicado, o Conselho Deontológico não cita os nomes dos jornais nem dos autores dos textos em questão, mas numa carta que lhe foi enviada pela APAF, e a que o PÚBLICO teve acesso, estes são claramente identificados. O presidente da direcção da associação de árbitros, Vítor Reis, afirma não querer "nivelar todos os jornalistas pela mesma bitola", mas pediu às várias entidades para quem escreveu sobre o assunto que "apelem encarecidamente à ética e deontologia" da classe.

Um dos casos apontados pela APAF é uma frase de Rui Cartaxana, no diário "Record" que o sindicato considera deixar razões para suscitar "indignação" à associação e respectivos membros: "Salvo duas ou três excepções, são sempre os mesmo 26, medíocres, influenciáveis e malformados".

Ao apreciar um texto de opinião assinado por Luís Costa Branco ("pivot" da SIC-Notícias) também no "Record", o Conselho Deontológico considerou as suas declarações "irresponsáveis". "Só peço para que, na eventualidade de me cruzar com o árbitro Pedro Proença, tenha todos os meus pertences bem assegurados. É que o risco de desaparecer algo é enorme."

Há ainda outros casos que o Conselho Deontológico classifica de "comportamentos indesculpáveis", nomeadamente os títulos de rubricas como "Agarra que é árbitro", no "24 Horas", ou "Os 10 maiores roubos de igreja", no "Record". Manchetes em que os árbitros são normalmente conotados com o "roubo" a uma ou outra equipa são também referidos na queixa da APAF. O Sindicato dos Jornalistas salienta que tais atitudes "estão, objectivamente, a instigar a crimes de difamação, quando não de agressão física de árbitros de futebol".

Questionado pelo PÚBLICO, o director do "24 Horas", Pedro Tadeu, afirmou que a rubrica "já não existe, pelo que a crítica vem fora de tempo". Embora admita que algum leitor possa ter escrito que "o árbitro x roubou o clube y", defende que a rubrica "não tinha qualquer carácter insultuoso em relação aos árbitros". E aproveitou para apontar o dedo ao Conselho Deontológico: "Acho estranho que o Sindicato dos Jornalistas critique a atitude dos jornais e acabe por se pronunciar sobre esta questão sem lhes pedir qualquer esclarecimento. Pelo menos o '24 Horas' não foi consultado."

Afirmando-se "incondicionalmente na defesa do jornalismo corajoso e responsável", o SJ recusa ser cúmplice "com a cobardia dos ataques a pessoas frequentemente impossibilitadas de defender-se no momento e no lugar onde são visadas", já que os árbitros estão proibidos, pelos estatutos que os regem, de comentar as suas atitudes nos jogos. Mais: afirma que "atribuir intencionalidade a uma decisão eventualmente errada de um árbitro constitui um claro desrespeito à ética e muito provavelmente um crime".

O presidente do Conselho Deontológico, Oscar Mascarenhas, afirma que aquele órgão "não dá qualquer cobertura a este tipo de atitude de jornalistas ou mesmo de comentadores" e lembra que as direcções são responsáveis por tudo o que se escreve, independentemente de se tratar de pessoas dos quadros do jornal ou não.

A APAF admite avançar com procedimentos judiciais contra os jornais que falam dos árbitros no seu todo e, nos casos particulares (como o de Pedro Proença), irá apoiar juridicamente os seus associados.

O PÚBLICO tentou também obter comentários da direcção do "Record", mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.

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