Deputados e burocratas

brincam aos banqueiros

atravessa uma difícil

crise na Rússia,

provocada por novas

investidas políticas

Correspondente em Moscovo

Sérgio Bertoni

O frágil sistema bancário russo sofreu fortes abalos na semana passada. Primeiro foi a publicação de uma nova instrução do Banco Central e depois o escândalo de um banco privado viabilizado pelos ministérios da Agricultura e do Património Estatal, com o coincidente apoio da presidência da Duma (Parlamento russo).

No início da semana passada, o Banco Central russo publicou uma instrução regulamentando a "formação e uso de reservas em possíveis perdas causadas por empréstimos". A norma visa reduzir o número de institutos financeiros actuantes no país, bem como coibir o surgimento de novos. Dependendo do nível de risco de cada empréstimo, os bancos, a partir de 1 de Fevereiro, serão obrigados a formar fundos de reserva até 100% do valor de cada empréstimo concedido. Acredita-se que somente 200 dos quase 2000 bancos registados actualmente no país não terão dificuldades de maior para se adaptarem ao novo sistema. Os demais ou serão fechados, por não conseguirem cumprir as normas do banco central, ou serão absorvidos pelos maiores.

Porém, nem sempre as fusões entre bancos são vistas com bons olhos neste país. Mal se recompusera do abalo causado pelas novas medidas do banco central, o mercado viu-se às voltas com o escândalo em torno do AgroPromBank - APB.

O motivo oficial do escândalo foi a sétima emissão de acções deste banco, em Maio de 1997 . Segundo os funcionários do Governo Leonid Kholod, vice-ministro da Agricultura, e Serguei Molajav, vice-ministro do Património Estatal, esta emissão de acções teria diminuído pela metade a percentagem de acções penhoradas junto ao Estado e portanto deve ser anulada. Já na opinião de Aleksandr Smolenski, presidente do conselho de directores do SBS-Agro, "as reclamações dos funcionários públicos são infundadas, pois a sétima emissão foi registada no Banco Central, o que não aconteceria caso tivesse lugar alguma infracção da lei".

Banco privado desde 1992, com participação accionista do Estado de 1,5%, o APB foi até 1997 o principal intermediário entre os subsídios estatais e os produtores rurais, sendo ainda o principal credor do sector agrícola.

No final de 1996 o APB estava próximo da falência graças à sua política de empréstimos a juros baixos. Na prática, estes nunca foram pagos e tornaram-se empréstimos a fundo perdido. O Governo russo promoveu na época uma licitação pública que fez com que o Banco de Poupança Stolitchini - SBS se tornasse responsável pelo saneamento do APB, dando origem ao SBS-Agro Bank, uma das maiores instituições bancárias privadas do país com ampla rede de filiais, principalmente nas regiões rurais da Rússia.

Diferentemente do seu antecessor, o SBS-Agro passou a cobrar pelos empréstimos já concedidos e a exigir garantias para concessão de novos empréstimos na tentativa de melhorar a saúde financeira do APB. Acostumadas ao dinheiro fácil e barato, as lideranças regionais não gostaram da nova forma de actuar do SBS-Agro e recorreram ao governo federal com a proposta de "criação de um sistema normal (estatal) de financiamento e crédito ao campo".

Coincidentemente, Guenadii Celezniov, presidente da Duma (parlamento), em carta ao presidente Boris Ieltsine, solicitou "a anulação da venda do AgroPromBank ao SBS e a criação de um sistema nacional (estatal) efectivo de crédito financeiro ao serviço do sector agroindustrial da Rússia".

O futuro do APB desperta grande interesse entre deputados comunistas e agrários. Quase que unanimemente, assessores da Duma afirmam que por trás dos deputados estão bancos interessados em receber parte do dinheiro federal enviado ao APB. Às lideranças regionais interessa o ressurgimento de um sistema de escoamento dos subsídios federais às regiões sem nenhum controlo. A sectores do Governo federal interessa distribuir verbas como bem entender.

Para isto, é preciso expulsar o SBS-Agro do campo ou, ao menos, redistribuir o poder por este concentrado. A equação é simples: à medida que aumenta o poder económico do SBS-Agro, aumenta também o seu poder político e diminui o poder político e económico de grupos concorrentes. E, na nova fase de partilha da propriedade iniciada por este escândalo, não interessa nem aos políticos nem aos empresários que a SBS-Agro tenha predominância sobre os demais.