O fato está de volta e afirma-se como um dos grandes protagonistas da moda masculina e feminina para a próxima Primavera/Verão. Esta uma das leituras possíveis do conjunto de propostas que integrou o primeiro desfile do "Portugal Fashion", que decorreu anteontem à noite, no Mercado Ferreira Borges. E para evitar a monotonia, muitas assimetrias e transparências.

Está bem o que acaba bem. A frase pode resumir esta primeira noite de moda. Mas, percorrendo o conjunto de colecções apresentadas, detectam-se altos e baixos. Bela Gens, um dos "novos talentos" a que a organização deu a oportunidade de mostrar o que vale, no certame de moda portuguesa com maior visibilidade no estrangeiro, foi um sinal menos no conjunto das colecções, apesar de lhe caber a responsabilidade de abrir o desfile.

A proposta de Dores Ozório poder-se-á qualificar de equidistante, em relação às de Bela Gens e Paula Rola - a estilista que assinou uma das melhores colecções.

A presença da indústria justificou a opção da Associação nacional de Jovens Empresários (ANJE) em trazê-la para o seio dos criadores e costureiros, para juntos, apresentarem uma imagem mais inteira da moda que sabemos fazer e queremos promover. Sem eles, ficaria por mostrar a qualidade da nossa oferta em termos de moda masculina, sobretudo o eterno e clássico fato de homem, bem cortado, impecável e charmoso, e que apesar de muito visto, agrada sempre ver de novo, como mostraram "Maconde" e "Bruno Belloni"...

A resposta da costura cumpriu as expectativas e trouxe ao "Ferreira Borges" alguns dos melhores momentos da noite.

O naipe de colecções permite extrair algumas conclusões, quanto ao que vai ser a moda na Primavera/Verão de 1998. Uma delas é que o fato vai ser regra, tanto para homem como para senhora.

No fato de homem, o casaco apresenta-se geralmente folgado, sobre o comprido e com gola equilibrada; inteiro, ou com uma racha atrás ou duas laterais; com bolso simples ou bolso duplo; subido, com três ou quatro botões;

as calças, em geral, são amplas e com virola.

O azul e o cinza predominam, em tecido uniforme ou com risca diplomática. O contraponto é feito pelos tons de bege, para horas mais quentes e lugares mais informais.

Para a mulher, o fato admite todas as versões, incluindo o estilo masculino.

Aliás, a "Maconde" apresentou uma silhueta em que a única nota feminina do modelo eram os saltos, tipo agulha.

A regra do fato é flexível, sobretudo no "Atelier de Costura". "Brincando" com os detalhes (que são essenciais apesar de "detalhes") Cláudia Silva Reis e Alexandra Oliveira inovaram o tradicional fato, até à exaustão: desde o "tailleur" tipo Chanel, ao "tailleur-pantalon"; com casaco-túnica ou estilo bolero; com manga comprida, meia manga ou manga três quartos; cingido, ou ajustado com cinto; com gola ou sem gola; com bolsos de chapa ou metidos...

A excepção que confirma a regra são os conjuntos e os vestidos. Este foi o reino das assimetrias, sobreposições e transparências, visitado também pelas estilistas do "Atelier de Costura".

A colecção "Flagrante", oscilou entre a pimenta e canela, numa moda com referências orientais: vestidos esvoaçantes, túnicas e echarpes que exaltam o feminino.

vestidos ondulantes. que se cingem ao corpo, formas de inovar o clássico tailleur, por vezes com golas caprichosas.

Paula Rola impressionou pelo equilíbrio da sua proposta. O corpo feminino é valorizado com base no confronto entre o longo e o curto, a transparência e a opacidade dos tecidos, as soluções geométricas e assimétricas.

"Augustus" encerrou o desfile com uma vasta gama de vestidos, onde a transparência e assimetria foram as notas mais fortes, por vezes "despindo" mais do que vestindo. Tipo bainha pelo tornozelo, do lado direito, e, do outro lado, a mostrar o joelho ou a subir mesmo até limites inusitados.

Nota negativa: a casa demorou a encher, o que contribuiu para que o desfile se iniciasse com um atraso de três quatros de hora. Um velho hábito português que tarde em ser corrigido. E num evento em que o acesso é feito por convite, ainda pior. Nunca cai bem fazer esperar os convidados.

E por falar em convidar, o intervalo, a meio do desfile, foi para alguns - entre eles o presidente da Câmara - um convite à deserção.