Sonae avança com projectos ambiciosos em Espanha
Belmiro de Azevedo desenvolve a Ibersol e Sonae Retalho, vocacionadas para o contacto directo com o cliente
A Sonae é o único dos grandes grupos empresariais portugueses que tem um projecto para a Península Ibérica.
Desde que, em 1986, Portugal aderiu à CEE que Belmiro de Azevedo, o presidente do grupo, tem vindo a tecer uma série de alianças e acordos com grupos empresariais espanhóis para levar a cabo projectos conjuntos nos dois países.
Mas se numa primeira fase o líder da Sonae preferiu evitar um envolvimento demasiado expressivo no país vizinho, depois da compra da Tafisa a Espanha foi-se tornando paulatinamente no seu mercado estrangeiro prioritário.
A Sonae, para além da Tafisa, que é o seu principal activo empresarial do outro lado da fronteira, conta agora com projectos definidos como os da Ibersol ou da Sonae Retalho, que poderão elevar a facturação do grupo no país vizinho dos actuais 31 500 milhões de pesetas (37,5 milhões de contos) para cifras superiores aos 200 000 milhões de pesetas (240 milhões de contos) em menos de cinco anos. A Sonae já está a preparar a instalação em Espanha da sua divisão de restauração, a Ibersol, um projecto que poderá acrescentar vários milhões de contos ao seu volume de negócio do lado de lá da fronteira.
Fontes da Sonae em Espanha anunciaram que a expansão da cadeia se iniciará durante os próximos meses e que Alberto Teixeira, um dos executivos do grupo, se encarregará pessoalmente do projecto.
A Ibersol, que é master franchising e explora restaurantes das marcas Pizza Hut ou Kentuky Fried Chicken (até há pouco da PepsiCo) ou de conceitos próprios como O'Kilo, mantém já relacionamentos com sócios espanhóis através da Pans & Company, uma marca e uma rede da firma catalã Agrolimen que a Ibersol explora em Portugal e da qual possui vários restaurantes no nosso país.
As fontes da Sonae não explicaram que conceitos explorarão em Espanha: se as suas próprias marcas ou também outras.
Importante é também a decisão de incluir a Espanha nos novos projectos da Sonae Retalho, que consistem em desenvolver cinco ou seis cadeias de distribuição especializada em informática, artigos desportivos, decoração ou bricolage e que poderão vir a representar cerca de 70% da facturação total dos 200 milhões de contos esperados pelo grupo para os próximos três ou quatro anos.
A implantação destes projectos em Espanha parece estar muito amadurecida, de acordo com fontes da organização.
Os dois novos negócios representam, contudo, uma grande variação com respeito aos actuais, limitados à Tafisa.
Em primeiro lugar, porque a Sonae passará da exploração de um produto intermédio (os aglomerados), em que opera como fornecedora de outras indústrias (móveis ou construção), para o desenvolvimento de linhas de negócio viradas para o grande público, com uma relação directa com o cliente.
Outro ponto a destacar é que enquanto que a Tafisa era, no fundo, uma empresa espanhola adquirida pela Sonae, na distribuição e no fast food trata-se de novos negócios, que são em muitos casos marcas portuguesas, e que terão que ser lançadas no mercado espanhol com todo o risco que isso implica.
Alguns analistas consultados em Madrid colocam a questão de se saber se a Sonae está definitivamente preparada para um projecto desta envergadura.
No fundo, a capacidade e habilidade da Sonae para gerir um negócio local ainda está por demonstrar.
Belmiro de Azevedo é um empresário relativamente conhecido no país vizinho mas de low profile. Alguns observadores acham que faria falta uma boa campanha de difusão da personalidade do empresário português antes de acometer projectos de tal envergadura.
No que respeita à actuação da Tafisa, Belmiro de Azevedo tem um projecto ambicioso, tanto a nível da configuração ibérica da empresa como da sua expansão internacional, mas os resultados do projecto ainda estão por demonstrar.
A acção da Tafisa esteve em baixa durante muito tempo e só nos últimos meses começou a elevar-se.
Mas não é um valor bolsista preferido dos analistas devido à sua escassa liquidez.
Recentemente, a empresa levou a cabo uma operação de aumento de capital de 11 500 milhões de pesetas (13,6 milhões de contos) na Bolsa espanhola, do qual não se conhecem publicamente os resultados.
Sabe-se que não foi bem recebida pelos analistas do mercado de capitais e o seu preço de venda foi considerado caro.