Viagem pelo Passado dos Blues

Com os seus quatro CDs , 100 temas e um livrete de 64 páginas, cobrindo os primeiros 50 anos dos blues, a caixa "Century Of The Blues", da britânica Chrome Dreams, só peca por chegar até nós um pouco tarde. O ano de 2003, que o Congresso norte-americano classificou de "Ano dos Blues", já lá vai mas o que interessa? Discutível (ou não) a selecção dos 100 temas, indesmentível a frágil qualidade de algumas gravações, como "Future blues" de Willie Brown, a caixa é um caldeirão mágico de história, capaz de acompanhar qualquer documentário sobre o tema.

Ouvir "Century Of The Blues" é como uma viagem, uma jornada que começa onde tinha de ser, no Delta do Mississipi e com os protagonistas óbvios, homens como Charley Patton, Son House, Willie Brown, Tommy Johnson, Ishmon Bracey ou Robert Johnson.

De Robert Johnson, um dos mais influentes e lendários de todos os "bluesmen" dos primórdios, surge o endiabrado e ritmado "Preachin' Blues (Up Jumped The Devil)" e o sofrido "Kindhearted woman blues". Ouve-se e percebe-se porque, muitos anos mais tarde, gerações de músicos como Eric Clapton, Keith Richards ou Robert Plant beberam no som e nos temas para os dar a conhecer aos jovens famintos do rock'n roll.

O primeiro CD é dedicado, em 25 temas, aos pioneiros dos blues do Delta do Mississipi. Optou-se por variar o mais possível o leque de executantes, o que permite uma visão alargada do que a época ofereceu, seja o blues ultra melancólico de Skip James ou a força e agressividade de "Shake 'em down" de Bukka White. Há momentos memoráveis como "Sitting on top of the world" dos Mississipi Sheiks e os seus violinos ou Mississipi John Hurt a cantar e contar a história de Stagger Lee. Surgem também nomes mais obscuros como Ed Andrews, numa gravação difícil de 1924 de "Barrelhouse blues" ou Robert Petway, no repetitivo "Catfish blues". Há outras preciosidades, como o blues balanceado e gritado de Tommy McLennan ou a primeira versão de "Bullfrog blues", anos mais tarde celebrizado pelo blues rocker irlandês Rory Gallagher.

O alcance pedagógico desta caixa vai-se desvendando tema a tema, página a página do livrete. Importante a inclusão do branco Jimmie Rogers para que se ilustre a influência dos blues na música country, bem como a guitarra hawaiana de Sol Hoopi que influenciou os praticantes de "slide guitar" do Sul dos EUA. E há a preocupação de deixar um exemplo marcante de cada executante, como acontece com "Kokomo" Arnold, Muddy Waters ou John Lee Hooker.

No segundo disco, a compilação evolui para os blues de Louisianna, Texas e Costa Leste. Mais uma vez, temos nomes consagrados como Leadbelly, Brownie McGhee ou Lightnin' Hopkins mas também muitos menos conhecidos, como Ramblin' Thomas ou Black Ace e a sua guitarra slide tocada em cima das pernas.

O terceiro CD começa por ser dedicado às vozes femininas, mais uma vez alternando entre o estatuto lendário de Bessie Smith ou Ma Rainey e nomes mais obscuros como Sippie Wallace, aqui numa gravação de 1926, "I'm a mighty tight woman". Completa-se com uma viagem pelos blues de Memphis, Tennessee e os seus pioneiros, gente como Walter "Furry" Lewis, o multi-instrumentalista Gus Cannon, Robert Wilkins, o pianista Leroy Carr ou o guitarrista Scrapper Blackwell. Por vezes, como em "How long, how long blues" de Leroy Carr, gravada em 1928, a qualidade sonora não é, nem podia ser, a ideal.

O quarto e último disco é dedicado aos pioneiros do som de Chicago. Há aqui muitas preciosidades, desde "Key to the highway" de Big Bill Broonzy a "Baby please don't go" de Big Joe Williams. Outros nomes inquestionáveis e incontornáveis incluídos: Muddy Waters, Howlin' Wolf (ouçam "Moanin' at midnight"), Little Walter, Robert Nightwak, Elmore James, BB King, T-Bone Walker. Menção para a inclusão de "This train" de Sister Rosetta Tharpe. Difícil concluir onde termina o gospel e começa o blues.

Esta caixa é uma aula, um mini-curso sobre os primeiros tempos dos blues.

Century Of The Blues, The Definitive Country Blues Collection

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