"Levantai-vos! Vamos!"
Papa João Paulo II
Uma agradável surpresa este livro de reflexões e memórias (o subtítulo de "Autobiografia" da edição portuguesa não é exacto) do Papa João Paulo II. Karol Wojtyla, de seu nome de baptismo, descreve em "Levantai-vos! Vamos!" os seus anos de bispo de Cracóvia, entre 1958, quando foi nomeado, e 1978, ano em que foi eleito como Papa. Este livro, note-se, é como que a continuação de "Dom e Mistério" (ed. port. Paulinas), onde se registam memórias do seu tempo de padre. Primeiro polaco a ocupar o lugar de Papa, Wojtyla pega num conjunto de episódios e reflecte sobre eles. O seu objectivo é que essas reflexões (algumas a partir de acontecimentos já do pontificado) tenham a ver com o desempenho do ministério episcopal. As memórias desfiadas, com nomes, sítios, datas concretas e histórias pessoais traduzem-se na primeira surpresa do livro: se hoje conhecemos um Wojtyla protagonista sobretudo de factos e acontecimentos, aqui ele revela-se como uma pessoa com amigos, vivências pessoais, memórias de ruas e lugares. A história que abre o livro, que recorda a comunicação da nomeação para bispo, é a esse título exemplar.
Segunda revelação: nestes episódios estão já contidas, por vezes, algumas constantes do seu pontificado, como os encontros com multidões. "Para um bispo é muito importante o relacionamento com as pessoas (...). No que me diz respeito, é significativo que nunca tenha tido a impressão de que o número de encontros fosse excessivo. (...) Naturalmente, o ofício que desempenho faz com que me encontre com muita gente, por vezes com verdadeiras multidões. (...) Nesse caso, porém, não é justo falar em massa anónima. Tratava-se de uma comunidade animada por um mesmo ideal."
Há ainda confissões pessoais ("A minha paixão era ser actor, pisar o palco"; "Um dia alguém me disse: 'Você tem talento... teria sido um grande actor, se tivesse ficado no teatro'), memórias dos confrontos com as autoridades comunistas (por exemplo, os encontros clandestinos ou os episódios para exigir a construção de uma igreja na cidade operária de Nowa Huta, que o regime comunista queria impedir), ou revelações de gostos literários e estéticos.
O livro mostra também como, na acção de Wojtyla enquanto bispo na Polónia, estava já forjado o modo de exercer o papel de Papa, na espiritualidade e na forma de ver a presença do cristianismo no mundo: a sua confissão de que a liturgia era "mais rica" em 1958 do que hoje, a sua devoção à Virgem Maria (emotiva é a forma como João Paulo II evoca uma canção popular mexicana, "La Virgen Morenita", que lhe é dedicada), a sua ligação a movimentos católicos de cariz mais conservador, as memórias de santos e mártires - de Cracóvia ou de outros lugares -, alguns dos quais o próprio Karol Wojtyla conheceu em vida -, tendo já beatificado um punhado deles. Também o título não é estranho a isto: a frase refere-se ao momento que antecede a prisão de Jesus, e em que este diz aos apóstolos: "Levantai-vos! Vamos!" Um convite dirigido de modo particular aos bispos, que não devem "ter medo", escreve o Papa.
Enfim, um livro importante para conhecer o lado mais pessoal de um homem que é, ainda, protagonista da história contemporânea.
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