Tripulantes perdem controlo da estação devido a erro de computador A Mir a andar à roda

José Vítor Malheiros A série negra continua: depois de todos os acidentes, incidentes, contratempos e sustos vividos pela anterior tripulação da estação Mir, uma nova avaria fez perder o controlo da estação, que gira desgovernada no espaço.

A reparação do módulo Spektr da Mir foi adiada "por dois ou três dias" devido a uma perda de orientação da estação espacial, anunciou o Centro de Controlo dos Voos Espaciais russo (TSOUP), em Korolev, nos arredores de Moscovo.

A saída no espaço estava programada para amanhã. Os cosmonautas deveriam reparar, a partir do interior, um rombo na fuselagem do Spektr causado por uma colisão com uma nave de carga a 25 de Junho passado.

A desorientação da estação, que começou a girar caoticamente no espaço, parece ter-se devido a uma avaria do computador central da nave. O incidente tem alguma importância já que os painéis solares da Mir apenas conseguem produzir electricidade se estiverem virados para o Sol e a perda de controlo da estação obrigou a desligar todos os equipamentos eléctricos com a excepção dos sistemas indispensáveis à vida. O computador avariado foi também imediatamente desligado, para evitar que cometesse mais erros.

Vladimir Solovev, o responsável pela missão em Korolev, citado pela AFP, considerou a situação como "muito grave". O centro de controlo russo teve porém o cuidado de vincar que o problema desta vez não tinha sido devido a qualquer erro humano, apesar de ele ser semelhante ao que ocorreu a 17 de Julho, quando um dos tripulantes da estação desligou acidentalmente um cabo.

Apesar do centro de controlo ter referido um adiamento de apenas dois ou três dias na reparação do Spektr, ninguém sabe quanto tempo poderá exigir a solução do novo problema.

A avaria do computador ocorreu momentos antes da acoplagem da Mir a uma nave de carga Progresso M-35, que teve por essa razão de ser realizada manualmente. A acoplagem esteve inicialmente programada para domingo mas acabaria por ser realizada apenas ontem à tarde. A Progresso M-35 tinha sido desligada da Mir no passado dia 6 e, desde então, estava a acompanhar a órbita da Mir a uma distância segura de dez quilómetros.

A bordo da Mir encontram-se actualmente os cosmonautas russos Anatoli Solovev e Pavel Vinogradov e o astronauta norte-americano Michael Foale que, nas palavras de um porta-voz do TSOUP, "reagiram sem emoção" ao novo contratempo. Se os tripulantes não conseguirem reparar a avaria e retomar o controlo da atitude da Mir, as reservas de energia poderão ser rapidamente gastas e os cosmonautas serão então obrigados a usar as reservas de combustível da Progresso ou da Soiuz, uma nave atracada em permanência à estação e que se destina a evacuações de emergência da tripulação.

O equipamento mais crítico é, como sempre, o sistema de produção de oxigénio. O TSOUP garante porém que "a [qualidade da] atmosfera da estação se altera muito lentamente" e que "os cosmonautas não têm nada a recear durante dois a três dias".

Apesar destas mensagens que se pretendem tranquilizadoras a verdade é que esta avaria não augura nada de bom nem para os tripulantes da Mir nem para a cooperação russo-americana. A NASA, que deve enviar em Setembro um novo astronauta para a Mir em substituição de Foale, David Wolfe, tem repetido que mantém todas as possibilidades em aberto e que se reserva o direito de ir buscar Foale sem deixar ninguém no seu lugar se considerar que a estação não possui as necessárias condições de segurança. Se a NASA decidisse não voltar a enviar um astronauta para a Mir, a decisão poderia pôr em causa o programa espacial tripulado russo, já que o pagamento norte-americano destas estadias constitui uma das suas principais fontes de financiamento. É evidente, porém, que a agência espacial dos EUA também retira grandes vantagens destas estadias, relativamente baratas para a experiência que proporcionam, e não porá esta colaboração em causa a não ser que considere existirem reais problemas de segurança.