o Sr. Deputado, admitindo essa hipótese da alternância, está perfeitamente convencido de que nunca mais perderá a maioria que hoje tem? Nesse pressuposto, então ainda é muito mais enigmático para mim o acordo celebrado entre o PSD e o PS!
Relativamente ao PSD compreendo o que se passa: VV. Ex.ªs têm o poder, desejam conservá-lo tão longe quanto possível. Porém, em relação ao PS devo dizer que, sinceramente, não o entendo!
Portanto, dentro do quadro destes pressupostos que acabei de expor, gostaria de ser elucidado porque, como referi, o Sr. Deputado fala claro e diz aquilo que pretende.
O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Costa Andrade.
então já não viveríamos em democracia.
Portanto, creio que todo o poder é contingente, mesmo o poder mais cimentado e mais consistentemente apoiado na consciência do povo português, como actualmente e por feliz coincidência, aconteceu para seu bem.
O Sr. Deputado perguntou se essa irreversibilidade não acabará por ser o «casa, descasa», «privatiza agora, reprivatiza logo». É óbvio que não, Sr. Deputado! Creio que nenhum governo minimamente responsável vai privatizar ou nacionalizar sem juízos correctos de adequação económica, pelo menos os juízos que essa força política no Governo faz, responsabilizando-se, naturalmente, perante o eleitorado. Não creio que o perigo seja esse! De resto, reparem os Srs. Deputados que a possibilidade de nacionalizar existe há quinze anos e nunca ninguém nacionalizou seja o que for.
O Sr. José Magalhães (PCP): - No governo de Sá Carneiro! Esqueceu-se! ?
O Orador: - Não Sr. Deputado, não me esqueci. Estava-me a lembrar neste momento. Aliás, tenho a ajuda sempre preciosa e prestimosa do Sr. Deputado José Magalhães, que é advogado dos pobres e, de vez em quando também é meu advogado. Nessa medida lhe agradeço! Enfim, às vezes vamos comendo umas «sobrazinhas» que sobram da mesa dos ricos.
É evidente que não passa pela cabeça de ninguém que o regime que vai ser aprovado seja o do «privatiza, nacionaliza». Não é assim em nenhum país da Europa onde existe um regime jurídico-constitucional como o nosso.
O que queremos, e em boa parte conseguiu-se, com os limites a que fomos obrigados a transigir por exigência do PS, é colocar nas mãos do poder democrático a possibilidade e a responsabilidade, porque a partir de agora há responsabilidade. Ninguém mais vai ser socialista só porque diz que o é, pois vai ter que o demonstrar! Até agora temos vivido num certo estado de graça para os partidos socialistas! É que os partidos que não se reivindicam do socialismo falam em privatizações e querem-nas fazer, e os socialistas estão descansados porque o socialismo está adquirido.
Porém, a partir de agora, como diz a bonita canção brasileira, «vão ter que caminhar de encontro ao vento», porque mais importante do que sentar e conversar à sombra da Constituição vai ser ca minhar de encontro ao vento!
O Sr. José Magalhães (PCP): - Posso interrompê-lo, Sr. Deputado?
O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. José Magalhães (PCP): - Sr. Deputado, agora é que se compreendem as razões de júbilo do PSD porque sabe que agora o PS tem que caminhar contra o vento, isto é, contra o Professor Cavaco Silva. Isso significa mais trabalho, mais dificuldades para a Oposição e, logo, mais facilidades para o Professor Cavaco Silva. Compreende-se que o Sr. Deputado esteja imensamente sorridente, mas não se percebe por que é que os Srs. Deputados da bancada do PS também sorriem. Serão sadomasoquistas?!
O Orador: - Vê como o Sr. Deputado diz coisas extremamente interessantes!
Apetecia-me dizer o seguinte: não tenho, naturalmente, legitimidade para defender o Partido Socialista, mas não arriscarei muito nem serei abusivo se acreditar que o Partido Socialista também gosta dos desafios.
Penso que o Partido Socialista também se reverá naquele velho aforismo que remonta aos gregos: Kaló esti o Kundunós, «o que é arriscado é que é bonito».
O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Marques Júnior.