Emília Oliveira Lopes

Chama-se Robert Scheidt. É brasileiro, campeão olímpico de vela na classe «laser», e está em Portugal para participar na 18.ª edição das Regatas Diera, que principia amanhã. Chegou ontem ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, e foi logo para Leixões. Pouco depois, já estava na água. Mostrou-se determinado a ganhar a mais importante prova portuguesa da classe pela terceira vez, se bem que, numa flotilha que deve ultrapassar a centena, a concorrência será forte.

Esta é a quarta vez que Scheidt está no nosso país para competir nas Regatas Diera. A primeira vez que apareceu em Leixões tinha 19 anos, isto há seis anos atrás, e, então, era quase um desconhecido, se bem que fosse campeão mundial da juventude. A partir daí foi só subir. Hoje é campeão olímpico, bicampeão do mundo e comanda o «ranking» mundial.

Amante do desporto, já praticou um imenso lote de modalidades, mas, aos nove anos de idade, o brasileiro, natural de S. Paulo, fruto de uma «mistura» de um senhor de origem alemã com uma senhora que nasceu nos Estados Unidos e filha de suecos, optou a sério pela vela, porque «tinha mais oportunidades de chegar longe».

«É muito bom fazer vela no Brasil, porque temos um litoral enorme, podemos velejar o ano todo com óptimas condições», diz, apontando que não é muito fácil singrar na modalidade, já que a flotilha brasileira é «muito forte, principalmente na classe laser». Dificuldades existem, sobretudo «na profissionalização de um desporto que tem pouca atenção da Comunicação Social e que carece de muita iniciativa privada». Facto curioso, por se tratar da modalidade que «mais medalhas deu ao Brasil».

E foi graças à iniciativa privada que Scheidt chegou onde está hoje. O pai funcionou como um pa(i)trocinador. Isso já mudou, principalmente devido ao título que arrecadou em 1995, no Campeonato Pan-Americano. A medalha de ouro nos «Jogos» ajudou e a realidade agora é outra: «Tenho patrocinadores que me permitem ser profissional da vela e não empresário, pois que me formei em administração de empresas».

Velejador a tempo inteiro, Scheidt está a preparar-se para o «Mundial» do Chile, em Outubro. As Regatas Diera fazem parte dessa preparação: «Vai ser uma excelente prova, em que vão estar velejadores muito credenciados, e eu vou para a água para ganhar». Em Setembro, o brasileiro irá a Sydney fazer um reconhecimento das águas onde se vão disputar as próximas Olimpíadas.

Após os «Jogos» de Atlanta, Robert Scheidt foi recebido no Brasil como um herói. Nos três meses seguintes, a sua agenda não tinha nem um minuto vago. Foi por isso que não pôde marcar presença nas «Diera-96», como tinha previsto. Conheceu o presidente da república brasileiro, o ministro extraordinário dos desportos, Pelé, deu entrevistas umas atrás das outras e era muito solicitado para diversos eventos.

Agora, como ele próprio disse, as grandes vedetas do desporto brasileiro são «o futebolista Ronaldo, o tenista Guga, o nadador Gustavo Borges, os basquetebolistas Óscar Schmidt e Paula», e ele espera «um dia vir a ser tão conhecido como eles».

Scheidt diz-se uma pessoa como todas as outras. Gosta de praticar desporto, quando tem tempo livre pratica natação, mountain-bike, windsurf e ténis, e, quando a sua agenda de trabalho o permite, não deixa de sair com os amigos, ir ao cinema ou a uma discoteca.

Mas, o brasileiro passa o seu tempo entre o Brasil e a Alemanha, onde está a estudar a sua namorada, Carolina, uma argentina que vive no Brasil.

«Portugal é um país onde me sinto muito à vontade, não só por falar a língua, mas também pela hospitalidade dos portugueses, em especial da família Santos, que me recebeu muito bem a primeira vez que cá vim competir: era eu um desconhecido e venci as Diera, que foram também uma rampa de lançamento», concluiu.