%Lucinda Canelas
Quatro elementos do Teatro Praga juntaram-se a dois artistas plásticos para criar um espectáculo que pretende questionar alguns dos mecanismos de representação a partir dos rótulos verdadeiro/falso. "Título", a peça que resultou desta colaboração e que se apresenta no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, até 18 de Setembro, é um território híbrido em que uma audição pode fazer parte do objecto final e o público nem sempre é espectador.
Sentado a uma pequena mesa de escritório, o produtor do espectáculo distribui o público. Para um lado o que decide comprar bilhete, que se senta na plateia convencional. Para o outro, o que prefere não pagar, que assina um contrato aceitando participar em "Título" e que rapidamente se transforma em co-intérprete (passando a chamar-se Falso Público).
Ao longo de hora e meia sucedem-se as "falsas" situações criadas pelo colectivo (Carlos Alves, Cláudia Jardim, Patrícia da Silva e Pedro Penim são os actores; Catarina Campino e Javier Núñez Gasco, os artistas plásticos). Nelas, o Falso Público acaba por ter um papel preponderante por ser o responsável pela introdução de elementos de autenticidade na estrutura do espectáculo.
"Neste trabalho não procuramos nada específico", explica Pedro Penim. "É uma tentativa de convocar momentos de verdade para o teatro, visto como esqueleto da convenção, como espaço de falsidade. O teatro tem uma segurança que queremos contrariar. Queremos que seja perigoso."
"Título" começou numa residência artística no Espaço do Tempo, em Montemor-o-Novo. Rui Horta, o criador que dirige o Centro Coreográfico, convidou Catarina Campino, e a artista plástica estendeu o desafio ao Teatro Praga. Campino e Penim tinham já colaborado no Capitals 2003, Acarte, no projecto "Do It Yourself".
O grupo partiu para a residência em Montemor sem objectivos concretos. A ideia era os actores mostrarem aos artistas plásticos o seu trabalho e vice-versa. Havia uma "dualidade" a explorar: "Por um lado as artes plásticas, que trabalham essencialmente com a 'verdade'. Por outro o teatro, em que tudo é previamente preparado."
O território a que chegaram em "Título" está longe do compromisso entre ambas as formas de expressão artística. "Tudo acabou por ser mais teatro porque era aí que havia questões mais prementes. Os dogmas e as convenções teatrais são ainda muito pesadas. As artes plásticas já estão mais longe dessas coisas porque têm um passado de reflexão e auto-crítica."
Penim achou que esta era a altura ideal para o Teatro Praga se questionar. Sempre avesso à palavra "método", o grupo tem desenvolvido o seu trabalho sem a figura "tutelar" de um encenador e procurando criar um fenómeno de co-responsabilização capaz de envolver actores e público. "Há sempre a tendência para uma sedimentação de processos num grupo de teatro e nós queremos evitá-lo", embora continue a ser importante "dividir com o público a responsabilidade que um espectáculo envolve".
Em "Título" pode dizer-se que essa "responsabilidade" vai ainda mais longe, já que a maioria das falsas situações criadas em palco (um debate, um telefonema, uma festa, um questionário ou um "karaoke") foram construídas com a possibilidade de incluir os elementos do Falso Público. Haveria espectáculo sem ele? "Sim, mas seria outro espectáculo", garante Penim.
Com uma encenação decidida aos olhos do espectador, "Título" mantém algumas das "regras convencionais" do teatro: público, texto (há, inclusive, excertos de "A Menina Júlia", de August Strindberg), actores e até um sinal de início de espectáculo. "Tudo o que fazemos é esticar a corda a estes elementos para saber até onde podem ir, baralhar a geografia do espaço, misturar as intenções neste jogo verdadeiro/falso." E resulta? "A eficácia não nos preocupa. Isto é uma peça de teatro em que o mais importante é a escolha, o jogo."
Co-criação e interpretação de Carlos Alves, Catarina Campino, Cláudia Jardim, Javier Núñez Gasco, Patrícia da Silva e Pedro Penim. Pelo Teatro Praga.
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