Arafat coloca hipótese de mediação internacional Negociações falham em Jerusalém

As delegações israelita e palestiniana separaram-se ontem mais uma vez sem terem chegado a acordo sobre uma fórmula vaga para a paz que permita o primeiro encontro entre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o Presidente Yasser Arafat. As negociações - "uma verdadeira batalha", segundo um responsável palestiniano - falharam mais uma vez no ponto da retirada israelita de Hebron e de toda a Cisjordânia em geral.

"Os dois dirigentes não vão encontrar-se hoje [ontem] porque os negociadores estão ainda envolvidos em conversações para preparar a reunião", declarou a meio do dia Mahmoud Abbas, mais conhecido por Abu Mazen. "Haverá outro encontro esta noite para tentar finalizar um documento conjunto". Mas ao fim da tarde estava já confirmado o falhanço da última ronda de negociações entre o principal negociador da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Sab Erakat, e Dore Gold, assessor diplomático de "Bibi", a que assistiu também o coordenador das Nações Unidas para a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, Terje Larsen.

Arafat, que rejeitou um compromisso sobre Hebron definido pelas delegações, declarou ontem que não existia ainda uma "base comum" que permitisse o primeiro encontro. "Sou um homem pragmático e interessa-me a realidade no terreno. Desejamos que aquilo em que concordámos seja posto em prática. Não pedimos mais que a aplicação adequada e honesta dos acordos".

O líder palestiniano anunciou também que está disposto a recorrer a uma mediação internacional para manter vivo o processo de paz. "Estamos empenhados no processo e estamos a procurar por todos os meios mantê-lo e protegê-lo. Se houver dificuldades, vamos procurar uma instância arbitral". Um porta-voz de Netanyahu reagiu de imediato, assegurando que Israel "não vai entrar em nada parecido com isso" e que a ideia de arbitragem vai contra o espírito da conferência de paz do Médio Oriente de 1991 que sancionou negociações directas entre as duas partes.

O Egipto, tentando aumentar a pressão sobre Netanyahu perante o retrocesso do processo de paz desde a sua eleição, apresentou ontem um ultimato a Israel: se os acordos de paz entre Telavive e a OLP não começarem a ser aplicados dentro de três semanas, o Egipto ameaça cancelar uma conferência sobre integração económica do Médio-Oriente prevista para Novembro no Cairo.

O embaixador egípcio em Israel, Mohammed Bassiouny, explicou que a exigência se refere "a cinco pontos" que Israel não passou do papel à prática: a retirada de Hebron, onde desde Março a Autoridade Palestiniana devia ter controlo sobre 80 por cento da cidade; recuo significativo em toda a Cisjordânia; abertura de corredores seguros entre Gaza e a Cisjordânia, libertação de todas as mulheres prisioneiras e levantamento total do bloqueio aos territórios palestinianos. "Não queremos promessas, queremos acções", acrescentou o diplomata.

O gabinete de Netanyahu reagiu de imediato, considerando a exigência egípcia "uma ameaça infeliz que apenas vai exacerbar as tensões na região". Um membro do governo israelita, sob anonimato, afirmou também à Reuter que "o Egipto necessita dessa cimeira económica, mais que nós".

Israel concordou com quatro das cinco condições ontem avançadas pelo Egipto quando o executivo de Shimon Peres, antecessor de "Bibi", assinou os acordos que se referem ao período interino de autonomia dos palestinianos. O actual encerramento dos territórios, que impede a entrada em Israel de milhares de trabalhadores palestinianos, foi imposto em Março na sequência do primeiro de quatro atentados suicidas que provocaram 59 mortos em Israel.

A Autoridade Palestiniana libertou 120 militantes do Hamas e da Jihad Islâmica, durante a visita do Presidente Arafat à Cisjordânia a semana passada, revelaram ontem as forças de segurança da OLP. Dos prisioneiros, 22 foram libertados da prisão de Jenin, 14 de Jneid, 36 de Nablus, 36 de Ramallah e 12 de Belém. Segundo fontes palestinianas, cerca de 700 militantes islâmicos continuam presos, desde a vaga de detenções que se seguiu aos atentados de Fevereiro e Março.