Os Esquizofrénicos do PSD

Em recente texto, o PÚBLICO trouxe-nos a notícia de uma conferência de imprensa, dada por três ignotos militantes (?) do PSD para mostrarem "uma resma de folhas com 4333 assinaturas" - só? três meses para tão pouco... - destinadas a forçar um referendo no seu (?) partido, para driblar os respectivos estatutos e obter a eleição directa do respectivo líder.

Isto, num quadro em que o gato esconde o rabo mas deixa o corpo de fora, já que é pública a presunção de que a cena foi uma encomenda do conhecidíssimo Pedro Santana Lopes, putativo e mais do que notório candidato à presidência do partido, desde que por aquele particular modo de eleição.

A notícia merece, a meu ver, alguns destaques. Proponho-me fazê-los, na qualidade, que também tenho, de militante de base (nº 292) do PSD, e de professor universitário - se é que isso interessa - como, ao que parece, também acontece com um dos intervenientes na tal conferência de imprensa.

Um primeiro destaque, óbvio para quem conhece os estatutos do PSD - e os membros do Conselho Nacional e do Conselho de Jurisdição Nacional, que serão chamados a decidir democraticamente sobre o referido abaixo-assinado, não o vão ignorar -, é para sublinhar, de ciência certa, que qualquer mudança nos estatutos, como a pretendida, só pode ser feita em congresso, com o assunto expressamente inscrito na ordem de trabalhos, e mediante uma votação de três quintos dos congressistas. Nunca por um referendo ao arrepio dos mesmos estatutos, como é pretendido por estes senhores da conferência de imprensa.

Outro destaque vai para a invocada "esquizofrenia" que se diz infestar o PSD. O que é a esquizofrenia? Segundo o consagrado Cândido de Figueiredo ("Grande Dicionário", 23ª edição, vol. I, pág. 1101), esquizofrenia é a "psicose em que o doente perde o contacto com a realidade e vive num mundo imaginário que para si próprio criou".

E quem são, então, os esquizofrénicos do PSD?

São aqueles que imaginam uns estatutos em vigor no partido em que o método de eleição do líder pode ser o desejadamente estabelecido por um referendo surrealista?

São aqueles que não têm em conta, ou já se esqueceram, que a questão foi por eles próprios colocada no real e recentíssimo Congresso de Viseu e estrondosamente derrotada na respectiva votação?

São esquizofrénicos aqueles cujo modo de estar na política os afoita a mandar calar o presidente do partido só porque este emitiu uma opinião pública sobre a tal eleição por sufrágio directo, como se, na vida real, ele não tivesse, para tanto, o mesmo direito que os militantes de base? Ou de qualquer cidadão?

Ou são esquizofrénicas personalidades como Pinto Balsemão, Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor Beleza, Eurico de Melo, Isabel Damasceno, Dias Loureiro, Cardoso e Cunha, Manuela Ferreira Leite, João Salgueiro, Barbosa de Melo, Durão Barroso, Tavares Moreira, António Pinto Leite, Guilherme Silva, Valentim Loureiro, e tantas, tantas mais personalidades que são a mais-valia de um enorme e rico partido como o PSD - e que pensam de outra maneira?

Ou, finalmente, querem os três senhores da conferência de imprensa das 4333 assinaturas chamar esquizofrénico ao bom povão laranja que milita nas profundezas de Vila Real, de Viseu, de Leiria, do Pinhal, do Oeste, de Oeiras, de Cascais, de Setúbal, da Madeira, dos Açores, e nas distâncias de Capetown, de São Paulo, de Paris, de Boston, etc., etc., etc. - e que está farto de santanices?

Ou me engano muito, ou esquizofrénicos do PSD (?) são aqueles a quem a jornalista deu eco no PÚBLICO, mais os outros (poucos) que pensam como eles e mais quem, sem aparecer em público, os induziu a dar a conferência de imprensa... No dia do aniversário de Francisco Sá Carneiro, que até era contra as "directas", só podem ser esses...

Júlio Mesquita, Lisboa

Cultura de irresponsabilidade

Os esquizofrénicos do PSD

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