Mourão sem lugar em Alqueva

As obras de construção da barragem não estão a ser efectuadas com o recurso a desempregados da região. A câmara garante que os naturais da zona deviam ter prioridade na conquista de trabalho

Évora

ACUSAÇÃO. A execução do empreendimento já deu trabalho a cem pessoas, mas só uma pertence àquela zona

O presidente socialista da Câmara de Mourão está "desagradado" com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas de Alqueva (EDIA)". Santinha Lopes diz que a EDIA não está a dar prioridade à contratação dos desempregados da região para as obras da barragem. A empresa responsável pela construção de Alqueva já deu trabalho a cem pessoas, mas o autarca garante que apenas um é do seu concelho.

"A EDIA está a considerar que todo e qualquer trabalhador do Alentejo, seja de Sines ou Grândola, é desta região", refere Santinha Lopes, para quem "as coisas não são bem assim, já que tanto eu, como os presidentes de Reguengos, Moura e Portel, achamos que os nossos desempregados deviam ter prioridade neste processo". O autarca vai reunir com um responsável pela empresa construtora, na tentativa de alterar este cenário.

Santinha Lopes recorda um recente encontro mantido com o ministro do Equipamento, João Cravinho, que participou no Conselho Consultivo de Alqueva, onde "nos foi dito que os trabalhadores iriam ser requisitados aos centros de emprego de Évora e Moura, mas, até hoje, temos apenas uma pessoa formada a trabalhar na Aldeia da Luz", lamenta o autarca, aguardando que, através dos cursos de formação profissional que foram efectuados, "alguns dos homens possam ir trabalhar para a barragem. Só assim será possível continuar a combater o desemprego nesta região. Além do mais, Mourão é o concelho onde vão ser feitas mais obras para Alqueva e é justo que os trabalhadores sejam daqui", acrescenta.

O descontentamento de Santinha Lopes foi revelado durante uma governação civil aberta de Henrique Troncho a Mourão, localidade que muito recentemente era das mais debilitadas social e economicamente do Alentejo, com uma taxa de desemprego superior aos 30 por cento, onde se registavam casos de pobreza extrema entre famílias sem qualquer rendimento. Hoje o cenário está invertido.

O autarca de Mourão assegura que todas as famílias do concelho têm as condições mínimas de sobrevivência, "graças à expansão de uma empresa de metalomecânica - que emprega cem pessoas -, aos programas ocupacionais, às obras das piscinas e ao centro de dia da Granja". A transferência dos desempregados para Alqueva é a solução apontada pelo presidente da câmara, que defende ainda a atribuição de subempreitadas aos pequenos empreiteiros do concelho.

A recuperação da crise de Mourão é apontada por Henrique Troncho como um "verdadeiro exemplo" para o distrito de Évora. Sem rejeitar a existência de alguma pobreza, o governador civil de Évora destaca que "quando as estratégias são bem definidas é possível atingir o sucesso", enquanto alude ao rendimento mínimo garantido, onde Mourão foi zona-piloto, e ao projecto de luta contra a pobreza.

Um dos maiores problemas desta localidade passa pela elevada taxa de população envelhecida, superior aos 30 por cento, levando à criação de um banco de medicamentos, onde os utentes idosos têm um desconto de 50 por cento, a par da comparticipação em pequenas obras em casas degradadas. Contudo, Henrique Troncho diz que "não queremos dar o peixe às pessoas. Preferimos dar-lhes a cana". Uma metáfora que visa alertar para a necessidade de "enquadrar as pessoas desempregadas no mundo do trabalho, para que sejam úteis à sociedade e não fiquem dependentes dos serviços, que intervêm para encontrar soluções e não para serem a solução".

Hoje, Mourão é um concelho com perspectivas de desenvolvimento a médio prazo. A par da barragem de Alqueva, que deverá arrastar um maior dinamismo à região, esta localidade vai brevemente ser classificada como zona franca, quando já é sabido que a Portucel permanecerá no concelho e o programa Leader está em vias de ser aprovado. "Dentro de um ano pensamos ser a localidade mais desenvolvida da margem esquerda do Guadiana", vaticina Santinha Lopes.