Governo Quer Envolver Mecenas na Reconstrução da Casa de Aristides Sousa Mendes
Cinquenta anos depois da morte de Aristides de Sousa Mendes, a fundação com o nome do cônsul português em Bordéus continua a aguardar a conjugação de esforços para requalificar a casa do diplomata, em Cabanas de Viriato. Aristides de Sousa Mendes, conhecido como o "anjo de Bordéus", foi contra as ordens de Salazar. Entre 17 e 19 de Junho de 1940, trabalhando dia e noite, emitiu vistos de entrada em Portugal a todos quantos o solicitassem, estimando-se hoje que tenham sido cerca de 30 mil os que o obtiveram, dez mil dos quais de origem judia.
A família e a fundação criada em 2000 com o nome do cônsul admitem que "teoricamente" a justiça foi feita para com Aristides de Sousa Mendes, mas defendem que o Estado português devia agora apoiar a reconstrução da Casa do Passal, em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), onde passava férias na companhia dos 14 filhos.
O ministro da Cultura, Pedro Roseta, garantiu ontem em Viseu que o Governo vai estudar o projecto de requalificação da Casa do Passal. "Recebi há poucos dias uma representação da fundação Aristides de Sousa Mendes, e portanto agora vamos estudar ver o que se pode fazer", salientou no final de uma cerimónia comemorativa do 50º aniversário da morte do diplomata, falecido a 3 de Abril de 1954, organizada pela Confraria de Saberes e Sabores da Beira "Grão Vasco". Roseta vincou que em breve tenciona visitar a casa de Cabanas de Viriato, frisando que não pode ser apenas o Estado a suportar os custos da reconstrução. "Não será evidentemente de um dia para outro e terá de haver também um financiamento de várias entidades, de algum mecenato e eventualmente entidades estrangeiras", expôs.
Na antiga casa do Cônsul, a Fundação Aristides de Sousa Mendes pretende instalar um museu dedicado ao holocausto. Roseta sublinhou que além da reconstrução da casa, é fundamental "a afirmação da memória" e do exemplo "do herói português" até porque a figura do "Schindler português" tem a ver com questões "ligadas a direitos humanos, justiça, educação e a muitas outras áreas". "Para além daquilo que os portugueses lhe devem como farol de humanidade, julgo que há também muitas outras nacionalidades que são devedoras da acção de Aristides de Sousa Mendes, são eles que têm reconhecido", argumentou. "Ele é um homem para todos os tempos e para toda a humanidade", reforçou.
Depois de Aristides de Sousa Mendes ter abandonado a casa, devido ao grande número de dívidas contraídas, esta foi adquirida em hasta pública por 200 contos, por credores, dois comerciantes que depois a venderam a uma pessoa de Coimbra, em 1970. Neste período chegou a albergar um aviário numa das suas alas.
Em Março de 2001, a Fundação Aristides de Sousa Mendes adquiriu a casa e o que restava da quinta, com o contributo do então o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama. O preço final da compra, de 128 mil contos, integra os 15 mil da indemnização paga pelo Estado à família, que a doou à fundação.
Depois de passar os vistos a cerca de 30 mil pessoas perseguidas pelos nazis, Sousa Mendes foi chamado a Lisboa por Salazar a 24 de Junho. Salazar acusa o então cônsul de Bordéus de concessão abusiva de vistos a estrangeiros e instaura-lhe um processo disciplinar que acaba por resultar, na prática, na expulsão da carreira diplomática. "Salazar condenou Aristides à pobreza e à fome como vingança", disse ontem Fernando Amaral, antigo presidente da Assembleia da República. Também presente na cerimónia, a encarregada de Negócios da Embaixada de Israel em Portugal, Irit Savion, realçou que "aquele que preserva a vida de uma pessoa é como se preservasse o mundo inteiro". "Lamento que o nome desse grande herói português, a quem estamos todos agradecidos, não seja tão conhecido como Schindler e Raoul Wallenberg apesar de os seus feitos terem sido semelhantes", vincou Irit Savion.
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