"Casamento Alternativo" em Barcelona

"Felip" e "Leti" estavam prestes a dizer o "sim" quando um dos convidados interrompeu a cerimónia e relembrou o "sonho" de Abril de 1931 (nascimento da II República) e as quatro décadas de ditadura franquista que derivaram do golpe de Julho de 1936. "Convido os noivos e todos vós a brindar à República, sobretudo à III República, que um dia será proclamada."

Enquanto em Madrid decorria a boda real, Barcelona propôs um "casamento alternativo", cujos anfitriões foram a Esquerda Unida Alternativa (EuiA) e o movimento "animACCIÓ".

Na "Plaça dels Ángels", contígua ao Museu de Arte Contemporânea, a boda anti-monárquica teve direito a tudo: um banquete de azeitonas e "tapas" diversas, brindes com champanhe e cerveja, a marcha nupcial executada por um trompetista, uma pequena orquestra búlgara para animar o "copo-de-água" e muitas, muitas bandeiras republicanas. A maioria dos convidados trajava a rigor: "T-shirts" que ostentavam a frase "Eu também não fui convidado para a boda real, mas paguei-a".

O ponto alto da iniciativa consistiu numa "performance" caricatural do casamento real, interpretada por actores catalães, onde não faltaram as palavras sarcásticas do "bispo" contra a monarquia e a doutrina católica. A paródia alvejou igualmente a alegadamente temperamental Letizia Ortiz (ao longo da semana passada, a sua personalidade foi exaustivamente discutida nas televisões espanholas): "Felip" tossiu, "Leti" repreendeu-o e logo de seguida o "bispo" recordou-lhe o mandamento de S. Paulo, que "diz que a base da família é a mulher obedecer ao marido". Os brindes à República acabaram, porém, por impedir a concretização do casamento, que terminou com o "bispo" a arremessar ao ar o seu barrete, enquanto os noivos dançavam com o público que assistiu à "performance".

Este pequeno espectáculo serviu também para contestar os custos da cerimónia de Madrid, que, de acordo com um folheto distribuído pela EUiA, rondaram os 21 milhões de euros. Na folha informativa, surge discriminado o dinheiro gasto, por exemplo, na transmissão televisiva, no restauro dos edifícios próximos da catedral de Almudena, no banquete, na decoração da igreja, na iluminação das ruas, no transporte dos convidados e nas medidas de segurança.

As contas feitas pela EUiA sofreram, porém, algumas alterações de última hora, pois, como contou ao PÚBLICO Agusti Ruiz, do Partido Comunista Catalão (PCC), o número de agentes de segurança aumentou de cinco para 20 mil e, durante o dia de ontem, foi decretada a gratuitidade dos transportes públicos da capital espanhola. "Isto é um escândalo", declarou Ruiz, "tendo em conta as situações de miséria que existem neste país."

Também Angels Martínez Castells, cabeça-de-lista da EUiA às eleições europeias, esteve presente na "Plaça dels Àngels" e classificou o "casamento alternativo" como uma "reafirmação dos valores republicanos", disse ao PÚBLICO. "Não estou aqui só por causa dos custos da boda, mas também pela importância da expressão republicana na Catalunha", explicou. A candidata ao Parlamento Europeu refutou ainda as recentes declarações do presidente do Governo, José Luís Zapatero, que disse que os custos podem ser "rentáveis" para a imagem de Espanha, dizendo não acreditar "nesse tipo de investimentos". "É um investimento 'casposo'", ironizou.

Durante a manhã de ontem, o movimento "animACCIÓ" colocou à venda, por dois euros, um "kit" anti-monárquico: para além de um manifesto republicano, inclui ainda um cartaz com as bandeiras catalã e republicana, divididas por uma coroa riscada.

Felipe e Letizia incitados a não ter medo da sua responsabilidade histórica

Jorge Sampaio e D. Duarte entre os convidados

Aplausos para as famílias reais, apupos para os políticos

Servir os espanhóis

"Consegui a foto"

"Casamento alternativo" em Barcelona

Diário catalão critica "estilo Hollywood" da cerimónia

"Eles fazem a sua festa e nós a nossa"