Nove carros alegóricos encheram de humor a noite vimaranense
Com o desfile, na noite
de segunda-feira, da célebre "Marcha Gualteriana", encerraram com chave
de oiro as Festas
de São Gualter que atraíram à cidade milhares
de forasteiros. Segundo
a organização, este ano,
a afluência de pessoas
à passagem da marcha
superou largamente
a dos anos anteriores,
estimando-se que terá sido vista por mais de cem mil espectadores. Ontem,
voltou ao seu normal, enquanto tendeiros
e armadores procediam
ao desmantelamento
das barracas festivas
e das ornamentações
das ruas.
Armindo Cachada
No cortejo da "Marcha Gualteriana" desfilam sempre nove carros alegóricos, todos os anos abordando temas diferentes, relacionados com a cidade de Guimarães, com a vida nacional e com as grandes preocupações da humanidade.
Como sempre, o "Carro da Cidade", dedicado à Câmara Municipal, abriu o cortejo. O património histórico e monumental foi o tema escolhido, com um esmerado trabalho de reprodução artesanal da fachada do antigo Convento de Santa Clara (sede do município) e de réplicas de alguns dos principais monumentos do centro histórico, que enquadram a candidatura de Guimarães à UNESCO para classificação como património mundial. Um segundo carro alegórico, também dedicado à cidade, evocou a "efeméride bairrista" da reconstrução da "Praça de Touros" que ardeu na noite de 28 de Julho de 1947, precisamente a cinco dias das festas da cidade. O bairrismo vimaranense conseguiu pô-la de novo de pé a tempo da corrida de toiros programada para as festas e esse esforço perdura ainda hoje como um feito épico e lendário do voluntarismo das gentes de Guimarães.
A realidade nacional foi abordada em dois carros alegóricos, um dedicado à "Segurança Social" e outro à "Expo 98", com alguns números vivos, bastante humorísticos a intervalar cada um. Não foi esquecido também o problema de Timor, num carro dedicado exclusivamente ao Povo Maubere.
O Carro da Segurança Social foi, de todos, o mais criativo e também o mais mordaz na crítica ao sistema, denunciando as "ratazanas da Previdência", que vivem de fraudes e compadrios e se furtam ao regime contributivo, beneficiando da Segurança Social sem a pagar, enquanto os que a pagam quase dela não beneficiam. Os idosos são as principais vítimas deste sistema, que está a morrer de velho e nada mais lhes oferece que magras espinhas do peixe já devorado pelas ratazanas do sistema.
O "carro "Expo 98", dedicado à última exposição mundial do milénio, realça um "empreendimento titânico à dimensão portuguesa, que perdurará na história pela grandiosidade da sua concepção e pelo tema dos Oceanos que sempre apaixonou e incentivou o povo português. Na sua epopeia marítima, os portugueses souberam aproximar os povos, abrindo novas rotas, expandindo a religião cristã e dando a conhecer ao mundo culturas diferentes. A Marcha abordou ainda outras temas de concepção geral, não esquecendo as crianças e o seu mundo imaginário em que entram as figuras lendárias da B.D. como o "Batman", o "Homem Aranha", o "Capitão América" e vários heróicos defensores dos agredidos num mundo louco em constante mutação.
O "Carro da Música" festejou o bicentenário de Schubert, e o "Carro Edison", dedicado aos inventores portugueses, comemorou os 150 anos do nascimento deste genial criativo, com os seus 1093 inventos, muitos dos quais têm ainda utilidade no dia a dia de hoje.
O "Carro das Balonas", dedicado aos forasteiros que visitaram Guimarães no dia da Marcha, encerrou o sonho de um desfile que, temporariamente, transportou a outras dimensões.
Por entre os carros alegóricos desfilaram séries de números vivos, embora, desde há alguns anos, por dificuldade de figurantes devido a falta de sincronização da Organização com o movimento associativo vimaranense, estejam a perder impacto os chamados "bonecos iluminados", que quase deixaram de integrar a Marcha.
Os carros alegóricos foram inteiramente construídos pelos "obreiros" da Associação da Casa da Marcha, uma instituição que se tem transformado, nos últimos anos, uma verdadeira escola de artesãos, nos domínios da marcenaria, serralharia, electricidade, decoração, desenho, arquitectura, artes plásticas e vestuário, além de outros. Nestas oficinas ocupam os seus tempos livres, ao longo de vários meses, muitos jovens e adultos, na árdua tarefa de confeccionar os carros alegóricos que todos os anos desfilam na "Marcha Gualteriana".