Governador civil satisfeito por se ter cumprido a legalidade

O Tribunal Judicial de Guimarães confirmou a prisão de sete dos oito indivíduos detidos na passada sexta-feira pela GNR de Braga no acampamento da família cigana de João Garcia, em S. Salvador de Briteiros. O Tribunal considerou como indícios suficientes do crime de tráfico de droga a apreensão de 620 gramas de heroína pura e de diversas doses prontas a consumir, bem como os elementos fotográficos recolhidos durante a investigação, mostrando vários consumidores a adquirirem o produto no acampamento.

A GNR, que não encontrou no local o "patriarca" da comunidade expulsa de Oleiros, João Garcia, apreendeu também diversos objectos em ouro e prata, dinheiro em moeda portuguesa e estrangeira e vários objectos presumivelmente roubados e receptados em troca de droga.

A operação envolveu 30 guardas da GNR de Braga e uma equipa do Grupo Especial de Acção e Pesquisa, com cães treinados para a detecção de drogas.

A investigação às alegadas actividades ilícitas do clã de João Garcia começou em finais de 1996, por indicação do Governador Civil de Braga, Pedro Bacelar Vasconcelos, que pediu aos autarcas e aos residentes na zona de Briteiros que fizessem chegar à GNR das Caldas das Taipas todos os dados que possuíam.

As queixas começaram a afluir à GNR, que deu início a um processo de investigação que incluiu a vigilância ao acampamento de João Garcia, com recolha fotográfica de movimentos nocturnos e diurnos, provando a existência de transacções de droga.

Em declarações à Lusa, o governador civil de Braga afirmou ter já felicitado o comandante da GNR local, major Braga da Costa, pelo êxito da operação e sublinhou que "a detenção dos presumíveis traficantes demonstra que as autoridades policiais não estão inactivas".

"Se as populações se dirigirem às forças policiais indicando factos concretos que indiciam a prática de ilícitos criminais, os problemas serão resolvidos como agora ficou demonstrado", referiu, salientando que "as queixas na Comunicação Social e as milícias populares não só não resolvem nada como, muitas vezes, acabam por atrapalhar e atrasar as investigações policiais".

Pedro Bacelar Vasconcelos garantiu que a Polícia Judiciária, a GNR e a PSP têm desenvolvido, de forma coordenada, diversas acções de investigação na zona de Braga, tendo realizado, com sucesso, rusgas em Cabanelas, Vila Verde, em Esposende e na cidade de Braga.

O governador civil salientou, no entanto, que "os detidos terão ainda de ser julgados pelos tribunais para se confirmar as suspeitas", e acentuou que "em Oleiros nunca se conseguiu demonstrar, com provas colhidas pelas forças policiais, a existência de tráfico de drogas, apesar dos indícios".

"Mesmo que alguns membros da família de João Garcia tivessem sido presos em Oleiros, isso não significaria que os restantes familiares tivessem de ser expulsos das suas residências", argumentou, lembrando que "seria um precedente terrível para a sociedade portuguesa".

Pedro Vasconcelos mantém as preocupações humanitárias em relação ao clã, já que se certificou que as 10 crianças, cujos progenitores foram presos, não ficaram abandonadas, mas entregues a outra família não residente no local.

A operação da GNR em Briteiros provocou, entretanto, reacções de sinal contrário: o deputado socialista e candidato à Câmara de Vila Verde, Martinho Gonçalves, disse à Lusa que "os factos demonstram que a população de Oleiros tinha toda a razão quando se queixava de insegurança".

"Entendo que as personalidades políticas e mesmo governamentais que se pronunciaram neste processo contra a população de Vila Verde deveriam agora fazer uma "mea culpa" e tirar as necessárias consequências políticas", sublinhou.

O presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado, considerou, em declarações a uma rádio local, que a "operação policial em Briteiros demonstra qu e as populações de Oleiros tinham razão", acusando o governador civil de "ter demonstrado falta de experiência política no processo".