repare V. Ex.ª, Sr. Presidente- cerca de 2.168:000 contos, cifra nunca vista nos anais da história económica portuguesa, ainda a posição cambial parece ter subido bastante.

Era em 30 de Junho de 1946 mais de 19 milhões de contos e no fim do ano, sem os soldos do Estado nem os das ilhas, mais de 17.500:000. Poder-se-á talvez fixar, em 31 de Dezembro último, em IS milhões de contos.

É evidente que os depósitos não poderiam manter-se perante este afluxo crescente e inaudito de cambiais, e por isso seguiram-lhe na esteira. Os depósitos voluntários, líquidos de sobreposições, vieram de 5.400:000 contos em 1940 para mais de 17 milhões em fins de 1946, sempre na progressão crescente de aumentos que variam anualmente entre um mínimo de 1.670:000 em 1943 e um máximo de 3.150:000 em 1944. O aumento líquido de depósitos em 1946 ainda anda à roda de 1.600:000 contos.

Aqui temos, pois, algumas das grandes causas da inflação, em que sobressai a balança de pagamentos positiva, apesar do tremendo déficit da balança comercial em 1946. Isso levou e leva à expansão do crédito, no seu termo genérico, que, por sua vez, conduz ao aumento no consumo. E o aumento no consumo, sem contrapartida na produção, empurra os preços, leva à sua inflação.

A agravar os males derivados das causas que acabo de apontar vem o aumento do poder de compra, resultante de grandes gastos do Estado em obras públicas. As contas mostram a despesa no respectivo Ministério, em 1945, de 736:000 contos - a maior de que há memória. E a organização corporativa, que também se desenvolveu muito de 1940 para cá, deve ter consumido em 1944 para cima de 400 mil contos de receitas ordinárias. E ainda temos de ter em conta os abastecimentos e outras despesas que resultaram da mobilização militar, indispensável na grave emergência que atravessámos.

Todos estes tremendos factos, reais, palpáveis, dolorosos, ricos de ensinamentos, estão na curva ascensional dos preços: o peso das despesas improdutivas e adiáveis, a balança de pagamentos fortemente positiva, a mobilização, os gastos elevados da organização corporativa numa época em que convinha restringir o poder de compra, as dificuldades na produção interna, o egoísmo de muita gente, sobretudo das classes mais remediadas, que constituem a baixa e alta burguesia, a indiferença de muitos perante as dificuldades que assoberbam o Mundo, que os leva a exigir mesa torta - uma série de factores, cada um com o seu peso, que exigem pulso rijo, mão forte a comprimir pouco a pouco até fazer entrar nos seus respectivos lugares as forças poderosas, conhecidas, que perturbaram a vida dos preços, que é também o sossego e a vida da grande maioria.

Apoiados.

Sr. Presidente: qual a posição no momento presente? Ela decorre do que disse há pouco.

Balança comercial com déficit de 2.160:000 contos, desmedido para as possibilidades do País no futuro. Mas, apesar disso, a balança económica é, ou parece ser, sensivelmente positiva.

Depósitos líquidos voluntários de mais de 17 milhões de contos, dos quais apenas l milhão a prazo.

Imobilização de 80 milhões de libras, ou 8 milhões de contos, garantidos por um dos mais poderosos e ricos impérios do globo, mas que agora se debate em crise aguda derivada da guerra.

Meio circulatório em notas do banco emissor de cerca de 8.716:000 de contos - quase inteiramente cobertos só pelo crédito já mencionado, o qual é equivalente a ouro ao câmbio de 100$.

O Sr. Mário de Figueiredo:- V. Ex.ª dá-me licença? V. Ex.ª disse «convertível em ouro ao câmbio de 100$»?

O Orador: -Sim.

razoável, que venha suprir pelo menos algumas das deficiências dos anos anteriores.

Julgo, nesta matéria, que a curva das dificuldades tende a descer - os recursos alimentares, no Mundo, para aqueles que os possam pagar, devem aumentar sensivelmente durante o ano corrente.

Ora nós temos meios de o fazer - como aliás se provou já com as importações no ano passado e se está provando com os carregamentos de géneros alimentícios que chegam agora a portos portugueses. Passou, se não são erradas as previsões, o período de maior acuidade, e o nível de vida, em tempo próximo, há-de reflectir, internamente, o próprio custo da aquisição dos produtos nos mercados exportadores.

O Sr. Mário de Figueiredo: - Quer dizer, baixar?!

O Orador: -Sim, baixar.

O outro aspecto mais lato e de maior alcance é o dos preços e este liga-se directamente à moeda.