nos sub-conscientemente, obedecendo a influências ancestrais nesse sentido, a lágrimas de esposa ou de mãe que se evolam em fulgores de crença e de que nos falava há dias, comovidamente, o ilustre Deputado Sr. Soares Branco.
Sem dúvida: é Portugal uma nação católica.
Mas não se pode conceber catolicismo sem ligação a Roma.
Saudar, portanto, Sua Santidade Pio XI é saudar a própria pátria no que ela terá de mais elevado: a flor branca e pura da sua espiritualidade.
Bem sei que já se tem apontado a Igreja como um poder estrangeiro de que muito há a temer para a soberania nacional.
É, porém, uma atitude sofística que fàcilmente se descobre.
As soberanias nacionais, longe de deminuírem, alargam-se e levantam-se sempre pelos idealismos que lhe tragam instituições de vida espiritual, funcionem elas onde funcionarem.
É por isso que todas as pessoas de ponderação e cultura não vêem já perigo em quaisquer obras de internacionalização para o progresso das sciências, das artes ou dos bons costumes.
Mas, no caso sujeito da Igreja, Portugal não recebe só as suas influências, ajuda também p, criar e desenvolver essas influências.
A Igreja é até certo ponto um prolongamento da nossa nacionalidade, e um produto do génio da nossa raça, é alguma cousa da nossa gente e da nossa grei.
Portugueses têm-se sentado no trono dos papas, como João XXI no século XIII; portugueses têm, por privilégio de séculos, participado do Sacro Colégio, como em nossos dias a veneranda figura de Sua Eminência o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, e portugueses só têm sido os representantes da Igreja em todo o território nacional.
E chama-se assim à Igreja um poder estrangeiro?
Mas não é só isto. Portugueses têm sido dos mais ilustres doutores que iluminaram o admirável corpo de doutrinas da Igreja, entre os quais os da célebre escola de Coimbra, que marcou com brilho na história do pensamento humano; portugueses têm sido muitos dos santos que a Igreja ergueu aos seus altares, desde S. Teotónio, um dos maiores políticos da fundação ia nacionalidade, e Santo António, que foi o génio da raça abnegando-se pela civilização universal, até ao Beato Nun'Álvares, o glorioso herói da consolidação da Pátria, e S. João de Deus, o desvairado de amor pela humanidade.
Mas há mais. Portugueses, entre os quais "a ínclita geração, altos infantes", alargaram o império da Igreja sôbre o globo, erguendo como monumento à cristandade, que ajudaram a formar, essa obra prima de séculos que são Os Lusíadas.
E chama-se assim à Igreja um poder estrangeiro?
Não. A Igreja não é um poder estrangeiro para Portugal. É alguma cousa do nosso sangue, da nossa fé e do nosso esfôrço; é alguma cousa de um perfume que se evola constantemente da nossa terra; é um concerto encantado onde entram vozes, suspiros, ansiedades de gerações que se têm sucedido sob o mesmo céu azul que nos cobre, ó, em suma, alguma cousa de Portugal.
Saudar, portanto, a Igreja na pessoa do seu primeiro representante é honrar-nos a nós mesmos, é dignificar a nossa personalidade colectiva.
Há nos povos da raça latina o que quer que seja que não só encontra fàcilmente nos outros povos: um melhor sentido de felicidade individual, uma certa graça e delicadeza que põe equilíbrio moral na existência e uma superior compreensão da vida. E isso o que se costuma chamar latinidade. A defesa dessa latinidade, portanto, interessa à civilização, e só a Igreja tem sabido inspirar as condições políticas que a asseguram!
O império de Carlos Magno, o império português dos séculos XV e XVI, e o império de Carlos V seriam impossíveis sem a Igreja. É por isso que ficaram na história designados, por excelência, a França a nação cristianíssima, a Espanha a nação católica e Portugal a nação fidelíssima.
Foi o catolicismo que lhes deu o segredo da consistência política.
Quando Bismarck, como representante do germanismo, numa fria visão de génio, planeou ferir de morte o poder político da latinidade, não foi tanto às armas que êle olhou, mas principalmente à fôrça moral