Sons

Parece cada vez mais provável que a odisseia do submarino nuclear russo "Kursk" vá terminar numa verdadeira tragédia, pois são já muito escassas as esperanças de conseguir encontrar sobreviventes quando as equipas de salvamento conseguirem entrar no navio.

É frequente lermos na imprensa frases do tipo da que escrevo acima, que nos dizem que são reduzidas as "esperanças de encontrar sobreviventes". Só que geralmente elas se referem a buscas em escombros depois de um tremor de terra ou da explosão de uma bomba e conseguimos descansar a nossa imaginação com o pensamento talvez egoísta, mas certamente piedoso, de que não há sobreviventes encafuados debaixo dos escombros, sem poder gritar que estão vivos, à espera de uma salvação que não sabem se virá, à espera da morte. Misericordiosamente, esperamos que os desaparecidos que não são encontrados nas primeiras horas tenham morrido todos, de morte rápida, para não ter de conceber o horror de outra possibilidade.

O que é diferente neste caso é que esta fuga mental não é possível. Sabemos que os marinheiros estão lá, que estão ou pelo estiveram vivos durante dias e não nos podemos impedir de imaginar a sua agonia, lentamente asfixiados na escuridão gelada, imobilizados no fundo de um abismo, sem água nem comida, sabendo que a morte virá lentamente e sem misericórdia, sentindo-se abandonados por todos, como se o mais terrível dos nossos pesadelos ganhasse de súbito corpo.

As tragédias deste tipo são suportáveis quando são inelutáveis, quando resultam de desastres da natureza ou caprichos da sorte, quando nos podemos descansar dizendo que foi tentado tudo o que era humanamente possível.

Nada assegura que a tecnologia britânica ou americana tivesse alterado alguma coisa. Mas se toda a ajuda oferecida tivesse sido imediatamente aceite (ainda que viesse a provar-se ineficaz ou redundante), teríamos todos a certeza de que tudo o possível tinha sido feito e de que Vladimir Putin considerava a vida dos seus concidadãos mais importante do que uma infantil vergonha de perder a face por não corresponder à imagem que pretende projectar de si mesmo.

Com aquela decisão - que não é apagada pela mudança de atitude de Putin, tomada sob a pressão da opinião pública -, os dirigentes russos vieram provar mais uma vez que, culturalmente, ainda estão a anos-luz do "concerto das nações", um conceito do qual a solidariedade e a cooperação são partes essenciais, e que vivem ainda num mundo onde a demonstração de força e o confronto são as únicas formas de relação com o exterior, enquanto o silêncio e a mentira são as principais formas de comunicação com o seu próprio povo.

O desastre do "Kursk" não pode deixar de evocar episódios como o de Chernobyl - ou o quase-desastre da Mir -, que as autoridades russas tentaram negar enquanto foi possível, à custa de mentiras constantes e de muitas vidas, para não embaciar o seu prestígio internacional e a imagem da sua tecnologia. Mais uma vez, as autoridades militares demoraram dois dias a reconhecer o acidente do submarino nuclear.

Seria de desejar que Putin tivesse aprendido a lição de Chernobyl. É evidente que não aprendeu e esse facto diz-nos o que se pode esperar da Rússia na sua relação com o Ocidente ou no conflito tchetcheno. Tal como o "Kursk" demonstra, a Rússia poderá ter deixado de ser o Sol na Terra, mas não hesita em caminhar orgulhosamente só, mesmo que para isso tenha de deixar o caminho juncado de cadáveres. O que vem na sequência lógica da História russa deste século.

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