"Nunca precisámos de ajuda estrangeira"

Como estava o ciclismo português em 1982 quando o JN assumiu a organização da Volta?

Nessa altura, o ciclismo nacional estava nas lonas. Não havia profissionalismo. Não havia estruturas organizadas. Não havia patrocinadores de prestígio. Nas provas, era tudo artesanal, desde as comunicações rádio até às barreiras, que eram muito poucas.

E como o JN resolveu esses problemas?

Colocando profissionalismo na organização de provas e apostando num crescimento sustentado. Foi a partir da entrada do JN que os patrocinadores de prestígio aderiram ao ciclismo. Se o JN não tivesse aumentado o nível das organizações, o ciclismo português ainda estava no tempo da Patoleia.

A que atribui a escolha de outra empresa para organizar a Volta?

Os senhores da Federação Portuguesa de Ciclismo pensam que isto é um negócio da China em que o JN ganha milhões.

Mas o JN não tem tirado muitos dividendos com o ciclismo?

Só ao nível da promoção das suas publicações. Esquecem-se que a Empresa JN investiu, até hoje, alguns milhões de contos no ciclismo. Se calhar, com metade desse investimento no futebol ou em campanhas de publicidade na televisão, os dividendos eram maiores.

Quer dizer que o ciclismo não é um grande negócio em Portugal?

Não é porque, infelizmente, não temos artistas que motivem os grandes investidores.

Com a saída do JN, o que é que o ciclismo português ficará a a perder?

Perderão as equipas e os corredores. Para já, no ano de 2001 haverá menos provas, porque se perspectiva a não realização do Grande Prémio JN e do Grande Prémio Sport Notícias. Mas, mais do que as provas, corredores, equipas e patrocinadores perderão o apoio do maior órgão de comunicação do país.

Mas não há nenhuma possibilidade do JN voltar a pegar no ciclismo?

Estou convencido que, não tardará muito, o JN vai regressar à estrada. Não com estes dirigentes da federação, mas quando ela entrar no bom caminho. Aliás, convém sempre lembrar que não foi o JN que saiu. Foi a federação que correu com o JN!

O que poderá acontecer com os outros organizadores de provas?

A situação que se desenha não é para durar muitos anos. Não vejo como uma empresa espanhola, por muito prestigiada que seja, esteja muito interessada no desenvolvimento do ciclismo português. Eles querem é ganhar dinheiro, mas, com o ciclismo actual é impossível ganhar muito dinheiro.

Considera então que a Produção de Actividades Desportivas não tem futuro?

É muito difícil. De há 10 anos para cá, o núcleo dos grandes patrocinadores das provas velocipédicas é sempre o mesmo. Alguns deles retiram-se com a retirada do JN e os outros vêem com desconfiança a entrada de uma empresa que entrou na modalidade através de um processo que não garante credibilidade.

A Unipublic limita-se a dar apoio à PAD com gente de segunda linha. Esses não organizam provas melhor do que o JN, como aliás se tem visto neste dois últimos dois anos. As provas da PAD não são melhores do que as do JN. Além disso, em praticamente 20 anos de organização de provas, a Empresa JN nunca precisou de associar-se a estrangeiros para fazer as coisas bem feitas.

Não teme que a Volta a Portugal venha a ser promovida e que outros beneficiem disso?

A Volta já merecia estar em patamares superiores no calendário internacional. Essa é a convicção dos comissários da União Ciclista Internacional que nos visitam e têm acompanhado a prova. O problema é que nunca houve vontade da federação, pois tal situação não convinha aos seus dirigentes, sempre interessados em reduzir o número de dias da prova.

E se com os novos organizadores a Volta reduz o número de dias?

Não só reduzirá o número de dias, como, ao que tudo indica, mudará de datas. Ainda há pouco tempo era intenção da Unipublic deslocar a Volta a Portugal para Maio e fazê-la em apenas nove dias. Se isso acontecer, é a morte do ciclismo português.