Iberdrola e Endesa em luta "mano a mano"

Empresas espanholas querem sistemas de electricidade de vários países da América do Sul

Correspondente Em Madrid

Dezenas de milhões de pessoas na América Latina já gastam luz produzida por companhias que são propriedade ou participadas pela Endesa ou pela Iberdrola. As duas grandes companhias eléctricas espanholas estão decididas a transformar-se, entre as duas, em líderes do sistema eléctrico latino-americano. Já com forte presença no Chile, Argentina, Brasil e Peru, acabam de realizar três operações de envergadura.

O avanço destas duas empresas - uma pública e outra privada - está a processar-se num movimento paralelo ao que estão a desenvolver os bancos, as companhias petrolíferas e gasísticas e as sociedades de telecomunicações espanholas. O mercado eléctrico latino-americano é muito interessante, pois regista crescimentos anuais de oito por cento, enquanto se observa uma estagnação no mercado europeu. A Espanha é já o maior investidor da União Europeia na América Latina. No ano passado, investiu no continente 571 338 milhões de pesetas (685 milhões de contos), quase o dobro dos 297 538 milhões aplicados no ano passado.

A presença das duas companhias eléctricas recebeu um forte impulso nas últimas semanas, depois da assinatura de três novas operações. A mais importante delas foi a entrada da Endesa no grupo chileno Enersis, um conglomerado eléctrico actuante no Chile, na Argentina, no Peru e no Brasil, através do qual a companhia espanhola amplia as posições que já detém na Colômbia, República Dominicana, Venezuela, países da América central e França. A Endesa, controlada pelo Estado espanhol em 66,8 por cento e que será privatizada em 33 por cento no Outono, adquirirá as acções do grupo Enersis (29,04 por cento) até agora em mãos de cinco sociedades de carteira chilenas, chamadas Chispas, por 1500 milhões de dólares (282 milhões de contos), depois do qual passará a controlar o conselho de administração, com quatro dos sete assentos. É a maior operação de uma empresa espanhola no estrangeiro depois da compra da Telefónica do Peru pela Telefónica espanhola, que custou 2200 milhões de dólares.

A Enersis, dirigida por José Yurazseck, filho de emigrantes da antiga Checoslováquia e conhecido como o Zar da Energia, é considerada a maior companhia eléctrica do continente sul-americano. Vale mais de 900 milhões de contos e está cotada em Santiago do Chile e Nova Iorque. Conta com algumas das principais companhias produtoras de electricidade, como as chilenas Endesa, Pehuenche e Translec, as argentinas El Chocón, Costanera e Central Buenos Aires, a colombiana Betania e a peruana Edegel. Na distribuição eléctrica possui a Chilectra e Rio Maipo, no Chile, a Edesur, na Argentina, a Edelnor, no Peru, e a CERJ, no Brasil (em parceria com a Endesa e a portuguesa EDP).

Também a Iberdrola, mais actuante na área do gás do que a Endesa, devido à sua aliança com a Repsol, fechou uma importante operação na América Latina: a compra das empresas gasistas brasileiras Riogas e CEG, distribuidoras de gás no Rio de Janeiro. A compra efectuou-se em aliança com a Repsol e a Gás Natural.

A quantia da operação, que dá à Iberdrola o controlo das duas empresas, atingiu os 576 milhões de dólares (108 milhões de contos). As duas companhias cariocas têm mais de um milhão de clientes. A Iberdrola tem mostrado muita actividade compradora na área do gás. Recentemente comprou a Gás Natural Esp, de Bogotá, e participa na gestão, desde 1992, da empresa Litoral Gas, em Santa Fé, Argentina. No Brasil, ganhou recentemente a privatização da Coelba, a companhia de electricidade da Baía. A Iberdrola já mostrou a sua disposição para participar nas privatizações das três companhias eléctricas de São Paulo. Tal como a Endesa, a Iberdrola está presente em muitas companhias eléctricas da América Latina. Na Argentina, explora a central térmica de Guemes, no Chile, participa na Central Térmica de Tocopilla e na companhia eléctrica Colbún e está a construir duas centrais hidroeléctricas no rio Duqueco. Também possui as duas distribuidoras de electricidade de La Paz e Oruro, na Bolívia.

Ambas cresceram de forma espectacular nos últimos anos. A Endesa, com 1,29 biliões de pesetas de vendas (1548 milhões de contos) em 1996, é maior do que a Iberdrola, que facturou 822 000 milhões de pesetas (986 milhões de contos).