Há meia dúzia de anos, Bragança era uma cidade parada no tempo. A sensação, para quem deambulava por ruas e praças, para quem olhava para fiadas inteiras de casas, era a de lento apodrecimento. Parada e a apodrecer. Era assim Bragança, concelho e capital de distrito perdida no interior profundo, "vítima" do abandono e do esquecimento de Lisboa, sem forças, sem protagonistas e sem capitais para sacudir as desgraças da chamada "interioridade". Em meia dúzia de anos, as coisas mudaram muito. Para melhor. Bragança rejuvenesceu, ganhou confiança em si mesma, mudou de cara, ganhou novas infra-estruturas culturais, novos espaços públicos, viu respeitados, limpos e aproveitados para usufruto público cursos de água desprezados durante décadas.
O principal obreiro da mudança tem um nome: Jorge Nunes, social-democrata e presidente da câmara local. Ninguém contesta a sua capacidade realizadora, a sua iniciativa. Mas há quem lhe aponte defeitos vários, como o de ser demasiado permissivo relativamente à voracidade dos promotores imobiliários, ou de tratar de um modo leviano os formalismos legais e financeiros de projectos de grande envergadura e de investimento gordo. "Se é preciso fazer, faça-se, e depois logo se vê", pode ser uma das máximas que norteiam a acção política do autarca brigantino, que chegou a dar luz verde a projectos de milhões de euros sem garantias seguras de que seriam comparticipados por fundos europeus ou do orçamento do Estado.
Haverá quem encare este excesso de voluntarismo como uma irresponsabilidade. Haverá quem prefira respeitar escrupulosamente os formalismos legais e o equilíbrio das contas municipais, não arriscando um milímetro em ousadias que podem correr mal e comprometer equilíbrios orçamentais erigidos em fim último da gestão municipal. Ora, se é verdade o que garantiu Jorge Nunes às repórteres do PÚBLICO, a "irresponsabilidade" e "ousadia" da sua gestão levou a esta coisa extraordinária: a conta de gerência da autarquia de 2003 "evidencia uma redução de 20 por cento na dívida global do município", quando comparada com a de há seis anos. Como é possível conciliar isto com "o maior ciclo de investimentos de sempre" em Bragança? Perguntem a Jorge Nunes...
Uma piada, se for dita uma ou duas vezes, ainda pode ter alguma graça; mas se ela for repetida cinco, seis, sete vezes até à exaustão, já começamos a rir-nos mais da pessoa que nos quer fazer rir do que da própria piada. A guerra entre Narciso Miranda e Manuel Seabra pela hegemonia no PS de Matosinhos está mais ou menos neste ponto, parecendo-se cada vez mais com uma anedota de mau gosto. Se, durante algum tempo, esse conflito político-paroquial ainda podia ser seguido com o mesmo entusiasmo mal disfarçado com que se acompanha o intrincado enredo de uma telenovela, agora provoca-nos o mesmo pasmo e incredulidade daqueles jogos de futebol em estádios sul-americanos em que acaba tudo à batatada. O que aconteceu na passada quarta-feira na lota de Matosinhos foi esclarecedor: duas hostes desavindas e alteradas a trocarem impropérios; Narciso Miranda ferozmente agarrado ao candidato do PS às europeias, como quem diz "Ele é meu e a mim ninguém mo tira"; Manuel Seabra, com um sorriso amarelo, a marcar território do outro lado; e, no meio dos dois, o pobre Sousa Franco, encontrão daqui, empurrão dali, à deriva naquele torvelinho de braços e ombros como uma traineira sem leme. Para desgraça dele, e constrangimento e vergonha de quem o submeteu àquela tortura, o homem viria meia hora depois, como todos sabemos, a sucumbir de um ataque cardíaco. E não há quem ponha ordem nisto? O líder do PS-Porto, Francisco Assis, já veio dizer que iriam ser tiradas ilações do que acontecera. Oxalá que sim. Agora se for para deixar estar a política local ao mesmo nível rasteiro em que tem andado, mais vale estar quieto.
Hospitais do Porto preocupados com aumento da procura decorrente do Euro
"Fizemos tudo o que era possível", diz a ARS
Gondomar aposta na prevenção contra fogos florestais
Equipas de crianças de toda a Europa acompanham estrelas do futebol
Câmara do Porto aproveita estagiários para diminuir custos
Festival de Teatro de Rua passou pela Feira
Ramaldense à espera da utilidade pública
População corta linha férrea em protesto pela morte de dois jovens
O segredo de Jorge Nunes e as lições da lota de Matosinhos