a chamada Universidade Livre ter explicações a 3500$ por mês para fazerem o 12.º ano?

Há pouco, em relação às características improvisadas deste 12.º ano, ao seu carácter selectivo e elitista e aos docentes que não têm qualificação para o serem, pois o Ministério da Educação e Ciência foi buscá-los às escolas como alunos, referi aqui a situação dos estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa. Acontece que na Faculdade de Letras passa-se a mesma coisa e até tenho aqui uma carta dirigida ao Conselho Científico desta Faculdade pela Direcção-Geral do Ensino Secundário - não é um facto das calendas, pois esta carta data de 19 de Janeiro de 1981 -, por necessidade de preencher o horário, em regime de horas extraordinárias, do 12.º ano e que diz a dado passo o seguinte: Assim, venho solicitar a VV. Exas. sejam informados os assistentes e os alunos do último ano da licenciatura de que existem horários nas seguintes disciplinas: Português, Francês, Inglês, Alemão, História e Filosofia.

Os interessados deverão contactar directamente com as comissões instaladoras das escolas secundárias das cidades universitárias dos Olivais ou de Belém.

Isto é um ensino profundamente improvisado, elitista, que não tem outro objectivo a não ser seleccionar e impedir que os filhos das classes trabalhadoras tenham acesso à universidade. Não reconhecer isto é mitigar uma realidade que entra pelos olhos dentro.

Vozes do PCP: - Muito bem!

O Sr. Amândio de Azevedo (PSD): - Ó Sra. Deputada!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Deputada Amélia de Azevedo.

A Sra. Amélia de Azevedo (PSD): - Queria dizer à Sra. Deputada Zita Seabra que se aponta o exemplo dos alunos que vão frequentar o 12.º ano pana a Universidade Livre da maneira como o fez, é porque não compreende que em Portugal há, por um lado, uma rede de ensino público relativamente ao 12.º ano e há, por outro lado, quem queira ou possa frequentar o 12.º ano na Universidade Livre. Mas isso é uma opção que as pessoas livremente podem tomar, porque a nossa Constituição estabelece que os alunos têm a liberdade de aprender,...

Vozes do PCP: - Ah!

A Oradora:-... têm a liberdade de escolher se querem frequentar a Universidade Livre, se os pais estiverem de acordo. Mas posso dizer-lhe também que a percentagem dos alunos que frequentam o 12.º ano num estabelecimento de ensino particular é extremamente baixa - já há pouco isso foi dito, mas a Sra. Deputada Zita Seabra não ouviu, possivelmente porque não estava com atenção.

Por outro lado, queria também referir, dado que a Sra. Deputada faz tanto escândalo pelo facto de o Ministério da Educação e Ciência anseie por encontrar professores que possam ministrar cadeiras para as quais há falta de professores - e não vá também culpar o governo da Avança Democrática pelo facto de não existirem professores para determinadas cadeiras -, que, como sabe, o processo de formação de professores é longo e é evidente que, se o governo da Aliança Democrática só está em exercício há meses, não pode ser culpado por essa carência de professores.

Eu não compreendo que a Sra. Deputada se escandalize tanto pelo facto de se ir buscar um aluno a uma faculdade pala ensinar o 12.º ano, que é o ano vestibular da universidade, e que tanto a Sra. Deputada como o seu partido não se escandalizem quando em faculdades - como, por exemplo, na Faculdade de Direito ou na Faculdade de Medicina - o ensino é grandemente ministrado por monitores.

Vozes do PSD: - Muito bem!

A Oradora: - Como e que se compreende essa duplicidade de critérios? Nuns casos, critica-se e diz-se que isso é uma aberração no sistema educativo; noutros, defende-se e acha-se inteiramente normal.

Aplausos do PSD, do CDS e do PPM.

A Sra. Zita Seabra (PCP): - Mas ninguém defendeu o ensino ministrado por monitores!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Damião.

O Sr. Mário Damião (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Em primeiro lugar, queria dizer à Sra. Deputada Teresa Ambrósio que a palavra interpelar vem do latim interpelar, que, precisamente, quer dizer interpelar, interrogar. Mas eu não vou interpelar a Sra. Deputada. Vou dar respostas à sua intervenção e, ao mesmo tempo, fazer-lhe algumas perguntas.

A Sra. Deputada, na sua intervenção, serviu-se do seguinte dito popular: «Com papas e bolos se enganam os tolos - mas nós tolos não somos.» Nós também não, e vou responder-lhe com outro dito popular: «Palavreado e pão de padeira não enche barriga.»

Risos do PSD.