O Banco de Portugal, dentro das suas competências, tudo fará para que a transição para a moeda única seja tão suave quanto possível para os bancos portugueses. Estes, por seu turno, deverão começar a desenvolver um enorme esforço na formação dos seus quadros. Entretanto, pouco se deverá avançar "e nem para tudo há resposta" enquanto não for definido um "quadro jurídico preciso e seguro sobre a matéria". Estas foram as principais linhas de pensamento veiculadas, ontem, pelo prof. António de Sousa, governador do Banco de Portugal, e por João Salgueiro, da direcção da Associação Portuguesa de Bancos.

Os dois especialistas foram oradores convidados do seminário "O Euro e a Banca", promovido pelo Instituto de Formação Bancária (IFB). O encontro, destinado a quadros bancários pertencentes a áreas que prevejam significativos impactos com a introdução da moeda única, visou contribuir para o alargamento da discus são à volta de um tema que, inevitavelmente, comandará as estratégias de actuação dos bancos no início do milénio.

João Salgueiro, que abriu a sessão, começou por sublinhar que, embora por inventariar, "o sistema bancário português prepara-se para enfrentar o desafio que obriga, não apenas a uma reflexão estratégica, mas também a que se dê atenção a muitos aspectos operacionais".

Neste contexto, "foram já estabelecidos com Bruxelas e Frankfurt canais institucionais de reflexão envolvendo o Banco de Portugual, a Associação Portuguesa de Bancos e as instituições de crédito. Este trabalho tem permitido a simulação que facilita o treinamento para os países que estão dentro do sistema da moeda única e dos que ficarão fora desse sistema". Não obstante esta permuta de informações, continuou o mesmo responsável, "torna-se urgente generalizar o debate a todos os quadros bancários, alertando-os para o papel que lhes caberá na mudança que se vai operar".

Ao falar das perspectivas do Banco Central português relativamente à introdução do Euro, o Prof. António de Sousa considerou que "as mudanças que vão ter lugar no sistema de pagamento serão certamente mais difíceis nos países que estão muito centrados na própria moeda, como é o caso da Alemanha". Neste aspecto, de acordo com o orador, "Portugal ganhará alguns pontos, dado o relacionamento tradicional português com outras moedas, embora a questão concreta do contacto com os emigrantes portugueses possa vir a constituir um problema".

António de Sousa recordou que, nesta altura do calendário, é importante "não esquecer o pacto de estabilidade, que dá uma credibilidade maior a todo este processo. A nosssa política monetária não é muito diferente daquela que aparece no quadro geral aprovado. É intenção do Banco de Portugal durante este período adaptar algumas das suas formas". O governador do Banco de Portugal considerou haver aspectos que irão gerar ainda muita discussão. Por outro lado, há aspectos já muito claros, nomeadamente os que dizem respeito ao método de cálculo dessas mesmas reservas".

Os bancos começaram já a aperceber-se de todas estas implicações e estão a estudar como hão-de definir o seu procedimento estratégico. Este esforço será acrescido, uma vez que a banca deverá estar alertada "para uma concorrência ainda maior ao nível do crédito, porque a nova moeda permitirá uma maior internacionalização desta actividade. A própria troca de notas durante o período de três anos de transição (1999 até finais de 2002), será outra das questões a ser ponderada". O mesmo responsável admitiu que, nos próximos anos, "o contacto directo da banca com os seus clientes irá intensificar-se.

Teremos de estar preparados para responder às questões do cidadão comum. Por exemplo, as pessoas não especializadas irão querer saber, nos casos em que contraíram empréstimos a longo prazo, quanto irão pagar de amortização mensal. Aqui também irão surgir proble mas de contabilidade das empresas, enquanto o Euro for a moeda oficial mas ainda existir o escudo no período de transição. Por enquanto, nem para tudo há resposta. Antes de nos encaminharmos para qualquer tipo de análise, há que avançar na precisão e segurança jurídicas para, a partir daí, podermos dar informação específica. Para tudo isto terá de ser dispendido um grande esforço na formação de quadros a todos os níveis da hierarquia bancária", defendeu o governador do Banco de Portugal.