Depois da festa, a economia

Manutenção da vitalidade económica de Hong Kong é uma clara prioridade para o regime chinês. Grande parte dos investimentos taiwaneses no continente continua a fazer-se a partir da ex-colónia

A quebra ontem registada na Bolsa de Hong Kong, na primeira sessão realizada depois da transferência de soberania, deve ter causado alguma preocupação às autoridades de Pequim, pois a manutenção da vitalidade económica da ex-colónia britânica constitui uma clara prioridade para o regime comunista chinês. O índice Hang Seng, principal indicador da bolsa local, caiu 141,05 pontos, ou seja, uma quebra percentual de 0,9 por cento.

Quem se mostrou pessoalmente bastante optimista quanto ao futuro de Hong Kong como grande praça financeira asiática foi Henry Kissinger. O académico e antigo secretário de Estado norte-americano afirmou durante uma conferência no Mónaco que "a China teria demasiado a perder arruinando a economia de Hong Kong, reservatório de divisas estrangeiras, território portador da confiança ocidental e de grandes esperança de uma futura resolução da questão de Taiwan".

As relações económicas entre a China e Taiwan eram, aliás, um dos grandes temas abordados ontem pela imprensa chinesa. Apesar dos recentes apelos de Pequim para uma reunificação com a ilha nacionalista e da imediata resposta negativa de Taipé, a generalidade dos meios de comunicação dava como certo que os laços económicos entre as duas margens do estreito de Taiwan serão mantidos através de Hong Kong, como habitualmente.

A ex-colónia, restituída na terça-feira à China, verá "acrescido o seu papel de ponte nas trocas económicas entre o Fujian e Taiwan, mesmo que seja preferível ver a instauração de trocas directas entre as duas margens do estreito de Taiwan", afirmaram "funcionários e estrategistas" citados pela agência Nova China.

A província chinesa do Fujian, situada mesmo em frente de Taiwan, recebeu o ano passado 2,2 mil milhões de dólares de investimentos taiwaneses, dos quais 54 por cento via Hong Kong, precisou um responsável chinês. Por outro lado, 70 por cento das exportações taiwanesas para Hong Kong destinam-se na realidade à República Popular da China, sublinhou o mesmo responsável, durante uma reunião em Fuzhou, a capital provincial do Fujian, acrescentando ainda que, "após o seu regresso à China, Hong Kong pode facilitar os investimentos taiwaneses".

O presidente taiwanês, Lee Teng-hui, exprimiu igualmente o seu desejo de ver preservado o papel de Hong Kong como "porto de trânsito" para o comércio entre a sua ilha e o continente chinês. Numa entrevista concedida na quarta-feira à AFP, Lee Teng-hui excluiu, no entanto, a possibilidade de estabelecer "no imediato" ligações postais, comerciais e aéreas directas entre as duas margens do estreito.

Taiwan, separada politicamente do continente desde 1949, quando os nacionalistas derrotados na guerra civil se refugiaram na ilha, é o segundo investidor "estrangeiro" na China, depois de Hong Kong. Cerca de 35 mil industriais taiwaneses investiram até ao momento 30 mil milhões de dólares na República Popular da China, dos quais menos de sete milhões com a aprovação prévia das autoridades de Taipé, segundo números taiwaneses. No ano passado, o comércio indirecto entre as duas margens cifrou-se em 22,2 mil milhões de dólares.

Os elevados salários em Taiwan e a aposta local na indústria de alta tecnologia são as principais causas da transferência de vários sectores tradicionais, como os têxteis e o calçado, para o continente, onde a mão-de-obra é incomparavelmente mais barata do que na ilha nacionalista, um dos dragões asiáticos.

Ao contrário da liberdade económica, a liberdade política em Hong Kong deverá ser mais difícil de preservar. Um responsável pela polícia do território informou que a partir de agora todas as manifestações contra o regime de Pequim ou a favor das independências de Taiwan e do Tibete estão proibidas, pois representam uma ameaça para a segurança nacional. Essa proibição tem o fim de manter a ordem pública e não razões políticas, explicou, por seu lado, o comissário adjunto Keith Braithwaite.