e estudiosos. Reabilitou-se a "lei da rolha" e instaurou-se um clima persecutório. Neste contexto, não causa estranheza a criação da Inspecção-Geral da Cultura! Quererá isto dizer que vamos ter uma "polícia da cultura"?!

Sentindo que há atropelos às regras de convivência democrática, trabalhadores da Secretaria de Estado da Cultura anunciam, em carta aberta, a realização de uma vigília de luta numa igreja de Lisboa. Mas há, também, arbitrariedades e indecisão, demagogia e intimidação, recuos e avanços ao sabor da maré, numa evidente manobra de "lançar o barro à parede para ver se pega". A mudança radical de opinião do Secretário de Estado da Cultura, no intervalo de uma semana, no que respeita à integração do Instituto Português do Livro e da Leitura na Biblioteca Nacional demonstra bem a leviandade e arbitrariedade do processo de reestruturação da Secretaria de Estado da Cultura.

Vozes do PS: - Muito bem!

A Oradora: - O Governo recuou, e ainda bem. Mas o reconhecimento de um erro não absolve o pecador relapso. A alegada reestruturação dos serviços não é feita com base num estudo sério, nem assenta numa perspectiva cultural.

Deixo à reflexão da Câmara estas preocupações. Porventura a situação exigiria maior agressividade da minha parte. O Partido Socialista vai acompanhar com toda a atenção a evolução dos acontecimentos e exigir que os interesses partidários se não sobreponham ao interesse nacional.

Espero que o Sr. Primeiro-Ministro tire as devidas ilações deste movimento de contestação à actual política cultural e saiba agir em conformidade. Que é preciso inverter o rumo não é só uma evidência, é, acima de tudo, um imperativo nacional.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Lélis.

O Sr. Carlos Lélis (PSD): - Sr.- Deputada Edite Estrela, criticar é folgado e a discussão soma e segue. E benza-a Deus, Sr.! Deputada, pela sua intervenção. Benza-a Deus, em minha opinião, comum e vulgar, tem dois sentidos.

Um, que parece, tal como reagia a vossa bancada, um sentido de bem-vinda, wellcome on board, depois da travessia do PS. Mas outro sentido também: benza-a Deus, Sr.ª Deputada, por algum espanto, por alguma coisa, por tantos alertas, por tantas catástrofes.

Quanto ao primeiro sentido, wellcome on board depois da travessia, tenho de fazer agulha com outra intervenção do PS feita acerca de uma semana. O orador então de serviço mostrou bem que a nova palavra de ordem da bancada socialista é "confronto", como se já não chegasse a evidência vastamente demonstrada de que a oposição faz sempre caricatura, não faz retrato. E caricatura é sempre a traço grosso, acentua o mau, desfavorece o bom ou o quase bom; a caricatura não é retrato, não é ponto de situação, não é diagnóstico.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A oradora de serviço hoje foi azeda, o seu colega, há dias, tinha pretendido ser ácido. A oradora de hoje pôs também em fúria, o seu camarada tinha querido pôr força. A Sr.ª Deputada esteve mais próxima da ambição de Cícero quando o seu companheiro de bancada proeurou reviver Catilina.

Risos do PS.

Mas a ambos não lhes chegou, para esta missa, ou para esta missão, o arregaçar de mangas do vosso latim. A sua fonte de informações, aliás catastróficas, a sua esquina de informações excede muito o tamanho da minha rua.

O Sr. José Magalhães (PS): - Trouxe isto escrito?!

O Orador: - É verdade, Sr. Deputado. Rascunha-se. Aliás, o Sr. Deputado quando não intervém, e nós já temos saudades, acende o pisca-pisca dos apartes.

É uma posição!

Aplausos do PSD.

É uma forma de estar presente, e agradeço.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, atenção ao tempo.

O Orador: - Sr. Presidente, agradeço que faça algum desconto para perdão do Sr. Deputado José Magalhães.

O Sr. Presidente: - Se o Sr. Deputado permitir que o interrompam esse tempo será creditado na sua intervenção.

O Orador: - Sr. Presidente, agradeço a sua benevolência.

Contra as catilinárias por excesso, contra os bruxedos com efeitos milagrosos e mediáticos, o melhor é mesmo abrir o breviário. Nesta Casa de tenores, tenores como dizem, a Sr.ª Deputada é contralto, isto é, é contra quem está no alto, neste caso, da cultura, entenda-se!

Mas quem semeia ventos ...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, peço-lhe que conclua.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, peco-lhe para concluir.