Mas entendo que dentro do organismo social, vivendo uma vida de parasitismo, ha entidades que pretendem prejudicar altamente a vida do actividades que precisam de ser valorizadas, a bem do interêsse comum. E o que eu receio é que da intervenção do Poder resulte, não uma melhoria de situação para aqueles organismos que precisam de viver, e que merecem todo o apoio, mas um benefício para aqueles que levam uma vida parasitária.

A nota oficiosa vinda a público, tem êste aspecto inicial: Quem reuniu no Ministério das Finanças? Ninguém o sabe. E seria interessante sabê-lo, para se apreciar até que ponto podemos considerar as medidas que lá se resolveram adoptar. Se essas medidas foram unicamente da iniciativa do Govêrno têm um aspecto diferente daquele que teriam, se, porventura, essas medidas fossem correlacionadas com acções, que não com o próprio Estado.

Essa nota oficiosa, vaga e sem significado, pode inspirar confiança; porque se é certo que o Estado pode, em presença de um fenómeno complexo - mais complexo do que os complexos fenómenos químicos realizados em laboratórios - intervir como elemento de reacção, do seu papel pode resultar também uma acção caótica no sentido de inspirar confiança, não a quem a não merece, mas sim confiança naqueles que bem precisam dela.

Os grandes cataclismos têm, por vezes, as suas vantagens, as quais não sei, neste momento, apreciar, porque, de facto, ainda não verifiquei, sequer, um arremedo de cataclismo em Portugal.

O Sr. Vltorino Guimarães, a propósito da proposta que o Sr. Ministro das Finanças aqui apresentou há dias, sôbre a prorrogação do prazo de pagamento das contribuições, fez, em nome da maioria desta Câmara, algumas considerações fundamentalmente justas e verdadeiras, que ô necessário pôr em destaque: "que o Estado, nos seus momentos de crise, nunca contou com essas actividades que, agora em perigo, para o Estado apelam".

Apoiados.

Qual é a modalidade de assistência que vai fazer, ou que já fez, o Estado? Não sei.

Vi hoje na imprensa uma nota oficiosa, essa sabendo eu donde era originária, porque a. origem vinha claramente definida.

Diz ela:

"A crise bancária esboçada nos últimos dias na praça do Pôrto entrou em franco declínio.

As medidas tomadas já pelo Govêrno produziram os seus naturais efeitos, não tendo até delas carecido a grande maioria dos estabelecimentos de crédito".

Esta nota oficiosa que, decerto, traduz fielmente a verdade, e que será confirmada pelos factos que venham a desenrolar-se, veio, até certo ponto, esclarecer a primeira nota. No emtanto, nós continuamos sem saber até que ponto é que o Govêrno intervém.

Veio p arar-me às mãos um livro que hoje raramente existe nas estantes, O presente e o futuro de Portugal, de Augusto Fuschini.

Abri-o ao acaso e depararam-se-me algumas importantes notas sôbre a crise do 1891, e que ainda hoje são bem flagrantes.

Diz o Sr. Fuschini que, ao entrar para o Ministério das Finanças, o seu primeiro cuidado foi mandar fazer um inquérito sôbre os auxílios que pelo Estado eram prestados a alguns Bancos e companhias.

Quem observar os quadros que acompanham o trabalho do ilustre homem público verá o que representam, como fraqueza moral e cumplicidade por parte do Poder, êsses auxílios dados a entidades que mais tarde baquearam estrondosamente.

Oxalá, Sr. Presidente, que na intervenção já realizada e na que vier ainda a realizar-se, por parte do Govêrno, não tenhamos de registar acontecimentos similares àqueles que então se registaram.

Faço votos por que, por parte do Poder, haja o necessário cuidado e ponderação num assunto tam melindroso.

Ao Poder cabe a função de elemento catalítico, mas êle deve debelar o mal com o mínimo possível de responsabilidade por parte do Estado, e que, quando êste tenha de intervir, seja sob uma forma tam segura de garantia que nós tenhamos a