Veio de Praga o azar dos portugueses no Europeu. A selecção escorregou no golo de Poborski, mas pode dizer-se que soube cair de pé frente aos checos, nos quartos-de-final de uma competição em que a sorte só não lhe sorriu no mais difícil dos encontros.

Portugal esteve longe de rubricar em Villa Park uma grande exibição, mas o resultado tangencial de 0-1 bem podia ter sido diferente e melhor.

Os checos trabalharam muito, foram astutos e um só golo e muita sorte deram-lhes o lugar com que Portugal começou a sonhar muito cedo.

O excesso de confiança nos erros (não cometidos) dos checos redundou depois num desgaste muito grande para a equipa, que hoje regressa a casa, só porque voltou a falhar nos momentos capitais do jogo.

Ao futebol bonito e fluido dos portugueses apenas faltaram os golos na primeira parte. Se tal tivesse acontecido, decerto que esta história seria diferente.

A melhor estratégia do «onze» português e o seu forte pendor atacante não tiveram, porém, em conta o valor demonstrado uma vez mais pelo guarda-redes Kouba, que evitou sempre o pior para a sua equipa. Sobretudo aos 20 minutos, quando teve a sorte de o cabeceamento fulgurante de Fernando Couto lhe ir parar às mãos.

Intervenção decisiva teria ainda perante o remate algo denunciado de Sá Pinto, quatro minutos volvidos.

O avançado sportinguista, em boa condição física, pecou por alguma precipitação nos momentos decisivos - que foram muitos nesta primeira parte.

Os checos, que deixaram bem patente a sua melhor capacidade defensiva, raramente arriscavam no ataque.

Resguardados no meio-campo e sujeitos a duro trabalho, apenas num contra-ataque levaram o perigo às redes de Baía.

A jogar virado para o Sol, o guarda-redes português passou ainda por momentos de alguma aflição em lances de bola parada. Só que, aqui, também a cabeça dos portugueses foi mais rápida a pensar e a executar.

Menos pensado terá sido o esquema posto em prática.

A insistência nos lances pelos flancos não se revelava tão eficaz quanto os passes em profundidade para o corredor central.

Os checos podiam «adormecê-la», mas teriam grandes dificuldades para segurar Luís Figo - se este estivesse em melhor condição física - ou travar Sá Pinto, se, porventura, o mesmo tivesse mais calma e concentração nos momentos decisivos.

A selecção checa chegou a tremer, mas valia-se, na circunstância, do seu poder atlético para travar (quase sempre em falta) os médios atacantes de Portugal.

Oliveira procedeu correctamente ao tirar Sá Pinto e ao meter Domingos no eixo do ataque, mas o espaço jogável era cada vez menos, devido a uma marcação muito eficaz aos dianteiros portugueses.

O astuto técnico Uhrin não estava a dormir no banco. Prescindiu do reforço a meio-campo e fez recuar Bejbl para junto de Domingos.

Por outro lado, ordenou o avanço de Poborski e o golo surgiu, implacável.

Baralhado no sector defensivo com o surgimento de um ponta-de-lança, Portugal cometeu um erro de marcação, pago com um golo. Num belo lance, reconheça-se. Baía, muito adiantado, não teve tempo para recuar quatro ou cinco metros e evitar a entrada da bola na desguarnecida baliza portuguesa.

Com a entrada de Folha (Oceano foi o sacrificado), o ataque português tentou a pressão, mas os nervos atrapalhavam a manobra e a concretização tornava-se quase num pesadelo.

Oliveira ainda fez entrar Cadete, tirando o desgastado Figo.

E seria mesmo Cadete a desperdiçar a derradeira oportunidade de um empate, adiando a decisão para o prolongamento ou para os penalties.

Na zona frontal, Cadete saltou bem à bola cruzada por Folha, mas o cabelo deve ter-lhe tirado a visão do lance e o cabeceamento saiu torto. Um lance daqueles que o goleador sportinguista não costuma desperdiçar.

A ilusão chegava ao fim. Rui Costa, Secretário e Dimas atiravam-se para o relvado, desanimados. Hélder acenava, num adeus sentido para as bancadas, onde milhares de portugueses continuavam a aplaudir a selecção.

Todos souberam perder.

Villa Park, em Birmingham. Tempo quente.

CA: Hélder (11), Sá Pinto (40), Secretário (59), João Pinto (88); Suchoparek (1), Smicer (23), Latal (43), Bejbl (55), Kuka (69).

Golo: Poborsky (53).

Bertolino de Carvalho