Como as vontades, os tempos mudam as rivalidades.
Entre poveiros e "vileiros"
o passar do tempo
não apagou a tradicional rivalidade.
Mas acalmou os ânimos.
"Há mais civismo", sublinham os jogadores Emanuel e Luís Coentrão.
Augusto Correia
Fernando Timóteo
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Perto da vista, longe do coração. Assim se poderá definir o sentimento que divide "vileiros" e poveiros. Duas localidades geograficamente próximas mas que as rivalidades ao longo do tempo se encarregam de afastar.
São terras com grandes afinidades. Vivem maioritariamente da pesca e das indústrias relacionadas com a faina. De frente para o mar, voltam as costas aos vizinhos, mas todos os dias há enlaces e laços reforçados entre vila-condenses e poveiros. O estádio de futebol parece ser o local indicado para se exprimirem as rivalidades antigas, que metiam funerais simulados e pancadaria do arco da velha.
Hoje, tudo é diferente. "A rivalidade não vai acabar, mas as pessoas têm outra mentalidade e sabem que as coisas são diferentes", comentou Emanuel, um dos jovens jogadores do plantel vila-condense. Nado e criado nas Caxinas, tem no seu currículo uma passagem pelas "canteras" do "inimigo". Entre os seis e os 16, foi no Varzim que se iniciou no pontapé na bola. "Lembro-me que nas camadas jovens já havia uma grande rivalidade. São jogos especiais para os jogadores, daqueles que dá mais gosto jogar", recordou.
Para Emanuel, este é um daqueles casos em que a energia da bancada chega ao relvado. "O ambiente fora das quatro linhas é único, muito diferente de qualquer outro jogo e os jogadores sentem isso", comentou, dando como exemplo os dois jogos que ambas as equipas realizaram na pré-temporada. "Mesmo em jogos a feijões há mais virilidade nestes "derbies". O ambiente é mais quente e como ninguém gosta de perder há uma entrega muito maior, por isso este é um daqueles jogos que vale a pena assistir", recomendou.
Certo que um poveiro não quer perder com um vileiro e vice-versa, sustenta que nos tempos que correm, há que olhar primeiro para a classificação e depois para dentro do coração. "O mais importante são os três pontos. Temos consciência de que o Varzim tem uma boa equipa mas o Rio Ave tem as suas armas e vai jogar para ganhar", disse, salientando que "mais importante que ficar à frente o Varzim é a permanência na 1ª divisão".
No "BI", Luís Coentrão está registado como poveiro. Apenas uma questão burocrática de outros tempos. "Antes chamavam-me polaco, mas sou caxineiro e vileiro com muito orgulho", garante o jovem (20 anos) avançado.
As histórias das rivalidades antigas chegam-lhe de boca em boca, dos ditos dos avós e dos pais. Sendo um dos elementos mais jovens do plantel, tem uma perspectiva mais suave das rivalidades. "É muito diferente do que se passava antigamente em que não se podiam ver uns aos outros e havia sempre porrada".
Se o encontro é importante para os apaniguados de ambos os clubes, não é menos para os jogadores. "É um jogo especial para nós. Dada a rivalidade, é natural que haja uma ou outra jogada mais dura, porque o empenho é maior e depois com a raça de homens do mar às vezes as coisas aquecem", disse.
Na época passada, Luís Coentrão apareceu na equipa em final e temporada, com exibições convincentes e alguns golos que ajudaram a manter o barco a navegar. "Acabei a tropa já depois da época começar e isso atrasou a minha preparação. Há que trabalhar e aguardar pela oportunidade", comentou, "confiante nas potencialidades da equipa do Rio Ave para alcançar um vitória na Póvoa".
Seja qual for o vencedor, garantem os adeptos que não vai haver funerais a enterrar o rival. Isso é só fim da época, comentam os vila-condenses, garantindo que os poveiros têm lá um caixão pronto desde a última época. "Dão-lhe verniz todas as semanas para não ganhar caruncho", brincam.
Nada mais que b rincadeira. Que o diga António Serra. Poveiro e sócio do clube há três décadas, é frequentador do Estádio dos Arcos quando não há treinos ou jogos no Estádio do Varzim. "Até dizem que venho aqui buscar as tácticas. Mas é tudo a brincar. A rivalidade hoje é diferente e há mais civismo", sustentou, recordando, com a ajuda dos vila-condenses tempos mais duros, com insultos pancadaria e pedradas. Na conversa, ficou a saber o que é um polaco. "É um Caxineiro ou vileiro adepto do Varzim", explicaram os adeptos do Rio Ave.