As vezes, eu tenho intervindo para apaziguar paixões. V. Exa. sabe que um pequeno acto de um clérigo numa aldeia, da mesma forma que o praticado por uma autoridade administrativa, avoluma-se extraordinariamente. Mas V. Exa., Sr. Presidente, compreende que o Govêrno não tem outra missão que não seja a de respeitar a lei. A Igreja tem só a ganhar, com- a discussão serena das questões que lhe interessam, adentro das disposições das leis vigentes.

Era isto o que eu tinha a dizer, apesar do hábito do falar muito e não dizer nada; mas burro velho não aprende línguas e eu tenho a felicidade de ser compreendido pelas pessoas que me ouvem.

O Sr. Pinheiro Tôrres: - Adivinham...

O Orador: - E V. Exa. é um deles.

O orador não reviu.

O Sr. Pinheiro Tôrres não fez a revisão dos seus apartes.

O Sr. Pestana Júnior: - Há muitos dia o que eu desejava tratar com o Sr. Presidente do Ministério um assunto que interessa à política geral do Govêrno; mas V. Exa. e a Câmara hão-de permitir-me que eu levante algumas das palavras proferidas nesta casa do Parlamento pelo ilustre Deputado e meu amigo Sr. Pinheiro Tôrres.

Sr. Presidente: Carece que desde ontem se abriu nesta casa uma luta sôbre assuntos religiosos, mas eu, Sr. Presidente, desde já declaro que não aprovo o direito de personalidade jurídica da Igreja, cujo projecto se vai apresentar na sexta-feira à discussão, e faço isto com a convicção clara de que como português e como democrata até presto um serviço à Igreja e às confissões religiosas.

Quem será o Dante que cantará esta luta.

Sr. Presidente: eu sou um jacobino primário e depreciativo daqueles a que se referiu o meu amigo Sr. Pinheiro Tôrres, mas devo dizer que todos aqueles a quem está dado velar pela Nação, não podem permitir que à Igreja seja dado semelhante previlégio.

A Igreja já nas primeiras dinastias foi castigada; foi castigada no tempo de D. Dinis, e nós agora não lhe havíamos de dar um feudo tal que ela se pudesse apoderar de tudo e que pelas suas confissões e sacramentos exercesse pressão sôbre a vontade de cada um, principalmente das mulheres.

É uma mentalidade de jacobino primário que assim pensa; mas em França os jacobinos foram as primeiras pessoas e homens de grande vulto.

Exposta a minha opinião singelamente, eu entrarei, Sr. Presidente, propriamente nos assuntos para que pedi a palavra, dizendo a V. Exa. e à Câmara que nos últimos dias li que uma das armas do nosso exército resolveu colectivamente inventar uma padroeira, a "Nossa Senhora do Ar".

Sr. Presidente: fui católico durante a minha mocidade, por isso que fui educado junto de pessoas que possuíam ideas católicas; porém devo dizer a V. Exas. que não conheço essa senhora.

No meu tempo de rapaz essa "Senhora do Ar" na verdade não existia.

Não me interessa a mim, Sr. Presidente, nem certamente interessa à Câmara, que os rapazes da aviação tenham inventado para sua padroeira "Nossa Senhora do Ar"; porém, o que é necessário é que a Constituição seja cumprida, e os regulamentos disciplinares não permitem que êles façam o movimento colectivo que pretendem fazer.

Isto, Sr. Presidente, vem provar mais uma vez o adormecimento em que nos encontramos, e a falta de princípios - e tanto assim, que, tendo eu dito nos Passos Perdidos a um amigo meu que viria para aqui tratar do assunto, êle me disse que melhor seria não tratar dele por ser irritante.

Não sei, francamente, que possa ser irritante o tratar-se aqui de um assunto que se prende com o não cumprimento da lei.

Não sei o que pensa o Govêrno a êste respeito, porém estou convencido de que Sr. Ministro da Guerra, que eu conheço como republicano e fiel cumpridor da lei, não poderá permitir essa manifestação colectiva.

Dito isto, eu chamo a atenção do Sr. Presidente do Ministério para o assunto de que me vou ocupar, qual é o que diz respeito ao delegado do Sr. Ministro do Interior no Barreiro, um velho guarda