a sua consciência, e, na idea de que bem servem a Pátria e a República, aqueles que são republicanos.

Mas, reivindico para mim igual respeito pelas minhas opiniões e o direito de votar conforme a minha inteligência mo indicar.

A questão, como está posta, não é já uma questão particular, de carácter pessoal ou partidário, nem mesmo de regime, mas sim uma questão de sistema.

É o próprio destino do sistema representativo em Portugal que se encontra em jôgo neste momento.

Nós não podemos, de maneira nenhuma, por mais que o queiramos fazer, adoptar uma atitude que possa significar a vitória do sistema parlamentar ultimamente seguido, porque, se assim procedêssemos, contrariaríamos a grave responsabilidade de ter deixado inutilizar neste País o sistema representativo pelo qual se regem as sociedades civilizadas do mundo.

Essa responsabilidade não a queremos, porém, nós assumir.

Perante essa atitude de violência, não produzimos, até agora, quaisquer palavras ou actos que dessem origem a conflitos aqui dentro, porque entendemos que é preciso procurar, sem violências, resolver esta embaraçosa situação que nos criaram e perante a qual nós não podemos transigir, visto que, se o fizéssemos, mataríamos o regime parlamentar nesta terra.

A questão é tam simples e tam clara, que chega a parecer insistência escusada o querê-la apreciar nos seus aspectos práticos e doutrinários.

Como é possível haver Govêrno, em qualquer Nação, sem haver uma maioria que delibere?

Como será possível constituir amanhã um Govêrno em Portugal se se estabelecer o princípio de que uma minoria, julgando-se possuída da melhor opinião, e julgando-se também representante exclusiva de toda a opinião nacional, utilize o fácil recurso da violência e do barulho, para impedir que a maioria delibere?

Amanhã - já aqui foi dito e não é demais acentuá-lo - renovado o Parlamento, o precedente ficaria vivo para incitar novas tentativas da mesma natureza.

E então, fossem quais fossem as modificações regimentais que se operassem - porque já aqui ouvi em conversas de carteira indicar uma solução para casos dêste género, a de só introduzir no Regimento da Câmara uma disposição que permitisse a expulsão dos parlamentares, que impeçam violentamente os trabalhos - fossem quais fossem as modificações, assistiríamos a espectáculos tristes como êste. Haveria Deputados que, se essas expulsões chegassem a ser um facto, fariam delas motivo para agitações políticas e sociais; e, embora, de momento, não conseguissem impedir a eficácia do regime parlamentar, sistematicamente repetiriam as suas atitudes de violência, porque a sua expulsão evidentemente nunca poderia ser definitiva.

Afigura-se me, por isso, Sr. Presidente, que é de tentar esta, porventura, ingénua tentativa que estou realizando e que as minhas palavras cairão bem, pelo menos no ânimo dos Srs. Deputados republicanos.

Afigura-se-me, sem com isto querer ferir os sentimentos republicanos das minorias que protestam, sem querer ser menos respeitoso em relação ao motivos que assim as levam a proceder, afigura-se-me, falando com toda a sinceridade, que essas minorias comprometem gravemente o prestígio da instituição parlamentar e, como reflexo, a própria República, que todos amamos.

E, por consequência, em nome de uma solidariedade política que deriva de sermos defensores do mesmo sistema político, solidariedade que deve reunir todos os republicanos, por mais variadas que sejam as posições parlamentares que os autorizem ou dividam, é em nome do próprio espírito da República que eu apelo para os Srs. Deputados das minorias que protestam.

Exprimam S. Exas. com inteira liberdade o seu voto; mas que me não impeçam de exprimir a minha própria opinião, porque, se mo impedirem, põem em risco a liberdade e eficácia da instituição parlamentar, mostrando que ela é uma instituição estéril, que para nada serve à vida do regime ou à vida da Nação.

Se não conseguir demovê-los em absoluto - porque é uma triste verdade aquela passagem do Alcorão de que "é mais fácil uma montanha mudar de sítio, do que um homem mudar de disposições" - se é certo que se trata de opiniões doutrina-