siderações que acaba de fazer, facultou-me o ensejo de produzir, perante a Câmara, algumas declarações sôbre a crise bancária que se desenhou no Pôrto.
Pretende S. Exa. esclarecimentos sôbre a primeira das notas oficiosas publicadas na imprensa, especialmente no intuito de saber, com clareza, quais as pessoas que comparticiparam nessa conferência, quais as medidas que foram tomadas e ainda quais os processos que se adoptaram para pôr essas medidas em execução.
No sábado, pela tarde, chegaram ao meu Ministério, vindas do Pôrto, certas notícias pelas quais constava que se tinha esboçado naquela cidade uma corrida, uma pequena corrida contra algumas casas bancárias.
Não se podia ainda avaliar, nem sequer conjecturar, a amplitude que essa corrida poderia ter, visto que, trabalhando todo o comércio bancário no regime da chamada "semanainglesa", fechando, por consequência, do meio dia para a uma hora da tarde, não havia tempo de saber se porventura se tratava apenas duma pequena pressão dalguns depositantes, que iam levantar os seus depósitos à ordem, ou se estávamos em face da ameaça duma verdadeira corrida aos Bancos.
Em todo o caso êsses prenúncios de alarme na praça não podiam ficar indiferentes ao Govêrno, e logo na segunda-feira, de manhã, realizou-se no meu Ministério uma conferência, a que assistiram o Sr. Presidente do Ministério e os representantes do Estado junto do Banco de Portugal, que são o governador e o secretário geral.
O Estado teve de encarar a situação na previsão de que viessem a dar-se acontecimentos idênticos aos de 1914. E como o que é prudente nestes casos é naturalmente prever os piores acontecimentos e procurar evitá-los na medida do possível, o Govêrno estudou as medidas que deveria adoptar, se naquele dia, de facto, uma corrida se fizesse contra as casas bancárias do Pôrto.
O Govêrno não esqueceu que entre as casas bancárias há a distinguir as que merecem o auxílio do Estado, pela correcção com que tenham procedido em todos os transes, e aquelas que se tenham envolvido em manobras condenáveis de especulação, e que, tendo feito ou actualizações precipitadas ou imobilizações inoportunas, estejam a braços com uma crise que apenas deve atribuir-se à sua pouca previsão ou má administração.
Por isso mesmo, o Govêrno viu, desde logo, que a assistência que teria de prestar à banca portuense - ou à banca lisbonense no caso de também dela precisar- devia ser feita por intermédio de quem conhecesse bem a situação das duas praças, e essas entidades só poderiam ser ou o Banco de Portugal ou a Caixa Geral de Depósitos, mas especialmente o Banco de Portugal, que, melhor do que ninguém, conhece a situação.
Nestas condições, o Govêrno, em qualquer atitude que viesse a assumir para desempenhar o papel de elemento catalítico na crise, tinha de actuar, não directamente, mas por intermédio do Banco de Portugal.
O Govêrno entende-se com o Banco de Portugal para saber quais as casas que merecem assistência e avaliar o crédito a conceder-lhes; isto é, o Banco responde para servir o Estado.
O patriotismo do ilustre Deputado pode estar acalmado, que o Govêrno será informado do bom e do mau, pois a entidade mais apta para informar será o Banco, que o Estado torna responsável.
Esta intervenção do Estado já tem produzido benefícios.
Uma casa no Pôrto suspendeu pagamentos, mas essa casa tem muitos e grandes valores.
Outra casa suspendeu pagamentos, mas já recomeçou as suas operações. - A nota oficiosa do Govêrno começou a produzir os seus efeitos. É preciso tomar todas as cautelas para não ferir os interêsses da nação.
Essa nota caiu tam bem que já ontem na cidade do Pôrto houve serenidade e deixou de existir qualquer pressão sôbre as casas bancárias da capital.
O Govêrno procede sem precipitação, cumprindo o seu dever, auxiliando a economia nacional sã, acautelando os interêsses do Estado.
Quanto ao acordo com a Alemanha, transmitirei ao Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros as considerações do ilustre Deputado.
Aproveito estar no uso da palavra para mandar para a Mesa uma proposta de