Xavier Rosário

Populares de Vila Chã impediram ontem a realização da única missa dominical na aldeia. Empunhando cartazes contra o pároco, não deixaram o sacerdote entrar na igreja e garantem que voltarão a fazer o mesmo, até o padre ser transferido. Queixam-se que o padre tem «dividido famílias», que «só pensa em dinheiro para a sua obra, que nega comunhões, que acabou com festas e que mistura política com religião». Perante o JN, o sacerdote alegou ter «muita pressa» e negou qualquer esclarecimento.

Uma parte da população de Vila Chã não permitiu ontem que o padre Brito rezasse a missa das 8. Apesar de estar ainda escuro e de estarem a cair umas pingas de chuva, os manifestantes colocaram-se à porta da igreja e impediram a entrada do padre.

Empunhando cartazes com as inscrições «Fora com o Saddam», «Este pároco não é democracia», «A igreja é de nós todos» e «Fora com o Brito», homens, mulheres e jovens de ambos os sexos conseguiram que o sacer dote recuasse e se abrigasse numa casa do outro lado da rua e, mais tarde, partisse no seu automóvel.

Os manifestantes criticam o comportamento do padre e pretendem que seja «erradicado já hoje» da aldeia.

Os habitantes de Vila Chã expuseram a sua vontade ao bispo de Braga e ao arcipreste de Esposende, mas até agora «nada mudou, a não ser a indicação que o padre teve para retomar a festa de S. Lourenço, no ano passado, depois de ele ter acabado com ela».

Segundo os populares, o padre Brito já estava à frente da freguesia de Antas quando, há cerca de três anos, passou também a ser responsável pela a de Vila Chã.

De então para cá, uma parte dos habitantes desta freguesia têm vindo a responsabilizar o sacerdote pela «extinção dos escuteiros», pela «interrupção da actividade, durante dois anos, da banda de música» e de ter «acabado com as festas».

Dizem que, quando foi obrigado a retomar a festa de S. Lourenço, «não aceitou a comissão fabriqueira instituída segundo a tradição».

No entender dos manifestantes, o padre Brito «ignorou a lista de mordomos que lhe foi apresentada pela comissão cessante e, para espanto de todos, em plena missa leu os nomes que constavam numa outra lista que ele próprio fez, segundo as suas conveniências políticas, uma vez que é assumidamente PSD».

Por isso, lamentam que tivesse havido, no ano passado, duas comissões (a tradicional e a «eleita» pelo padre) e duas recolhas de fundos num espaço de oito dias.

Nesse aspecto, há quem diga que a «comissão do padre chegou a recolher mais de mil contos e que ninguém sabe onde está o dinheiro».

Acusado de «confundir religião com política» e de ter estado «por trás da lista do PSD» para as últimas eleições autárquicas, os populares querem que o pároco «cumpra agora o que andou a prometer: ou o PSD ganhava ou ele se ia embora. O PSD perdeu (a favor do Movimento do Partido da Terra), ele agora que vá...» - insistem.

Os manifestantes acusam também o sacerdote de ter recusado, no dia 2 deste mês, a comunhão a um doente, aquando da habitual visita domiciliária a acamados.

Dizem saber que os padres não são obrigados a dar a comunhão àqueles que vivem maritalmente, mas garantem que, neste caso, «o único registado até hoje, existe uma retaliação» porque o filho do doente fazia parte da Junta, pelo Partido da Terra.

Nesse sentido, recordam que o pároco «tem baptizado crianças, filhos de casais que também não estão casados, mas que dão aos 20 e 30 contos para as obras da igreja».

A falta de entendimento entre populares e o padre Brito já esteve na origem de uma cena de pancadaria na Festa do Menino (Dezembro de 96) e levou o pároco a proceder judicialmente contra quase 30 paroquianos.

Antevendo o que iria suceder ontem, o JN deslocou-se ao local anteontem à tarde e pretendeu contactar o padre Brito. Após a missa das 17 horas, entrou na sacristia, onde o pároco tirava os paramentos e se preparava para abandonar as instalações.

O padre Brito explicou que tinha «muita pressa», que tinha afazeres importantes que até o tinham levado a antecipar para as 17 a habitual missa das 18, e que não podia esperar nem os «três ou quatro minutos» que o JN lhe solicitava. Recusou-se igualmente a indicar o seu número de telefone para um posterior contacto.