Elisa Ferreira inaugurou as estações de Serzedelo e Rabada que tratam 15 mil metros cúbicos de esgotos por dia
Armindo Cachada
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Com a inauguração das estações de tratamento de águas residuais de Serzedelo (Guimarães) e de Rabada (Santo Tirso), pela ministra do Ambiente, Elisa Ferreira, arrancou ontem oficialmente o processo de despoluição da Bacia do Ave, que deverá deixar completamente limpas as águas deste rio e dos seus afluentes até ao ano 2000. A sistema está a já a receber e a tratar um caudal de 15 mil metros cúbicos (m3) de esgotos por dia, provenientes de 19 empresas, que receberam das mãos de Elisa Ferreira um "Certificado Ambiental". Este documento permitir-lhes-á competir nos mercados internacionais mais exigentes, onde a condicionante ambiental é condição de entrada.
O sistema integrado de despoluição do Vale do Ave (SIDVA) é o maior, o mais ambicioso e o mais sofisticado sistema de tratamento de águas residuais jamais construído em Portugal. A ministra salientou que "se trata da melhor tecnologia que há neste momento no mercado" e que só os "velhos do Restelo" é que têm sempre algo a criticar. "Esta estação de tratamento, embora com muita tecnologia portuguesa e estrangeira, foi feita por portugueses e serviu já para ganhar um concurso em França. É o "Rolls-Royce" das "ETAR" e o melhor que há para o tratamento de esgotos" - afirmou.
Até ao momento entrou apenas a funcionar a primeira fase do SIDVA, com 35 quilómetros de interceptores e duas centrais de tratamento, abrangendo o chamado "núcleo duro" de poluição da Bacia, nos concelhos de Guimarães, Santo Tirso e Famalicão. O sistema arrancou com as águas residuais de 19 empresas, mas o caudal que estas debitam representa já 50% do total da Bacia a reciclar.
A terceira ETAR do SIDVA, localizada em Agra, no concelho de Famalicão, ainda não entrou a funcionar, por não estar concluído o emissário para a descarga, o que deverá acontecer até Novembro, altura em que terá afectada cerca de 20% da sua capacidade. Até ao final do ano estarão igualmente afectadas 80% da capacidade da ETAR de Serzedelo e 50% da ETAR de Rabada.
Entretanto, deram já entrada na AMAVE requerimentos para a ligação de mais de 10 mil m3 de esgotos por dia, estando também em fase de execução outras ligações em áreas mais afastadas da primeira fase.
O esquema de tratamento, até ao final do ano, será suportado conjuntamente pelo Ministério do Ambiente e pela AMAVE, tendo Elisa Ferreira assinado igualmente um "contrato de adaptação ambiental" com as associações do sector Têxtil (Tecelagem e Têxteis Lar, Malhas e Confecções, Têxteis e Vestuário), representando cerca de 700 empresas associadas. Este contrato destina-se a cobrir todas as unidades industriais que não estejam localizadas na área do SIDVA e que não pertençam ao subsector de lanifícios. Só a partir de Janeiro, quando estivar adjudicada a concessão de explor ação do sistema é que as empresas aderentes ao SIDVA passarão a pagar os custos de ligação, ainda não quantificados.
Em Serzedelo, a ministra afirmou não estar apenas a inaugurar a ETAR mas, sobretudo, a trazer os industriais ao cumprimento da legislação ambiental. "Estamos a fazer o mais difícil. Passar da execução financeira dos programas do Quadro Comunitário de Apoio para o cumprimento da lei. Passar do betão para a operacionalização" -disse, salientando que "sem a coragem e clarividência dos municípios da AMAVE a obra não teria sido construída, o que evidencia o papel-chave que o Poder Local pode assumir na defesa dos interesses das populações".
A segunda fase do sistema, que que deverá estar concluída até 1999, envolve a construção de uma nova rede de 80 quilómetros de colectores em vários rios e ribeiros da Bacia do Ave, num total de 12 projectos a adjudicar até ao final do ano. O processo de candidatura aos Fundos Comunitários, no valor de três milhões de con tos, deu já entrada em Bruxelas.
O projecto do SIDVA foi elaborado em 1986 e as obras da primeira fase foram iniciadas em 1991, tendo sido gastos até ao momento, na despoluição do Ave, cerca de 12 milhões de contos.