Recordei-me desta frase de Aristóteles, desde logo, em razão da onda de assaltos, sem consequências para os infractores, que está a atingir a área metropolitana de Lisboa. Mas, em prisma totalmente diferente, lembrei-me da frase a propósito da urgência da designação de um novo seleccionador nacional de futebol. Com efeito, é importante uma decisão em relação àquele que vai participar na «Cidade futebol», ou seja, que vai ser a cabeça do projecto técnico da Federação Portuguesa de Futebol. Este projecto deve ter um âmbito temporal de verdadeira legislatura ou, se quiserem, de autêntico ciclo olímpico. É um projecto que tem como destino imediato a presença da nossa principal Selecção no Mundial de 2002, ou seja, no Mundial do Japão e da Coreia do Sul. Mas é, ao mesmo tempo, um projecto que deve construir, com segurança, as estacas conducentes a uma presença digna na sugestiva linguagem do presidente da Federação, dr. Gilberto Madail uma presença vencedora! no Europeu de Futebo l de 2004, ou seja no Europeu que deve ser não só o da nossa exposição mundial mas também o do nosso contentamento futebolístico.

Ora, este projecto de legislatura exige que, à partida, o seleccionador seja o máximo denominador comum da tribo do futebol português e não seja, como em momentos anteriores ocorreu, um seleccionador que gere desconfortos pessoais, mesmo que estes, anos depois estejam semanticamente ultrapassados. Tem de ser um seleccionador que tenha um sentido prospectivo do futebol e não apenas um seleccionador que encare as atribuições como actos de gestão de recursos humanos muito valiosos. Tem de ser um seleccionador que pense todo o futebol português e, primacialmente, crie as condições para que tenhamos em 2004 um suficiente leque de recrutamento para a selecção anfitriã desse Europeu. Tem de ser um seleccionador que tenha a ousadia de denunciar as deficiências estruturais do nosso futebol e obrigue os diferentes agentes desportivos incluindo alguns dos mais sabidos dirigentes desportivos a reflectir acerca do estado actual do nosso futebol, da política de importações e, também, da urgência de uma verdadeira política de protecção quase de segurança! do jovem talento nacional. Tem de ser um seleccionador que lidere uma coerente equipa técnica e que se articule, de verdade e com total transparência de processos, com a estrutura dirigente da Federação que mais contacta com as diferentes selecções nacionais, particularmente as selecções de esperanças e a novel selecção B. Tem de ser um seleccionador imune a influências, sabedor das lesões de oportunidade, subtil nas convocações para os jogos particulares, ousado nas novidades, impiedoso na indisciplina ou na insubordinação táctica. Tem de ser um seleccionador que faça um pacto com os diferentes meios de comunicação social e que saiba sempre ler nas entrelinhas os avisos os alertas que necessariamente lhe serão enviados. Mas, não sendo imune a certas críticas, deve perceber que a concorrência contemporânea gera incompreensões e, acima de tudo, suscita perturbantes motivações.

E sabendo tudo isto e o muito mais que deriva da experiência que necessariamente possui deve estabelecer um verdadeiro pacto de regime com o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, a âncora estatutária e o actual poder real do futebol português. E esse pacto deve ser base para a alma de 2004, que deve nascer com a designação que urgentemente se deseja. E que não pode ser uma designação contratualizada nem decorrer de um processo de necessária substituição de treinador em funções. É como escreveu Leonardo Coimbra: «A vida é como é, e, por mais que se queira fazer do homem um teorema, ele será sempre uma alma, tendo a vibrar, no fundo do seu ser e em natureza primeira, um clamoroso e invencível apelo do infinit.» É esta busca de um infinito próximo que deve marcar o novo seleccionador nacional de futebol!